19 jan, 2016 - 23:29 • Raquel Abecasis
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Assunção Cristas considera que, “para destruir como está a destruir, não é nada desejável” que o Governo de António Costa dure quatro anos.
Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, a candidata à liderança do CDS-PP acusa o PS de estar “encostado” à esquerda radical.
A antiga ministra da Agricultura deixa duras críticas ao seu sucessor, Capoulas Santos, e mostra-se “muito preocupada” com a situação do país e com o que o próximo Orçamento pode trazer para Portugal.
O PS deixou de ser um parceiro credível para o CDS?
Eu acho que neste momento nem sequer vale a pena falar disso. O PS está encostado à esquerda radical, dá concessões todos os dias à esquerda, a quebra do ambiente de confiança para o investimento em Portugal. O que vemos é portugueses com dúvidas sobre se investem ou não e estrangeiros a pararem todos os seus investimentos em Portugal e é isso que cria emprego, é isso que cria riqueza no pais.
Estão a conceder à esquerda determinadas bandeiras ideológicas, a concessão dos transportes é uma, a TAP é outra, a paragem daquele acordo que tinha existido para uma diminuição progressiva do IRC, que é muito importante para que empresas de fora se venham instalar no nosso país, ou com as dúvidas sobre a reforma laboral que foi feita e o que se vai manter ou não. Tudo isso são concessões do PS à esquerda mais radical que resultam em prejuízo para o país e, portanto, a posição do CDS é muito clara e é uma posição de oposição muito firme e muito consistente e de construção de alternativa.
Nos debates que ditaram a queda do Governo PSD/CDS, Paulo Portas disse a António Costa que não contasse com os votos do CDS. Mantém essa promessa?
Eu diria que essa é a nossa base de partida sempre. Nós fomos contra esta solução porque entendemos que ela enganou o povo português e certamente que o PS terá no Bloco de Esquerda, PCP e Verdes a sua base natural de apoio, porque foram eles que lhe deram a mão e as condições para governar. Interessa-me muito mais pensar como é que nos vamos afirmando, qual é a alternativa que vamos construindo e se um dia o PS, porventura, vier a aderir a esses princípios ou a essa alternativa, ou se houver questões concretas no Parlamento que não sejam contra, pelo contrário, que vão ao encontro daquilo que é o pensamento do CDS.
Eu não lhe posso dizer, sob pena de irresponsabilidade, que nunca votarei nada ou nunca viabilizarei nada com uma abstenção ao PS, isso seria uma irresponsabilidade se estivermos a pensar num Governo que não sabemos, e nenhuma de nós sabe e nenhum português sabe se vai durar seis meses, um ano, três ou quatro. E quatro anos, ou três, ou dois, é muito tempo e é muito tempo em política, portanto aquilo que me interessa e construir uma alternativa credível do CDS nos vários domínios.
Mas ainda não está feita a catarse de estarem na oposição?
Depende. Eu acho que as pessoas se estão a resguardar, até para deixar algum espaço ao novo Governo. Hoje [terça-feira] o ministro da Agricultura vai ao Parlamento, não vou ser eu a fazer as perguntas ao ministro da Agricultura, vão ser os dois deputados que estão dedicados a essa matéria. Se me perguntar: 'Tem vontade de ir lá criticá-lo?' Tenho imensa vontade.
Eu acho que o que ele está a fazer é um desastre, ele está simplesmente a retirar dinheiro da agricultura, depois diz que nós deixamos um buraco. Não é verdade. Pelo contrário, nós tínhamos reforçado e planeávamos reforçar as verbas para apoiar o investimento na agricultura, precisamente uma área onde o país mostrou extraordinário dinamismo, onde estávamos a crescer, a criar emprego e as pessoas a investir o seu dinheiro com o apoio dos fundos comunitários, e o ministro da Agricultura não tem peso político nem capacidade política para pôr esse dinheiro no Orçamento do Estado, depois inventa umas desculpas.
O primeiro-ministro disse que estava a ser mais difícil negociar com Bruxelas do que com os parceiros à esquerda. Ele vai ter que apresentar até ao fim da semana o ‘draft’ do Orçamento para 2016. Está preocupada com a situação nacional? Esteve no Governo até há muito pouco tempo, conhece os dados.
Estou muito preocupada, porque vi a dificuldade que foi no Governo - e ninguém no Governo quer fazer mal às pessoas, e ninguém quer dificultar a vida às pessoas, obviamente nenhum primeiro-ministro e nenhum Governo quer aumentar impostos e cortar salários e reduzir pensões e isso foi necessário fazer, dada a situação em que o país estava e a necessidade de nós cumprirmos com um conjunto de exigências de credores que nos emprestaram dinheiro num momento muito difícil.
De repente chegar um Governo para o qual tudo é facilidade, nesse acordo com as esquerdas, tudo se repõe com uma extraordinária facilidade, sem nenhum gradualismo, sem cuidar de garantir que a retoma económica se torna mais acelerada e mais sólida, percebendo nós que os juros da dívida começam a ter sinais de estar a aumentar, percebendo que o investimento privado, que é um grande motor da economia, já não está com o dinamismo que conhecemos há seis meses, percebendo que as pessoas começam a hesitar sobre se é aqui que devem investir e pôr o seu dinheiro, ou se é melhor escolher outro país.
Os estrangeiros, junto de quem nós tínhamos feito um esforço enorme para virem para Portugal, porque Portugal era um país credível e estava numa rota de crescimento e queria atrair investimento directo estrangeiro, olham para nós e pensam: Mas o que é que aconteceu a este país que agora, de repente, tem o apoio do Partido Comunista para governar?
E acha que isso está a ter consequências?
Não tenho dúvidas nenhumas de que está a ter consequências. Em matéria de agricultura a verdade é que, no primeiro sinal, o PS e o ministro da Agricultura desamparam a agricultura e não põem dinheiro necessário para o investimento e, em vez de reforçarem as verbas dos fundos europeus, vão retirar verbas aos fundos europeus. A reprogramação que nós pedimos em Bruxelas para pôr mais 200 milhões de euros, eles estão a pedir para fazer o inverso e para tirar dinheiro do Orçamento do Estado. Portanto, claramente, o investimento e o apoio ao investimento privado não é uma prioridade para eles. Esta crença de que e o consumo privado vai ajudar a retomar a economia e vai, de repente, tornar tudo melhor parece-nos errada, porque provou errado no passado. O consumo privado é, certamente, relevante e a reposição dos rendimentos gradual é relevante, mas brusca e sem ser acompanhada de uma atenção particular às condições para o crescimento económico, para o investimento e para as exportações, isso é muito grave.
E acha que pode ter consequências sérias no futuro próximo?
Certamente, mas António Costa já percebeu que Bruxelas é mais dura do que ele imaginava. Quando nos criticavam de sermos moles com Bruxelas, provavelmente estavam a ser injustos. Agora estão a provar e estão a perceber que as contas precisam de fechar. Os compromissos europeus existem, nós queremos pertencer a este grupo que é a União Europeia, achamos que isso é vantajoso para o nosso país mas, obviamente, que isso também implica estar dentro de determinadas regras que são difíceis de cumprir, e o que eu não gostava nada era de ver de novo a troika aterrar em Portugal, não para fazer este exercício regular, mas para nos trazer mais dinheiro e de nos impor mais exigências.
Mas acha que esse e um risco que corremos neste momento?
Acho que é um risco, sinceramente, porque não vejo como e que é possível pôr o país a crescer, a criar riqueza que tanto necessitamos para podermos fazer face a toda a despesa que já existe no nosso país e que é próprio de um Estado Social. Não vejo como é que isto pode acontecer simplesmente com estímulos ao consumo privado, que muitas vezes é um consumo alimentado com importações e, portanto, do ponto de vista económico, nem puxa pela produção nacional. Em vez de ver políticas temperadas com um forte apoio ao investimento privado, estabilidade nas reformas laborais, estabilidade nas reformas fiscais, foco nas exportações e, sobretudo, confiança no ambiente económico que eu acho que não existe em Portugal.
E este Governo é desejável que dure a legislatura?
Para destruir como estão a destruir não é nada desejável. Nós estamos preparados e temos que nos preparar para exercer funções de governação em qualquer momento. Se me perguntar se é preferível ser daqui a quatro anos com o país entregue num caco, como foi em 2011 ou antes de lá chegarmos? Aí, com certeza que é antes de lá chegarmos, mas eu quero crer que o PS, também fruto das negociações com Bruxelas, há-de acertar e corrigir um bocadinho o tiro, porque de outra maneira de facto será muitíssimo negativo para Portugal.