16 fev, 2016 - 14:20 • José Pedro Frazão
O PSD responde a António Costa com um "não" a entendimentos com o PS. Em declarações no programa "Falar Claro" da Renascença, o vice-presidente do PSD José Matos Correia rejeita acolher a sugestão de "consensos políticos amplos" avançada pelo primeiro-ministro em entrevista ao “Expresso”.
"Estou a fechar a porta. O Partido Socialista fez a sua opção e viverá com ela. Sempre e quando formos chamados a pronunciar-nos sobre algum assunto, votaremos – como sempre votámos – de acordo com a interpretação que fazemos do interesse nacional. Agora António Costa que não espere da parte do Partido Social Democrata abertura para fazer os entendimentos que ele recusou", afirma Matos Correia.
Questionado sobre a possibilidade de Costa recorrer ao PSD em nome do interesse nacional, se o apoio parlamentar à esquerda falhar, Matos Correia mantém a porta fechada. "Se quisesse fazer entendimentos que tivessem a ver com o interesse nacional, António Costa não tinha feito um acordo com o PCP e com o Bloco de Esquerda e com o PEV. Fez essa opção e viverá com ela", insiste o dirigente social-democrata.
No concreto, o que significa "fechar a porta" numa altura em que o debate político se centra nas dificuldades do Orçamento? Matos Correia assegura que o PSD não dará a mão aos socialistas na aprovação de contas do Estado.
"Se um orçamento não for aprovado em Portugal, é porque o PS não fez as opções que devia. Há um entendimento à esquerda que lhe garante a aprovação do Orçamento. Nesse quadro o PS disse que tinha acordo para quatro anos, confirmado pelos seus colegas de coligação. Vai ter que encontrar esse entendimento. Seria no mínimo estranho que o governo liderado pelo PSD fosse derrubado pelo governo do PS e que nós agora tivéssemos que servir de muleta à governação do Partido Socialista", clarifica o vice-presidente do PSD.
"Que Costa viva com o seu acordo de esquerda"
Matos Correia lembra que o PS "não quis o entendimento que lhe foi proposto com o Partido Social Democrata. E teve ainda o desplante de acusar o PSD de não querer o entendimento que o PS nunca quis obter, porque já estava a ponderar e a tratar de obter um acordo à sua esquerda. Fê-lo e, portanto, viva com ele. Não há entendimento".
Convidado a esclarecer em que circunstâncias o interesse de estado fará o PSD mudar de posição, o deputado e membro da direcção de Passos Coelho garante apenas: "Quando confrontados no Parlamento com iniciativas legislativas, venham elas de onde vierem, do PS, do CDS, do PCP, do Bloco de Esquerda, do PEV, sempre olhámos para elas de acordo com a interpretação que fizemos do interesse nacional. Agora, entendimentos, nessa acepção, não vale a pena".
O “casulo”
Na entrevista ao “Expresso”, António Costa acrescenta que "seria uma pena se o PSD continuasse fechado naquele casulo perdido no passado e não regressasse ao tempo presente”. Matos Correia reage com dureza: "Não sei se hei-de rir. Das duas uma: ou o primeiro-ministro teve um momento de humor que lhe saiu errado. Ou então não percebe nada disto.”
O vice-presidente do PSD critica o "ar esfíngico" de Costa nesta sugestão de consensos, ao mesmo tempo que opta por "uma solução governativa oposta aos consensos, quando se revoga, reforma e revê tudo o que foi feito, quando não se busca consenso em lado nenhum".
O deputado não deixa passar a referência ao "casulo" do PSD e contra-ataca com ironia. "Seguramente que o Partido Socialista nos podia dar lições em matéria de casulos pelo comportamento que teve durante quatro anos e meio e a recusa de fazer consensos, só com o medo de que fosse visto como estando encostado ao Governo e com medo da penalização eleitoral", responde Matos Correia no "Falar Claro".
Consensos com Bloco, PCP e PSD?
No programa de debate político da Renascença, o socialista Vera Jardim recusa a leitura da entrevista de António Costa à luz da discussão orçamental. "Não me cabe na cabeça que agora [Costa] vá agora pedir ao PSD que viabilize este orçamento", acrescenta o antigo ministro da Justiça.
O histórico do PS lembra que sempre defendeu entendimentos alargados também à direita do PS. "Quanto mais forças políticas estiverem envolvidas na solução de um conjunto de problemas que o país tem que defrontar tanto melhor. Isto deve abarcar obviamente também o PSD. Consensos com PCP, BE e PSD? Talvez seja possível. Dê o benefício da dúvida", remata Vera Jardim, dirigindo-se a Matos Correia.