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O que Cavaco pede e o que Costa pode dar

23 nov, 2015 - 16:18 • Eunice Lourenço

O Presidente tem "dúvidas" sobre as garantias dadas pelos acordos à esquerda. Analisamos cada uma das seis condições impostas ao líder do PS.

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1 – Aprovação de moções de confiança

Segundo a Constituição, “o Governo pode solicitar à Assembleia da República a aprovação de um voto de confiança sobre uma declaração de política geral ou sobre qualquer assunto relevante de interesse nacional”.

Os acordos com a esquerda nada dizem sobre moções de confiança, que só podem existir por iniciativa do Governo. Ou seja, poderíamos concluir que o PS não apresentará moções de confiança para não pôr em causa os acordos e não provocar os seus parceiros. E até pode não colocar o programa de governo a votos.

PSD e CDS irão colocar, certamente, uma moção de rejeição, mas aí há acordo para que seja rejeitada. Já quanto a moções de censura não há propriamente garantias. O que os documentos assinados à esquerda dizem é que moções de censura, venham de quem vieram, serão examinadas “em reuniões bilaterais que venham comummente a serem consideradas necessárias”.

Ora, o Presidente não se contenta com uma inexistência tácita de moções de confiança e quer saber o que acontecerá.

2 – Aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016

Os documentos assinados estabelecem a “disposição recíproca” dos partidos que os assinam para “encetarem o exame comum quanto à expressão que as matérias convergentes devem ter nos Orçamentos do Estado”.

Ou seja, não há qualquer garantira prévia de aprovação de Orçamentos do Estado. O PCP tem mesmo dito que não dará tal garantia sem conhecimento da proposta – o partido de Jerónimo de Sousa não dá “cheques em branco”.

O Presidente, que tem pedido garantias de estabilidade, acentua, contudo, a aprovação “em particular” do Orçamento para 2016, que é o único que fica dentro do seu mandato, que termina a 9 de Março de 2016. Ou seja, facilita a tarefa a António Costa, que não teria forma de garantir a aprovação de todos os orçamentos da legislatura.

3 – Cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária

Neste ponto, o Presidente terá, provavelmente, de contentar-se apenas com a palavra do PS, que tem dito que não coloca em causa nenhum dos compromissos europeus de Portugal.

Tanto o PCP como o Bloco de Esquerda consideram que todos estes compromissos deviam ser, no mínimo, ignorados. O PCP defende, inclusive, a saída de Portugal da zona euro.

4 – Respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;

Acontece o mesmo que na condição anterior. Ou o Presidente se contenta com o compromisso do PS ou não há forma de cumprir esta condição.

5 – Papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;

Esta foi uma preocupação manifestada por todos os parceiros sociais, à excepção da CGTP, que prefere tratar dos assuntos laborais de forma bilateral com o Governo. Todos os outros, UGT incluída, não gostaram de ver o PS a negociar com o PCP directamente matérias como a fixação do salário mínimo ou a reposição dos feriados, ambas matérias de concertação social.

António Costa fica entre a espada e a parede: se se compromete a respeitar o papel do conselho permanente de concertação social, como o Presidente quer, irrita o PCP, que não quer “deixar nas mãos dos patrões” as matérias laborais.

6 – Estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.

Cavaco Silva está muito preocupado com as fragilidades que ainda existem no sistema financeiro, em particular com a situação do Novo Banco e os efeitos que tem na restante banca, que está comprometida no fundo de resolução.

António Costa nunca disse claramente o que pretende fazer com o Novo Banco e tem a apoiá-lo três partidos que defendem a nacionalização da banca como solução para todos os problemas.

Comentários
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  • SERGIO
    24 nov, 2015 TAVARES DA CUNHA 08:53
    Não escondo o meu descontentamento com a Presidencia do Prof Dr Anibal Cavaco Silva, eu que fui e sou um assérimo defensor deste, é com alguma tristeza que analiso a sua Presidencia, ou seja a ausência dela. Em nenhum momento dos ultimos anos vividos pelos Portugueses, nunca se ouviu o Presidente comentar algumas das situações mais polémicas que o País atravessou. Bem sei que Cavaco Silva "sofreu" muito com a oposição da Presidencia e Partidos politicos com assento parlamentar quando foi 1º Ministro, mas essa experiência nao deveria ter afetado o desempenho das suas funções no mais alto cargo da Nação. Não quero acreditar que Cavaco venha a dar posse a um governo nao sufragado pelo povo e muito menos quando os Partidos que agora assaltaram o Poder tinham como Bandeira, "o povo é quem mais ordena". Pois mas de facto o que se está a passar não foi o que o povo de forma nenhuma escolheu e´só com muita artimanha se pode ganhar as eleições perdidas. Será esta a lição que estamos a dar aos nossos filhos ? Que democracia é esta em que vivemos ? Que legitimidade existe neste processo? Será que o povo Português depois de tantas privações merecia que viessem agora outros destruir todo o sacrificio que fizemos e afinal em prole de quê, pergunto .
  • carlosayres
    23 nov, 2015 Rio Maior 21:40
    Apresenta-se, ao Presidente da República, mais um cenário com muita envolvência. Desamarrar todos estes nós, elaborados pelos partidos da esquerda, com assento na Assembleia da República, não é nada fácil. Os próprios partidos fizeram questão que assim fosse, porque, politicamente, quantos mais atilhos, mais desatilhos. Tudo está consumado para enredar o Presidente, que já pouca paciência lhe resta para estas tarefas mirabolantes dos partidos de esquerda. O que é necessário é dividir para reinar, e tudo isso está conseguido, levado até à exaustão. As cartas e estão lançadas e em breve teremos a "des"/orientar o país um conjunto de partidos com ideias ,totalmente, opostas aos desejos da grande família europeia, que se rege através de uma linha de conduta muito específica.
  • indignada
    23 nov, 2015 lisboa 18:13
    O que me ocupa é que o tempo vai passando já lá vão 50 dias,o nosso Presidente esta a esquecer-se que é Presidente de todos os Portugueses,não pode adiar por mais tempo!! vou citar um poema de Sofia de melo Breyner (O que é feitodo dia inicial inteiro e limpo,)
  • António Tomás
    23 nov, 2015 Pinhal Novo 18:13
    Estes jornalistas são terríveis num certo assunto de compromissos Europeus dizem que o presidente só tem a palavra do PS, já que o PCP é a favor de Portugal sair do euro, como se o PCP tivesse poder mesmo em coligação para fazer isso acontecer, estes jornalistas só criam confusão onde ela não existe claro tem que defender a sua cor política ou seja tem que defender a direita, costuma-se dizer: Queres um bom policia? arranja um bom ladrão, assim é com os jornalistas, queres confusão? arranja um jornalista.
  • Para este Cavaco
    23 nov, 2015 lis 17:22
    É preciso ter uma paciencia de chinês...Azar dos azares, faltou-lhe analisar este cenario!...nunca tenho duvidas e raramente erro! Desta vez, nem as cagarras o ajudaram!
  • 23 nov, 2015 16:47
    Para quem dizia que tinha estudado todos os cenários possíveis, deve estar a brincar. Vir nesta altura com todas estas dúvidas, quando já ouviu todos os conselheiros e partidos pelo menos duas vezes.

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