30 nov, 2015 - 08:05 • Hugo Monteiro
O ex-ministro António Pires de Lima é o convidado, esta segunda-feira à noite, da centésima edição do Clube dos Pensadores, em Gaia. Ao longos das 99 edições já realizadas, pelo sofá deste clube passaram muitos convidados, entre políticos, desportistas, artistas e cientistas. Ponto comum entre todas as edições: Joaquim Jorge, o organizador dos encontros e fundador do Clube dos Pensadores.
Num país tão burocrático, muitos se questionam como consegue Joaquim Jorge - 58 anos, biólogo de formação, professor de profissão - chamar a Vila Nova de Gaia tantas personalidades, daquelas que têm sempre a agenda cheia e, por isso, não se mostram disponíveis em muitas ocasiões. O truque parece ser simples: “Ser autêntico e nunca ter segundas intenções."
“Nunca me aproveitei de um convidado. Sempre os respeitei”, garante Joaquim Jorge, à Renascença. Há quem diga que tudo passa pela sua grande capacidade de insistência, ou seja, diz-se por aí, em linguagem menos urbana, que Joaquim Jorge é 'um chato'. O acusado sabe-o, mas rejeita assumir este traço de personalidade: “Eu não sou nada chato. Eu acho que tenho é personalidade”.
“Eu tenho um passado. Eu já fui DJ. Eu já fiz festas e sei o que é organizá-las. A minha mãe tinha um restaurante e eu ajudava-a nos casamentos. Por isso, eu percebo minimamente disto. E, depois, tenho uma brigada de pessoas que me ajuda pontualmente. O clube vive de simpatia, carolice, de amor. O mais difícil é ter o convidado. A partir daí, tudo funciona rapidamente”, conta.
Com esta fórmula, Joaquim Jorge ultrapassa as dificuldades, o que o fez conseguir ter no seu clube nomes como Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo, Pedro Santana Lopes, Alberto João Jardim, Sobrinho Simões, Pedro Abrunhosa, Francisco Ferreira, Vítor Baía…
Curiosamente, “ter um político é mais fácil do que ter um jogador de futebol”. Com Baia, o ex-guarda-redes do FC Porto, "foi uma complicação". Explica Joaquim Jorge: "Tem a ver com os sponsors publicitários. O Vítor Baía teve de falar à SAD”, conta o fundador do Clube dos Pensadores, definindo-o como um “bom palco” para “políticos que vivem de multidões”, mas em cima do qual também correm riscos, porque a plateia é livre de intervir, “sem perguntas prévias, nada está combinado”.
“Grândola” para Relvas
Em 100 edições, várias fazem parte das memórias de muitos e, entre as mais célebres, ficou a sessão com Miguel Relvas. Na sala de um hotel de Gaia, um então ministro, membro do Governo de Passos Coelho, ouviu populares cantarem “Grândola, Vila Morena”.
“As pessoas manifestaram-se porque entram livremente, não são revistadas, não há controlo. Só que, ali, o direito de manifestação colidiu com o direito de reunião”, recorda Joaquim Jorge.
Mas há outros momentos marcantes, como aquela “ameaça de bomba com Jerónimo de Sousa”, em que “teve de ir lá a Brigada de Minas e Armadilhas” e todos tiveram de sair da sala. O alarme era falso.
“O clube tem outro momento mágico, que é o ressurgimento de Pedro Santana Lopes, depois de ter sido primeiro-ministro e de ter sido demitido por Jorge Sampaio. Aparece publicamente, pela primeira vez, no Clube dos Pensadores”, recorda Joaquim Jorge.
Apesar da 'carteira' de êxitos, um há que Joaquim Jorge não tem: nunca conseguiu convencer Cavaco Silva a participar no Clube dos Pensadores.
Objectivo: internacionalização
Para o futuro, Joaquim Jorge não hesita em apontar a internacionalização como um objectivo. “O clube atingiu uma bitola tal, que eu não posso convidar qualquer pessoa. O que o clube, agora, deveria fazer era internacionalizar-se. Posso não ter apoio monetário. Mas tenho capacidade para isso. Eu já contactei o Lula. Eu já falei com a Marina Silva...”, revela.
Para cumprir este objectivo, Joaquim Jorge terá de fazer uma corrida contra o tempo. É que o fundador do Clube dos Pensadores não prevê fazer muitas mais edições: “Eu não vou fazer debates toda a vida. Isto é violentíssimo. Tenho de estar sempre à prova. Já não tenho nada a provar. Eu já tirei um 'ticket' de cidadania. Já chega. Eu vou até Março e, depois, vê-se”.
Ser assim é "uma mania”, confessa, Joaquim Jorge, prosseguindo: “Há quem vá para o café, eu faço isto. Eu sou um verdadeiro Alka-Seltzer, como uma água que faz efervescência. Sempre foi assim.”
Marcelo em Dezembro?
Para a edição 101, em Dezembro, Joaquim Jorge “gostava que viesse o Marcelo Rebelo de Sousa”, tanto mais que no Clube dos Pensadores já estiveram outros dois candidatos à Presidência da República: Henrique Neto e Maria de Belém.
“O ónus está do lado dele. Convidei-o uma vez, fiz com que ele visse que era importante vir. Agora, não o vou obrigar. Sou educado, sou persistente, mas não sou subserviente, tudo tem um limite. Ele respondeu e pediu-me para não ser à noite, para ser de tarde. O clube, pela primeira vez, se vier o Marcelo Rebelo de Sousa, tem de se reformatar. Tem de ser. Não podemos perder a oportunidade”, declara.