12 fev, 2016 - 20:37
Marcelo Rebelo de Sousa afirma, em entrevista à Renascença, que os portugueses conhecem o seu estilo e que não vai mudar quando tomar posse como Presidente da República, a 9 de Março.
O próximo chefe de Estado marcou presença no OpenDay 2016 das rádios do grupo Renascença, que decorreu no edifício sede, em Lisboa.
“As pessoas conhecem o meu estilo e saberão projectar no futuro isso, em termos de exercício do cargo”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, que promete um mandato de proximidade com os portugueses e confessa que já está com a cabeça em Belém.
Que memórias guarda da Renascença?
Venho aqui por uma questão de gratidão histórica e pessoal. Gratidão histórica porque na minha família ouvíamos muito a Rádio Renascença e lembro-me que foi na Rádio Renascença que ouvi a notícia da morte do Papa Pio XII. Na altura não havia televisão, foi em 1958. E na Rádio Renascença acompanhávamos um conjunto de cerimónias religiosas, particularmente na Semana Santa.
Depois, ao longo da minha vida, estreitei laços com a Renascença e tive aqui um miniprograma, no começo dos anos 80, de comentário política. Tinha saído do Governo, em 1983, e fui convidado para fazer aqui análise política durante cerca de um ano ou ano e meio, aqui neste edifício. E lembro-me de histórias muito picarescas. Havia à entrada um senhor forte e alto, que tinha vindo de Moçambique e me dava de presente, sempre, um pacotinho de caril moçambicano. Guardo muito boas recordações desse ano, ano e meio, a viver nesta casa.
Quando eu era membro do Governo, houve a certa altura um contacto muito curioso. Admitiu-se a hipótese no Governo de Francisco Pinto Balsemão da concessão de uma canal de televisão ao Patriarcado de Lisboa. Lembro-me que a Renascença estava envolvida no processo. Chegou a ser estudada a hipótese e eu lembro-me, como secretário de Estado do Conselho de Ministros, se não mesmo como ministro dos Assuntos Parlamentares, de ter defendido a ideia, em abstracto, num debate na Assembleia da República.
Foram muitas relações ao longo dos tempos. Eu venho aqui recordar esses tempos e agradecer como ouvinte e como colaborar à Renascença a oportunidade que me deu.
Que relação tem com a Rádio como meio de comunicação?
Foi talvez o meio de que gostei mais, na minha vida ligada à comunicação social. Durante muitos muitos anos escrevi em jornais, também intervim na TV, mas o meio que mais fascinou foi a rádio. Era talvez o mais flexível. A rádio podia fazer-se de qualquer sítio, por telefone. De todos os meios, a rádio foi aquele que me deixou mais gratas recordações.
Podemos perspectivar mais portas abertas em Belém?
Eu tenho tido um princípio fundamental neste período a seguir à eleição e antes da tomada de posse, não me pronunciar sobre o que se vai passar depois do dia 9 de Março. Aquilo que eu disse já indicia o que eu penso em relação ao futuro. Está em funções um Presidente da República, assumirei funções a 9 de Março, até ao momento de assumir essas funções tudo o que seja estar a falar… Mesmo assim, têm sido divulgadas várias escolhas do futuro Presidente da República, mas mais do que isso penso que é prematuro estar a avançar. Mas as pessoas conhecem-me, conhecem o meu estilo, sabem como eu sou e, naturalmente, saberão projectar no futuro isso, em termos de exercício do cargo.
Em relação à tomada de posse, será de esperar alguma proximidade maior com as pessoas, na linha da campanha eleitoral?
Acho que é prematuro pronunciar-se sobre isso. O dia 9 é o dia da posse, o mandato começa aí. Haverá, certamente, muita ocasião para, na linha do que outros Presidentes da República já fizeram, de haver uma proximidade, que é uma ideia importante, em relação às portuguesas e aos portugueses.
Como tem sido o seu dia-a-dia na antecâmara da tomada de posse?
Tem sido fechar dossiers do passado e preparar dossiers para o futuro. Tinha uma actividade que estou agora a terminar, na Faculdade de Direito de Lisboa e numa instituição e, naturalmente, há uma passagem de testemunho. Isto demora algum tempo, ainda tenho provas académicas marcadas. No dia 18, tenho ainda uma prova de doutoramento, no dia 22 tenho um concurso em Coimbra para professor catedrático.
É aproveitar até ao fim?
Não sei se é aproveitar, propriamente (risos). Como imagina, a minha cabeça está já mais ligada a outras funções do que a essas. Mas são compromissos muito antigos e no dia 4 tenho um doutoramento no Porto. São os três últimos compromissos académicos e, entretanto, preparar a nova vida.