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Governo preferia ter integrado Banif na Caixa, mas regras europeias não permitem

22 dez, 2015 - 17:59

"Tivemos de resolver em três semanas o que o anterior Governo não fez em três anos", disse o ministro das Finanças no Parlamento.

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O ministro das Finanças criticou esta terça-feira a actuação do Governo de Pedro Passos Coelho na gestão do dossiê Banif e disse que o actual Executivo preferia integrar o banco na Caixa Geral de Depósitos, uma solução proibida pelas regras europeias.

"Tivemos de resolver em três semanas o que o anterior Governo não fez em três anos", disse Mário Centeno, na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, onde se debate a intervenção do Estado no Banif.

Centeno disse que havia grande "urgência" em resolver a situação do Banif, que sofria cada vez maior "pressão sobre os rácios de capital". “Desde finais de 2012 que a Comissão Europeia mostrava dúvidas sobre a viabilidade do Banif”, que “ia numa rota de liquidação”, o que traria “prejuízos assinaláveis para o emprego dos seus trabalhadores, para os contribuintes e para as economias dos Açores e da Madeira”.

Em jeito de resposta à antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, que rejeitou na segunda-feira, em entrevista à TVI, as acusações de inacção e disse que a situação no banco se degradou já depois da queda do Governo PSD/CDS, Centeno declarou que “não foi apenas na última semana que o banco perdeu valor, foi ao longo deste tempo”.

A decisão de resolução do Banif, salientou Centeno, "teve de ser tomada num cenário regulatório e legal particularmente adverso, devido ao arrastar da situação até ao dia 18 de Dezembro.”

Governo preferia outra solução

O ministro das Finanças revelou aos deputados que o Governo preferia um desfecho diferente para o Banif. "O Governo preferia uma outra alternativa, mas por restrições legais não foi implementada”, indicou.

A solução preferida pelo executivo socialista, mas que não avançou, passava por recapitalizar o Banif e integrá-lo na Caixa. No entanto, esta saída para o Banco Internacional do Funchal esbarrou nas regras europeias. O impedimento resultou das "restrições relativas às ajudas de Estado em curso no Banif e na CGD", explicou o governante.

Ambos os bancos receberam ajudas estatais em 2013, através de instrumentos híbridos de capital, e as regras de Bruxelas impedem novas ajudas antes de terem sido devolvidos os montantes em causa.

Além disso, no âmbito do auxílio estatal que a CGD recebeu, ficou proibida de realizar aquisições, pelo que não podia absorver o Banif sem que antes se desse "o levantamento da restrição de aquisição imposta" por Bruxelas, sublinhou Centeno.

Segundo o ministro, "esta opção tinha sido viável em 2012, antes da ajuda de Estado", que aconteceu no ano seguinte.

Postos de trabalho estão garantidos?

O ministro das Finanças foi questionado pelo PSD sobre o que vai acontecer aos trabalhadores do Banif. Mário Centeno disse que "as garantias sobre os postos de trabalho, neste momento, é dada pelos contratos de trabalho".

“O Santander vai fazer o que achar apropriado com a metade dos trabalhadores que passa para o banco. Essa metade do Santander, grosso modo os trabalhadores que estão nas agências, vão – e essa é a expectativa – permanecer nas agências.”

Os restantes funcionários do Banif passam para o veículo de gestão de activos Navigest. O Governo vai procurar encontrar soluções para esses trabalhadores.

Os custos de deixar falir o Banif

O ministro das Finanças afirma que deixar cair e liquidar o Banif teria custos ainda maiores para Portugal. Desde logo, “implicava a perda de todos os postos de trabalho” e “custaria mais dinheiro aos contribuintes, muito mais do que a solução adoptada”.

Os depósitos acima de 100 mil euros seriam perdidos e grande parte era dinheiro público, argumentou. “A solução encontrada foi aquela que minimizava os custos para o contribuinte e para o sistema financeiro, numa perspectiva de futuro.”

“Terá havido gestão política”

Mário Centeno admite que o adiamento de uma solução para o Banif pode ter sido provocado por uma opção política, para permitir que Portugal tivesse uma “saída limpa” do programa da troika.

“Terá havido gestão política destes processos”, disse o ministro das Finanças, referindo-se a uma carta da comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestagen, enviada ao anterior Governo.

Mário Centeno considera que o programa da troika foi uma oportunidade perdida para resolver os problemas do sistema financeiro português.

“O programa de ajustamento devia ter permitido ao país solucionar as três áreas para que estava desenhado. A área financeira era uma dessas áreas. O Governo vangloriou-se de não ter utilizado todo o dinheiro destinado aos bancos e essa solução, em particular no Banif, não foi encontrada. E o paradoxo é que até foi das situações em que houve dinheiro público envolvido.”

“Esta ideia, de que houve aqui alguma acção governativa que teve objectivos que não tinham a ver com o sistema financeiro, justificou a minha expressão na apresentação do programa de Governo de uma ‘saída limpa pequena’ e de toda a propaganda que lhe esteve associada”, acusou o ministro das Finanças.

Centeno não quer mais “Banifes”

Mário Centeno defende que é necessário tomar medidas ao nível do controlo da actividade financeira. É preciso evitar que a falta de “supervisão bancária não gere mais ‘Banifes’”, declarou o ministro das Finanças.

“A solução implementada já ficou claro que foi sendo estreitada no conjunto de possibilidades equacionadas desde o principio em consequência das decisões tomadas pelas autoridades de supervisão europeias. A injecção de até 3 mil milhões num banco é uma medida que não é tomada de ânimo leve e que tem como objectivo minorar o custo daquilo que seria o adiamento do problema. Adiar o problema iria apenas levar o banco”, argumentou.

Novo Banco sem novos custos para o contribuinte

Mário Centeno também falou da situação do Novo Banco (NB). Defende a necessidade de encontrar uma solução sem mais custos para os portugueses.

“A resolução do BES, em Agosto de 2014, não está ainda concluída, é um processo que tem uma dimensão muito superior ao Banif, e é necessário encontrar uma solução para esse problema que permita uma recapitalização do Novo Banco, que decorre aliás dos testes de stress de Novembro, que não imponha mais custos para o contribuinte. Esse é o compromisso que o Governo assume e para o qual vai tentar encontrar uma solução”.

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  • A seriedade
    23 dez, 2015 pt 18:13
    De Mulheres e homens serios a lutarem contra uma casta de "mafiosos" sob a capa de "risonhos", é uma tarefa muita dificil e ainda têm de ser confrontados com discursos altamente duvidosos de gente covarde e trauliteira! Estamos numa epoca de potenciais oportunistas que se servem do poder para empobrecerem os portugueses sem apelo nem agravo!
  • António Oliveira
    22 dez, 2015 Senhora da Hora - Matosinhos 21:23
    O que a banca tem custado aos Portugueses é inadmissível, é tempo de mudar este estado de coisas, temos um governador do Banco de Portugal que não vê nada, é urgente a sua mudança, ou então arranjem outra entidade que nos defenda e acabe de vez com isto tudo. Oxalá fiquemos por aqui, ou teremos um MP na fila de espera. É tempo de dizer basta.
  • Serrano
    22 dez, 2015 Guarda 21:06
    O problema era conhecido e ninguém pode alegar desconhecimento. Sabemos também as origens dos problemas dos Bancos e aqui ninguém pode passar culpas pois isto arrasta-se desde a governação Sócrates. Suponho também que o assunto se arrastou porque além de ser de solução difícil o anterior governo não quis sobrecarregar os contribuintes.
  • alves
    22 dez, 2015 porto 21:05
    Presunção e água benta, cada um toma a que quer....
  • madala
    22 dez, 2015 évora 20:38
    E o governo anterior teve de resolver num mês o que o 44/33 não resolveu: o problema bes.
  • José
    22 dez, 2015 Setubal 20:01
    Os comentários que por aqui abundam, não passam de puras anedotas, tal qual os respectivos comentadores. Se qualquer portugues se revisse nas anedotas a que chamam comentário e que por aqui pululam , desgraçado deste país.
  • fernando
    22 dez, 2015 Porto 19:58
    Devem começar a cortar mos vencimentos milionários dos gestores e das mordomias, o tempo da vacas gordas acabou. Comecem a cortar nos vencimentos milionários que os gestores recebem.E neste e outros casos, devem ser chamados a justifucar se porque se chegou a esta situação. Devem ser confiscados todos os bens dos gestores.
  • TAPados
    22 dez, 2015 Aveiro 19:58
    Quando os Bancos davam fartos lucros embalados na especulação do imobiliário, havia chorudos ordenados para os "qualificados gestores" e distribuição de lucros a contento para os accionistas, isto depois de muitas artimanhas contabilístico-fiscais para maximizar os dividendos. Mas quando a mina acaba, então o sacrificado contribuinte - que não pode usar de artimanhas para fugir/reduzir à carga fiscal - tem que pagar para resolver as aventuras mal cheirosas de Padrinhos e outros respeitáveis Democrápulas pifados da PàF. Mas não há problema: a "justiça" está vigilante e se houver alguma hipotética "investigação judicial" há sempre umas soluções "a la carte", como seja ser julgado improcedente por falta de provas, a prescrição de prazos ou em última "solução" desaparece o inconveniente processo de algum metediço Tribunal. Claro, que é tudo a Bem da Nação, para defender os Direitos dos Manos...
  • J. Simões
    22 dez, 2015 Lisboa 19:50
    Pois é: este Sr. é o ressabiado-mor. Tem que se convencer que não é com diplomas americanos que se prova o que quer que seja. Até agora só tem provado desconhecimento profundo das realidades deste País. O homem está a ver se consegue arranjar um "tacho" para quando sair do Governo.
  • Joaquim
    22 dez, 2015 Arruda dos Vinhos 19:48
    Por favor senhor ministro, não diga mais asneiras, porque se tiver um pingo de vergonha, lute para tirar o meu Portugal da miséria em que o seu partido o meteu. Pense que nem todos os portugueses são parolos e que muitos não têm memória seletiva, sei que os vossos apaniguados só se preocupam com o vosso partido e nada com Portugal, para mim Portugal está acima de tudo, deixe de falar mal dos outros e olhe para si próprio. Só uma pergunta senhor ministro: Porque será que os lesados do antigo BES desde que vocês tomaram de assalto o poder nunca mais fizeram manifestações? Porque será porque será? Mais uma vez lhe digo que nem todos os portugueses são parolos e que nas entre linhas leem muita coisa. Porque não fala da nacionalização do BPN? Tão espertos eu vocês são, três semanas e tudo resolvido. Pobre Portugal que atura esta gente.

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