A antiga dirigente comunista Zita Seabra entende que o acordo de governação à esquerda resulta de "uma mera ambição de poder" e antevê "um governo muito frágil".
A também ex-deputada do PSD acredita que PCP e Bloco de Esquerda vão respeitar os compromissos assumidos com o PS, mas não acredita da durabilidade do governo, por força do choque com a realidade que terá de enfrentar.
Nesta entrevista à Renascença, Zita Seabra deixa ainda a "profecia" de que a "troika" estará de volta dentro de um ano.
Como será um Governo socialista, com apoio parlamentar do PCP e Bloco de Esquerda?
Creio que vai ser um Governo muito frágil. Aquilo que se vê, anunciado pelo PS, PCP e Bloco de Esquerda, é uma série de medidas que não são fiáveis nem possíveis, porque a realidade é o que é e os números são o que são. É esta a realidade que vai bater neste Governo.
Conhece o PCP. O partido teve que colocar algumas questões que considera essenciais "na gaveta". Parece-lhe que o PCP poderá, em algum momento, fazer cair este Governo?
Eu acho que isso não se vai colocar assim. Vai-se colocar, primeiro que tudo, o problema da TAP e o problema do défice. E é essa realidade que vai bater num Governo que está a fazer promessas, como a subida do salário mínimo e a redução do IVA, que não são possíveis nem reais. É apenas uma mera ambição de poder. O PCP vai-se defrontar com isso. É um partido tipicamente sindical. E o que vai acontecer à TAP? Preocupa-me imenso. São milhares de trabalhadores que lá trabalham e que vão ficar numa situação frágil.
António Costa não estaria mais seguro se tivesse, no próprio Governo, elementos do PCP e do Bloco de Esquerda?
Eu tenho ideia que o compromisso desses partidos era maior se estivessem no Governo, obviamente. Estando de fora, podem responsabilizar mais facilmente o Partido Socialista.
O PCP e o Bloco de Esquerda poderão vir a não cumprir essa palavra dada a António Costa?
E o próprio Partido Socialista também não. Eu acho que o Governo vai cair muito em breve. Mais breve do que aquilo que eu tenho visto, porque não é uma questão de palavra. Este Governo não é sólido. Vai cair, já que está assente em "pés de barro". Tenho muita pena, porque daqui a um ano, vai estar cá a troika outra vez.
Cavaco Silva tem alguma alternativa para não indigitar António Costa?
Eu penso que não tem, mas creio que o futuro Presidente da República vai ter como primeira tarefa dissolver a Assembleia.