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Entrevista

Luís Amado. Sem estabilidade "há riscos muito maiores para Portugal"

05 nov, 2015 - 09:35 • Sérgio Costa , André Rodrigues

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros defende que a melhor solução para o país passaria por um entendimento entre os principais partidos, em particular PSD e PS. Nesta entrevista à Renascença, Luís Amado identifica um erro na estratégia da coligação ao renovar de imediato o acordo de Governo sem abertura aos socialistas.

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O Conselho de Ministros deve aprovar esta quinta-feira um Programa de Governo, ao que a Renascença apurou, com sinais de abertura ao PS. Do seu ponto de vista, qual seria a melhor solução para o país? É ainda possível um entendimento entre a coligação e os socialistas?

Acredito que seria uma boa solução para o país, mas está totalmente fora da realidade política nacional, face às circunstâncias próprias do momento e face à dinâmica que os diferentes partidos têm assumido. A questão que se coloca hoje é garantir - no quadro de uma situação muito crispada e numa bipolarização excessiva - a estabilidade possível que garanta a governabilidade do país.

E esse cenário de estabilidade é possível com um acordo à esquerda para quatro anos?

Teremos que ver, esperar pelo acordo, pelo programa e pela composição desse governo - se se vier a constituir - para decifrar minimamente o equilíbrio necessário para garantir a estabilidade para uma legislatura. Continuo a considerar que, face à natureza ideológica e programática dos actores em presença, face à experiência histórica na democracia portuguesa das últimas décadas, é difícil garantir um entendimento estável, coerente e consistente tendo em conta os desafios que temos. Nomeadamente os nossos compromissos europeus.

Há vozes que defendem que um entendimento entre a coligação e o PS garante total estabilidade, evitando, por exemplo, a hipótese ou a necessidade de um novo resgate. Partilha dessa opinião?

Eu acho que é muito difícil para o PS negociar com uma frente de coligação de direita. Acho que foi um erro que a coligação, não tendo tido maioria absoluta, tivesse tido necessidade de se renovar logo dois dias depois, confirmando esse acordo. Porque teria deixado alguma flexibilidade para entendimentos de outro tipo, designadamente com o Partido Socialista. Assim, face ao que é a posição das diferentes lideranças, parece-me muito irrealista admitir que essa grande coligação seja possível no contexto actual.

Agora, acho que o país precisava, de facto, de um governo de grande estabilidade para quatro anos. E por isso continuo a pensar como pensava em 2009 e em 2011 que os dois principais partidos fundadores do regime, que têm responsabilidades maiores perante a governação do país, se deviam entender sobre o que é necessário fazer para que o país progrida, cresça, fixe emprego e crie as condições para se manter na Zona Euro.

Com a ausência desse entendimento, há risco de Portugal regredir, voltar a um cenário dramático, correndo até o risco de ter que pedir um novo resgate?

Não havendo estabilidade, seguramente que há riscos muito maiores para Portugal. Por isso a estabilidade é um ponto fundamental para qualquer compromisso de governo. Também é verdade que um governo maioritário da coligação de direita - se vier a ser confirmado - não pode, neste momento, garantir a estabilidade a prazo. De facto, o país precisava de estabilidade porque nós estamos num mundo muito perigoso. A situação internacional está a degradar-se rapidamente, a situação europeia é dramática em muitos aspectos. E temos de ver a erosão que esta crise dos refugiados vai provocar na integração europeia.

Neste quadro de instabilidade, o eurodeputado do PSD Paulo Rangel já defendeu uma solução de iniciativa presidencial e apontou o seu nome como possível primeiro-ministro.

Mas eu acho que o país não precisa de uma solução desse tipo. Será uma solução fraca, temporária que não garante a estabilidade do ponto de vista da relação com o Parlamento que é o centro do poder representativo da democracia portuguesa. Portanto, essa é uma solução num cenário puramente virtual. O que está em causa é, de facto, garantir que se encontra uma fórmula política que, no curto ou no médio prazo, garanta a estabilidade, mais certeza, mais previsibilidade. Porque, se isso não for possível - sobretudo neste contexto tão volátil que enfrentamos - o país vai sofrer necessariamente mais agruras do que aquelas que sofreu ao longo dos últimos anos. É, portanto, nesse sentido que defendo hoje a estabilidade como valor absolutamente extraordinário para Portugal.

Comentários
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  • morabe
    06 nov, 2015 gondomar 15:18
    caro PS, alguma vez, quando representado pelos Mario Soares, Guterres e mesmo Socrates, admitiste acordos com PCP e ou BE...! que se passa contigo? Não basta o quanto mal já fizes-te à Economia Nacional: Barragem de Foz Coa, SCUTs (portagens), etc.? Era bom que fizesses acordar os teus lideres para que ponham os pés no chão e a cabeça na realidade que o País atualmente tem pela frente.
  • Joana
    05 nov, 2015 Lisboa 23:02
    Pois parece cada vez mais evidente que o nervosismo está à esquerda. Embora eu continue a acreditar que o acordo dos partidos da frente de esquerda tem de surgir, nem que seja uma coisa muito tíbia. É que António Costa já não tem recuo. Foi longe demais. Todos eles, PS, BE e PCP já foram longe demais. Os deputados da linha de António José Seguro vão, estou convicta, respeitar a disciplina de voto. O Governo da Coligação será derrubado. E aí começa o calvário de Costa e do PS. E é precisamente isso que Francisco Assis, Álvaro Beleza e outros, inteligentemente, querem evitar. Mas não o conseguirão. As opções feitas por António Costa terão de ser levadas até às últimas consequências, e as fissuras deste acordo vão surgir, sem demora. Porque as diferenças abissais entre estes partidos permanecem intocadas, por mais que Costa e Catarina (sobretudo eles) tentem fazer crer que não. Entretanto, e nesta dança frenética pelo acordo que nunca mais ganha consistência superior a uma ameba, a Coligação demonstra uma calma notável, e já se prepara para a parte II desta guerra. Sem grandes alaridos, sem irritações. Quando for derrubada, acolher-se-à ordeiramente à oposição; mas venderá muito cara a circunstância de o Governo ter sido deposto. Tal como aprendi com o meu Pai militar, é nos momentos mais exigentes e difíceis que devemos manter nervos de aço. Tanto quanto já percebi, o Dr. Pedro Passos Coelho recebeu ensinamento idêntico. O que me deixa muito feliz, confesso.
  • Armador
    05 nov, 2015 Lisboa 21:11
    Este Luís "Armado" nunca me enganou, é um ressabiado, tresanda PPD por todos os poros!
  • Reformado
    05 nov, 2015 Lisboa 20:49
    Hó OSOUSADEVISEU será que afinal o esperto é o Costa que com toda esta jogada quer roubar eleitorado ao BE e ao PCP nas próximas eleições????????????????????????? O Costa e os ligados a ele não têm feito outra coisa que o expresso pela voz do povo quando diz: "Dão uma no cravo outra na ferradura" Há 15 dias havia acordo mas agora afinal ainda não está assinado.
  • João Silva
    05 nov, 2015 S. João da Madeira 13:49
    Que lamentável comentário de Luís Amado...
  • JP
    05 nov, 2015 Lisboa 13:06
    O centrao na opinião do sr que andou calado tanto tempo disse. O centrao era bom para o país e para o BANIF digo eu.
  • Rui
    05 nov, 2015 Lisboa 12:57
    Este Sr. é Administrador do BANIF, não é?
  • E o nervosismo está
    05 nov, 2015 Portugal 12:42
    Na esquerda. Vêm para aqui comentar ultra-revoltados com quem defende um entendimento ao centro pois já perceberam que o acordo à esquerda é uma balela. O sr. Costa anda a brincar às políticas e a brincar com o país. Tenha vergonha, sr Costa e vá para onde deve ir: para a sala dos derrotados. Concordo com Luis Amado
  • X Tema
    05 nov, 2015 Maia 12:39
    Apesar de estar a meter muito ao bolso no BANIF, acho este sr muito sério. Dava um bom primeiro-ministro
  • Porconta
    05 nov, 2015 Porto 12:34
    A estabilidade é boa mas não pode ser a qualquer preço, e a meu ver o PSD e o PS nunca se aliarão neste momento pois durante quatro anos o PSD e o PP andaram a denegrir o PS de uma forma reles só porque lhes interessava deitar as culpas para todas as habilidades e arrogância na sua governação, não deixando margem de manobra para qualquer possível acordo, aliás todos vimos a forma arrogante como a direita foi para negociações com o PS até parecia que quem precisava do acordo para governar era o PS, e ainda não sairam da sua pose, agora senten-se todos ofendidos porque alguem se deu ao trabalho de os por na linha, por isso a meu ver PSD e PS só poderão aliar-se com outros intervenientes no comando ou pelo menos no PSD, quanto á aliança PS, BE, e PCP penso que não é nada que me preocupe, bem pelo contrário é melhor que a PaF.

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