Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

​Morais Sarmento.”Não percebo o que o anterior Governo fez ou não fez no Banif”

29 dez, 2015 - 02:37

Os comentadores do programa “Falar Claro”, da Renascença, assinalam várias “perplexidades” sobre a forma como o processo Banif foi gerido pela administração do banco, Governo PSD/CDS, Banco de Portugal e até a troika.

A+ / A-
​Morais Sarmento.”Não percebo o que o anterior Governo fez ou não fez no Banif”
​Morais Sarmento.”Não percebo o que o anterior Governo fez ou não fez no Banif”

O antigo ministro social-democrata Nuno Morais Sarmento diz não entender o comportamento do anterior Governo na gestão do caso Banif. É uma das perplexidades expressas pelo comentador do programa “Falar Claro” da Renascença, quando instado a comentar a resolução do banco.

“Só soubemos agora que tivemos seis ou sete ou oito planos [de reestruturação] apresentados. E isto aconteceu ao longo de um ano. Não percebo esta opacidade, não percebo o que o Governo fez ou não fez. A ex-ministra das Finanças [Maria Luís Albuquerque] disse que não sabia de nada. Apresentar dois planos, compreende-se. Apresentar seis planos, das duas três: ou o examinador tem má vontade ou o examinando é melhor ir repetir a matéria de vez. Ou isto significa uma absoluta incompetência da administração de Jorge Tomé ou então há aqui qualquer coisa que nos tem de ser explicado, porque não se conhece outro caso”, comenta Nuno Morais Sarmento.

O antigo governante do PSD assinala que o Estado tinha uma “posição recuada “ no Banif quando se limitou a nomear um administrador não-executivo para o banco.

“Mais incompreensível é que o dono do banco não se interesse sobre o banco e do banco diga nada saber. O dono do banco é o Estado, através do Ministério das Finanças. A senhora ministra [Maria Luís Albuquerque] disse que sabia de pouco, o administrador não executivo de nada sabe e eu pergunto: não há história de muitas empresas em que os accionistas não conheçam o que se lá passa e deixam aquilo entregue a terceiros”, complementa Morais Sarmento, que sublinha o seu sentimento de “estranheza”, que não pode ser de crítica ou aplauso “enquanto não tivermos os factos todos”.

Um buraco anormal

O socialista José Vera Jardim mostra-se incrédulo em relação a uma perda potencial para os contribuintes da ordem dos 3 mil milhões de euros.

“É uma coisa fora da norma tendo em conta a dimensão do banco. O que é que sucede aqui? Aqueles activos do Banif não valiam nada? Diziam que valiam milhões e valiam zero? “, questiona o antigo ministro da Justiça.

As perplexidades expostas por Nuno Morais Sarmento estendem-se ao comportamento do Banco de Portugal e da troika.

“Até pelo alerta que o caso BES representa, não é crível para ninguém que o supervisor não tivesse – e se não tinha, tinha obrigação de ter – um conhecimento mais próximo e um acompanhamento muito próximo nesta fase do sector bancário. Também nos fica a perplexidade da troika, que por cá andou a ver tanta coisa, analisou tanta coisa, tantos técnicos, tantas pessoas inteligentes para Portugal e ninguém percebeu a situação do nosso sector financeiro”, critica Morais Sarmento, que diz ter sempre mantido reservas à escolha de Jorge Tomé para presidente executivo do Banif.

Sarmento sublinha que Tomé não era um homem de banca comercial. “Se puserem o Ronaldo a jogar basquetebol, não é por ele ser Ronaldo que passa a jogar bem basquetebol”, exemplifica.

Silêncios e garantias

O buraco é grande e contrasta com o valor pago pelo Santander pelo Banif, glosado pelo socialista Vera Jardim. “150 Milhões? Talvez, se tivesse sabido, teria ido com o doutor Morais Sarmento pedir um empréstimo e comprávamos o Banif”.

Vera Jardim lembra que a compra do banco inclui garantias – “compra-se nenhum passivo, está todo assegurado “ – na aquisição de um banco “com uma actividade limitada dentro do sector financeiro mas com uma presença activa nos Açores e na Madeira, com mais de 200 balcões em Portugal”.

Sobre a origem e natureza especialmente insular do Banif, Morais Sarmento deixa uma farpa ao governo regional dos Açores, liderado pelo socialista Vasco Cordeiro.

“O que é estranho é que o Governo dos Açores está calado. Isso é que eu não percebo, porque isto é um problema que afecta mais os Açores do que a Madeira. Parece que o assunto não lhes toca. Não vimos nota pública das diligências do governo dos Açores”, denuncia Morais Sarmento.

O social-democrata diz não entender o “processo acelerado” de resolução do Banif.

“Porventura, existirá uma razão porque é que não foi feito meses antes, num calendário que não fosse um calendário de sufoco. Se eu estou a vender numa situação de sufoco, a mensagem que eu estou a passar é de que a situação é desesperada. Para lá do valor baixar, tem uma segunda consequência: É o pânico nos clientes do banco. Não se percebe e não se percebe a dimensão. Três mil milhões são quase o valor necessário injectar no BES, que era o maior banco privado do sistema”, insiste o antigo governante do PSD.

Integrar na CGD não era solução

O socialista Vera Jardim manifesta reservas em relação à solução alternativa pensada pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo ministro das Finanças, Mário Centeno.

“A integração na Caixa Geral de Depósitos não aconteceria sem prejuízos. Se há 3 mil milhões a menos e se a CGD também precisa de ser capitalizada, não tenhamos ilusões sobre essa solução. Não havia nenhuma boa solução. A quinze dias de se tomar conhecimento da questão e ter que a resolver, é muito difícil tomar qualquer boa solução. Qualquer português percebe que quem vende qualquer coisa ‘com a corda na garganta’ , vende a pataco”, argumenta Vera Jardim.

Por seu lado, Morais Sarmento assinala o peso das palavras de António Costa sobre o sistema financeiro proferidas antes das eleições legislativas.

“O primeiro momento de descapitalização do banco acontece a seguir às declarações de António Costa. E ver-se-á agora quando os dados forem públicos. Estou a associar declarações públicas feitas, porventura, com alguma precipitação e sem ter os dados ou a consciência da consequência do que estava a dizer. Declarações públicas feitas pelo agora primeiro-ministro que foram a primeira sinalização pública de desconfiança por parte de responsáveis políticos quanto à situação do banco”, explica o antigo ministro do PSD.

Sim à auditoria externa

Ambos os comentadores defendem a realização de uma auditoria externa independente, “um processo de avaliação técnica, feita por técnicos, sobre a situação do banco, a actual e a anterior, que depois se desenvolvem processos criminais ou cíveis, consoante a natureza” das conclusões”, nas palavras de Nuno Morais Sarmento.

“[É preciso] uma auditoria externa independente para que possamos vir a saber o que se passou no Banif, o que explica este imenso buraco de cerca de 3 mil milhões de euros e a forma como o banco foi vendido”, complementa Vera Jardim no “Falar Claro” da Renascença.

Morais Sarmento e Vera Jardim distinguem a auditoria externa de uma comissão parlamentar de inquérito que, para o social-democrata, “ é uma exposição mediática e uma espécie de passerelle mediática na Assembleia da República, com transmissão televisiva para cada um de nós do que lá se vai passando”.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • ANTÓNIO MANUEL RODRI
    04 jan, 2016 CALVELO 06:05
    Fui roubado pelos politicos, pois disseram que com o aumento capital o Estado ganhava dinheiro, dito no Parlamento. Esse senhor do Banco de Portugal disse a mesma coisa. Agora estou falido, poupanca de uma vida. Era para futuro dos filhos, estudar. Era o unica reserva que tinha e agora, nao dormo ha 2 semanas, Amanha nao sei como dar aulas, nem consigo prepara-las. Perdi eu, familia e todos aqueles a minha volta.
  • fanã
    29 dez, 2015 aveiro 17:52
    Morais Sarnento, ou a hipocrisia no seu melhor!
  • Luis
    29 dez, 2015 Lisboa 14:35
    Ó Sarmento, mas será que não percebe mesmo?. Olhe qua a maioria dos Portugueses perceberam e não são comentadores politicos. Você, que sempre percebeu tudo o que vinha da oposição desta vez não percebe o que veio do seu próprio partido? Faça lá um esforço para compreender e diga lá à gente, porque eu não acredito que esteja a perder faculdades. Que raio, até no seu próprio partido há tanta gente, calada, que percebeu.
  • maria celeste pinto
    29 dez, 2015 urbanizaçao vale ana gomes 11:21
    É de lamentar que o governo PSD/CDS deixasse o banco BANIF chegar ao ponto que chegou, porque se fossem os nossos governantes que pagassem eles tinham mais interesse em verificar o sistema financeiro ,mas como do bolso deles nunca sai nada para pagar seja o que for,eles estão a borrifar .O DR.PEDRO PASSOS COELHO disse que tinha endireitado o PAÍS não sei aonde,só sei dizer que fartou se de roubar aos funcionarios públicos reformados e pensionistas,e de empobrecer os PORTUGUESES.LADRÃO SÓ FOI O SOCRATES ,SO SEI DIZER QUE O pais ESTA PIOR QUE DO TEMPO DO SOCRATES,e entao desta vez quem roubou?A nossa ministra das finanças disse que os cofres estavam cheios para onde foi o dinheiro que estava nos cofres?PASSARAM A PASTA AO NOVO GOVERNOsem dinheiroe agora estes que resolvam os problemas deixados por voces.Quando é que os nossos governantes deixam de ser corruptos?quando é que acaba com os mordomias que têmQUANDO É QUE OS NOSSOS GOVERNANTES PASSAM A VIVER COM O Têm E COM O QUE GANHAM SEM SER À CUSTA DOS CONTRIBUINTES.QUEM governa o País tem de pensar mais nos contribuintes,porque se matam o povo aonde é que buscar o dinheiro para pagar os impostos.No governo anterior PORTUGUESES,só eram os funcionários PÙBLICOS ,REFORMADOS E PENSIONISTAS,gostava de saber a QUE GRUPO pertencem os POLÍTICOS E OS PRIVADOS?Sao sempre os mesmos a pagar as facturas.PORQUE É QUE OS NOSSOS POLÍTICOS NÃO ACTUAM COMO OS DA DINAMARCA ,SUIÇA E OUTROS PAISES MAIS RICOS QUE O NOSSO.
  • José
    29 dez, 2015 Portimão 08:23
    Há tanto por descobrir dos feitos e não feitos do anterior Governo, que nem sei se a nossa Justiça, terá mãos para tanto.
  • José
    29 dez, 2015 Portimão 07:55
    Mas porque acha o Senhor, assim de tão absurdo?? Mas então não sabemos já todos, como os Senhores Políticos, fazem os seus negócios. Quem paga sempre as grandes mordomias do grande capital, são os mais pequeninos deste País, ou seja todo um Povo deliberadamente e com grande circunstancia, empobrecido pelo anterior Governo

Destaques V+