08 nov, 2015 - 14:25
“Daqui a dois ou três meses António Costa se estiver na posição de primeiro-ministro terá de fechar um Orçamento de Estado. E verá que não bate certo”, é a tese de Daniel Bessa com base nas propostas tornadas públicas pelo líder do PS na última sexta-feira.
“Pode puxar pela coisa: pôr a economia a crescer um pouco mais. Isso dá mais receitas. Lá vai tentando fechar a conta, mas não vai conseguir. Em algum momento vai ter de concluir que vai ter de subir alguns impostos”, diz.
“Penso que isso é incontornável”, afirma o antigo ministro da economia no Conversas Cruzadas, deste domingo.
“Vou revelar interacção com António Costa”
“Eu não sei quem vai pagar e como vai pagar”, reafirma Daniel Bessa na análise aos compromissos acordados entre o Partido Socialista e os partidos à sua esquerda que poderão permitir viabilizar um eventual governo.
“Agora vou revelar aqui o resultado de uma interacção com António Costa. Porque ele se deu a esse trabalho. No final de Julho, na minha coluninha do Expresso, tirei o chapéu a uma afirmação que António Costa tinha produzido uns dias antes onde referia que a sociedade portuguesa tem um bloqueio.”, relata.
“Um bloqueio que resulta da forma como o país não se conseguiu integrar nas novas condições da economia global. Isto foi dito por António Costa que se referiu ao país como estando bloqueado por uma incapacidade de responder às novas condições da economia mundial. Isto é uma afirmação fortíssima”, indica Daniel Bessa.
“Estou completamente de acordo e exprimi-me de forma muito favorável. António Costa deu-se ao trabalho de me explicar, teve a condescendência – que seguramente não mereço – que esse ponto era uma constante do seu pensamento e já o havia referido em vários momentos. Teve até a atenção de me enviar vários documentos onde essa afirmação estava exarada”, afirma.
“Eu quero que me diga o que agora foi dito na SIC tem a ver com o bloqueio. Porque se o país está bloqueado e a razão era aquela incapacidade de resposta eu não sei o que o negócio com o Bloco e o PCP mudou em relação a este bloqueio”, sustenta Daniel Bessa.
“É ofender alguém chamar a atenção para a questão?”, indaga.
“Há um putativo primeiro-ministro que diz que o país está bloqueado e anuncia as medidas a que se comprometeu com os seus parceiros que escolheu o para governar. Eu quero que me diga de tudo o que ouvimos o que é que tem a ver com as condições que o bloqueiam no plano da integração na economia mundial? ”,é a perplexidade manifestada pelo director geral da Cotec Portugal.
“Virão por aí uns aumentos de impostos e não sei se chegará”
“A coligação – que ainda é governo – teria imensa dificuldade em cumprir o seu programa. Aliás já recuou. O programa de governo que vai ser discutido e derrotado na Assembleia da República recua em relação a alguns compromissos orçamentais”, prossegue Bessa.
“Portanto, a coligação teria imensa dificuldade. Se a coligação teria dificuldade o Partido Socialista teria mais. O cenário macro-económico que sustenta as posições orçamentais do PS está muito salgado”.
“Não vou dizer que são “contas de chegar” mas tem ali pressupostos só feitos para dar o resultado final de 3%. Agora ao incorporar propostas do Bloco de Esquerda e do PCP está ainda em maior dificuldade. Só ó vi anunciadas medidas que reduzem receita e aumentam despesa.
“Achei interessante que António Costa tenha dito: ‘o compromisso com os meus parceiros é este’. Ou seja, eu comprometo-me com os meus parceiros a aumentar despesas e reduzir receitas e depois, fica do meu lado a obrigação de garantir a consistência destes números”.
“Sinceramente não sei como vai ser feito. Suponho que, em parte, vá sobrar para mim: virão por aí uns aumentos de impostos e não sei bem se chegará”, afirma Daniel Bessa.
“Banca em situação complicada”
Com um programa PS baseado no aumento do consumo interno e no crescimento da despesa privada e pública que poderá desequilibrar as contas com o exterior, há também incertezas à volta da desaceleração das economias de Angola e Brasil. Incontornável é também o cenário da banca portuguesa. Necessidades de aumento de capital poderão ser confirmadas dentro de dias na divulgação dos resultados dos testes de stress. Daniel Bessa diz tratar-se de uma situação “complicada”.
O ex-ministro da Economia do PS diz que “a dificuldade anunciada para a banca portuguesa é uma boa parte das instituições serem obrigadas pela Europa a aumentos de capital. Não se vê bem como é os actuais accionistas poderão fazer esse aumento”.
“A minha tese é que, depois de Chipre, não haverá mais aumentos de capital com a intervenção da banca europeia sem que os depositantes, de uma forma ou de outra, não sejam obrigados a participar nesse processo”, acrescenta.
“Leia-se: tal como aconteceu em Chipre algum tipo de transformação de depósitos em acções dos bancos. Essa é a que é a questão mais sensível. Em causa os depósitos acima de 100 mil euros, para isso existe o fundo de garantia”, relembra Daniel Bessa.
O presidente da Cotec afirma que esta questão é complicada. "Custa-me acreditar que seja possível uma intervenção pública que proteja a totalidade dos depósitos. Uma nova intervenção pública. Porque já houve”.
“Continuo a achar que é preciso uma opinião pública muito informada para se resistir a movimentos como estes que apelam basicamente ao populismo e ignorância”, adverte o ex-ministro.
“Só uma opinião pública muito informada é que consegue perceber a situação de necessidade em que o país se encontrou e que determinou as medidas que foram impostas”, sublinhou Bessa
"A situação de necessidade que não terminou e que continua a exigir extremo cuidado", finalizou.