13 jan, 2016 - 00:09
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O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, considera, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, existirem condições para voltar a ser primeiro-ministro. Só não sabe é quando.
Paulo Portas vai deixar a liderança do CDS. Como é que avalia esta decisão?
Respeito muito a decisão que o doutor Paulo Portas tomou. O CDS é realmente um partido indispensável à democracia portuguesa e o doutor Paulo Portas é uma figura de muito relevo na política nacional, que nos últimos quatro anos desempenhou também uma função muito relevante no Governo. Primeiro, como ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e, depois, como vice-primeiro-ministro. E muito do que foi o sucesso que conseguimos obter nos últimos quatro anos a ele se deve também como líder do CDS. As suas motivações políticas ou pessoais merecem o meu respeito. As circunstâncias dele não são as mesmas que me dizem respeito a mim, no PSD, e portanto é natural que possamos ter avaliações diferentes sobre aquilo que é a decisão que cada um deve tomar em relação ao futuro.
A saída de Paulo Portas facilita um certo afastamento estratégico entre PSD e CDS?
Não há um afastamento estratégico que tenha sido deliberado, creio eu, nem pelo CDS nem pelo PSD.
Mas foi consensual que, agora, os dois partidos teriam de ter vida autónoma?
Nós tínhamos uma coligação de Governo com o CDS, o Governo foi derrubado no Parlamento e essa coligação deixou de existir. Foi uma morte natural. Mas isso não significa que exista entre estes dois partidos uma proximidade estratégica muito grande.
O CDS mantém-se como um aliado preferencial do PSD, partilhámos experiências que são muito relevantes para o país, muitas vezes os partidos na oposição têm maneiras de olhar para a sociedade e para um futuro exercício de Governo que é demasiado teórico. Quando partilham essas experiência no Governo, tornam-se mais próximos, mais realistas e essa experiência que tivemos com o CDS é muito importante para os partidos, mas para o país também e não se irá perder para futuro, com certeza.
Como vê aqueles acham que devia seguir o exemplo de Paulo Portas e deixar o PSD?
São pessoas que prefeririam que outra pessoa liderasse o PSD. Estão no seu direito.
Mas não faz essa reflexão? Não acha que o partido para iniciar este novo ciclo na oposição precisava de caras novas e de sangue novo?
Eu fiz essa reflexão e anunciei ao conselho nacional a intenção de me recandidatar. O facto de o PSD estar hoje na oposição e de, nessa medida, lhe competir preparar uma alternativa futura de Governo não é incompatível com ser presidido por quem foi primeiro-ministro e deixou de ser. Não há nenhuma incompatibilidade nisso.
Não há uma dificuldade na mudança?
Eu não tive dificuldade nenhuma, devo dizer. Não sou nostálgico, o poder nunca me subiu à cabeça, não mudei muito a minha maneira de estar, não mudei significativamente a minha maneira de pensar. As circunstâncias é que são diferentes e eu não deixarei de funcionar como líder do PSD nas novas circunstâncias em que o PSD está.
No PSD muita gente a diz que o partido deixou de ser social-democrata e passou a ser ultraliberal.
Enquanto fui primeiro-ministro precisámos de fazer um ajustamento orçamental significativo, muito grande mesmo, porque o desequilíbrio das contas públicas era muito grande.
Esse programa, que no essencial é de consolidação orçamental, nem é de esquerda nem é de direita. As pessoas que usam a imagem de que nós tivemos de cortar salários, de cortar pensões, aumentar impostos e por aí fora, que isso é uma política de direita... Não. Senão teríamos de considerar que o doutor Mário Soares também era um expoente perigoso da direita em Portugal e não foi.
Não havia outra maneira de aplicar a austeridade do programa da troika?
Não, não havia. Quando o Estado não tem dinheiro e tem uma dívida ou um défice muito elevados, a única coisa que tem a fazer é reduzir a sua despesa, aumentar na medida do possível a receita, porque senão o ajustamento é feito à bruta e com muito mais dor. Isso não faz do Governo em questão, seja ele qual for, nem de direita nem de esquerda. Faz o que tem de fazer e nós fizemos o que tínhamos de fazer.
Eu senti-me muito social-democrata quando tive de escolher a forma como esses sacrifícios iam ser distribuídos. E por essa razão é que posso dizer, são os factos objectivos. Aqueles que tinham rendimentos superiores, fossem empresas, fossem famílias, o contributo que tiveram, quer do lado fiscal quer do lado salarial, foi muitíssimo maior do que aqueles que tinham pouco. Aquilo a que se chama a classe média, média-alta, pela primeira vez numa situação de crise em Portugal, suportou uma factura muito mais elevada do que era costume nos anos anteriores.
Acha que vai voltar a ser primeiro-ministro?
Julgo que o PSD está preparado para voltar ao Governo para fazer o que não teve a possibilidade de acabar de fazer e eu, como primeiro-ministro que fui, de completar um trabalho que deixei a meio em termos de reforma estrutural. Nesse sentido, sim, acho que há condições para que isso possa acontecer. Mas não tenho, relativamente ao futuro, ideias cabalísticas, não tenho a mania que tenho mesmo que ser primeiro-ministro. Se voltar ao Governo é porque este falhou e a alternativa do PSD é melhor, mais confiável para as pessoas.
Não vou ficar de braços cruzados à espera que isto dê mau resultado e que por inércia volte a chegar lá. É muito importante que o que deixámos por fazer possamos completar, mas que novas coisas e desafios possam emergir e merecer o voto e a confiança e o voto das pessoas. Essa é a minha missão como presidente do PSD.