29 dez, 2015 - 12:57 • João Carlos Malta
O ex-presidente do CDS Adriano Moreira afirma que a nova geração do CDS está preparada para liderar o partido. O professor catedrático acredita que essa geração já tem provas dadas e diz que Paulo Portas contribuiu para o crescimento de outras individualidades no partido.
Em entrevista à Renascença, Adriano Moreira, recentemente indicado para conselheiro de Estado pelo presidente do CDS, dá nota positiva aos 16 anos de Portas à frente do partido. Isto apesar de frisar que a actuação do líder nem sempre foi consensual.
Já com o futuro em vista, defende que o partido retome a inspiração da democracia cristã. "A União Europeia foi feita pelas democracias cristãs, sobre isso não há dúvidas. A pouco e pouco esse traço foi apagado."
Que balanço faz dos 16 anos de mandato de Paulo Portas à frente do CDS?
Fez uma gestão com resultado positivos para o partido e teve uma intervenção importante na política dos últimos anos, sobretudo durante a crise da troika. Isso não significa que toda a gente do partido concorde, mas essa política foi possível com o entendimento que ele próprio fez da situação. Isso parece-me evidente.
Por que é que ele terá escolhido este momento para a saída?
Parece-me evidente que entendeu que havia uma necessidade de reformulação do partido. Esta minha conclusão é coerente com a opinião que tenho de que todos os partidos precisam de se reformular porque têm programas relacionados com uma conjuntura que desapareceu, que está em mudança. Depois de tantos anos de direcção no partido, julgo que, pelas poucas declarações que foram tornadas públicas, ele acha que já tem uma nova geração preparada para enfrentar os desafios.
E o professor também acha que essa nova geração está preparada?
Há três ou quatro jovens, e não faço distinção entre eles, que revelam grande capacidade e vontade de se dedicar às tarefas do governo com base na observação, no estudo e na dedicação.
Quem são essas quatro pessoas?
Uma coisa se pode dizer, têm muito por onde escolher.
Mas quem são?
Não tenho julgamento pessoal para isso. Mas vemos no parlamento nacional e no parlamento europeu que há o número suficiente de gente nova capaz de assumir a redefinição do futuro.
Passará Nuno Melo ou Assunção Cristas?
Penso que haverá o espaço suficiente para o partido fazer uma meditação colectiva, mas não vou tentar adivinhar o que vai acontecer. Seja qual for a solução, vai sair alguém com capacidade e futuro, capaz de redefinir o partido na vida portuguesa.
E por onde passará essa redefinição? Ganhará esse espaço mais à direita ou ao centro?
Essa predefinição de direita e esquerda não se sabe o que vai ser no mundo. A União Europeia foi feita pelas democracias cristãs, sobre isso não há dúvidas. A pouco e pouco esse traço foi apagado. Não concebo a unidade europeia sem o contrato social. Eu penso que a definição do partido há-de ter esta referência fundamental – pelo menos espero que seja assim. Quando o partido comemorou o aniversário foi publicado um texto meu, num livro, no qual começo por citar o Papa Francisco. Para bem da União Europeia, o Estado Social tem de ser o modo de actuação. O resto é bastante indefinível, neste momento, porque não se pode adivinhar o futuro.