01 mar, 2016 - 00:21 • Maria João Costa
É um “desafio grande” e “estimulante”, desabafa Elísio Summavielle, em entrevista à Renascença. O novo presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB) sucede a António Lamas, a quem o ministro da Cultura João Soares entregou esta segunda-feira à noite o despacho de exoneração do cargo.
Summaviele fala de um “convite generoso”. O até aqui adjunto do ministro da Cultura e ex-secretário de Estado da Cultura do Governo de José Sócrates traça como um dos seus primeiros objectivos: “Reavivar a vida do Centro Cultural de Belém e a sua programação”.
Em entrevista à Renascença, diz estar apostado em “tentar conjugar esforços em toda a zona de Belém, aproveitando o que há de bom e o mérito do trabalho que foi desenvolvido para dar um mapa a Belém e, sobretudo, ao CCB como pólo importante da nossa cultura”.
O novo responsável recorda que foi quando estava à frente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) que o edifício do CCB foi classificado como monumento nacional.
Belém e Berardo
Uma das questões da discórdia do ministro da Cultura, João Soares, e do agora exonerado presidente do CCB é o eixo Belém-Ajuda. Há muito que se fala no repensar da relação dos diferentes equipamentos culturais daquela zona de Lisboa, equipamentos esses que estão sob alçada de diferentes tutelas.
A António Lamas tinha sido encomendado um estudo, plano esse que foi classificado pelo ministro da Cultura como um “disparate total” devido à ausência de diálogo com a Câmara de Lisboa.
Questionado sobre a aposta para a zona de Belém, Elísio Summavielle é claro: “É um trabalho que será desenvolvido com a cumplicidade activa da Câmara de Lisboa” e no qual será “necessário juntar esforços para dar mais personalidade aquela zona da cidade”.
O novo presidente do CCB recorda que foi consigo, quando era secretário de Estado da Cultura, que foi iniciado o trabalho de diálogo entre as várias instituições de Belém.
Diz que irá aproveitar parte do trabalho já desenvolvido por António Lamas. “O trabalho que está feito e é positivo deve ser aproveitado, bem como todo o esforço de investimento que foi feito em levantamentos e tudo o que existe de documentação” será revisto e aproveitado, garante o historiador de formação.
Para a zona de Belém, sabe a Renascença, Elísio Summavielle defende a criação de uma associação que junte todas as instituições locais e que tenha uma coordenação com três a quatro elementos.
Em entrevista à Renascença, o novo responsável do CCB sublinha que “o que interessa é encontrar uma solução que envolva a cidade, a Câmara de Lisboa em primeiro lugar, o Ministério da Cultura, o da Defesa com a Marinha e a EDP, com a Fundação EDP, e todo esse universo de agentes numa ideia que só poderá beneficiar todos e que não os feche nas suas próprias instituições”.
Sobre a relação com a Fundação Berardo com quem a Fundação CCB partilha o espaço, Summavielle é categórico. Pretende “manter um convívio são e profícuo”.
O homem que esteve envolvido em projectos com a Lisboa 94, Capital Europeia da Cultura diz que se preocupa, sobretudo , com “a vida do próprio CCB e esse polo de áreas vastíssimas da cultura”.
Summavielle está mais apostado na juventude e em todas as artes, do livro, à literatura, da música, ao cinema que admite tem estado “tão ausente” ou das artes plásticas tão presentes no Museu Berardo.
Como será a programação do CCB
Questionado sobre que estilo quer adoptar como presidente do conselho de administração do CCB quanto à programação, Elísio Summavielle assume que “o presidente tem sempre a sua presença e o seu cunho pessoal”.
Evocando a experiência de anteriores responsáveis daquele equipamento cultural como António Mega Ferreira ou Vasco Graça Moura, Summavielle acrescenta que não tenciona prescindir de chamar a si a programação, mas ressalva: “Tudo o que fiz na vida foi ouvindo as pessoas, aconselhando-me, procurando encontrar consensos”.
Por isso, diz que terá uma “presença activa”, mas contará com “a colaboração de todos os que lá trabalham e de alguns a quem possa pedir conselhos”. É com esta programação que Summavielle conclui, quer “recentrar o CCB na cultura da cidade e do país”.