09 mar, 2016 - 10:46
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O novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, diz que os portugueses têm direito a viver numa "sociedade em que não haja, de modo dramaticamente persistente, dois milhões de pobres" e "mais de meio milhão em risco de pobreza".
Falando em "cicatrizar feridas", "recriar convergências" e "redescobrir diálogos", Marcelo exortou que "temos de sair do clima de crise em que quase sempre vivemos desde o começo do século, afirmando o nosso amor-próprio".
No primeiro discurso como Presidente, Marcelo prometeu “lutar por mais justiça social” e defendeu “o valor do respeito da dignidade da pessoa humana”, de “pessoas de carne e osso, com direito a serem livres” numa sociedade sem "chocantes diferenças entre grupos, regiões e classes sociais".
Defendendo a viabilidade financeira e o crescimento económico, Marcelo fez questão de sublinhar que a justiça social "supõe efectiva criação de riqueza, mas não se satisfaz com a contemplação dos números, quer chegar às pessoas".
Na mesma linha, o Presidente apontou a necessidade do rigor financeiro, sem o qual "o risco de regresso ou de perpetuação das crises é dolorosamente maior", mas sem esquecer que "finanças sãs desacompanhadas de crescimento e emprego podem significar empobrecimento e agravadas injustiças e conflitos sociais".
O "Presidente de todos sem excepção"
Neste discurso inaugural da sua Presidência, Marcelo concluiu afirmando-se o "Presidente de todos sem excepção", "nem a favor nem contra ninguém", garantindo ser essa a linha política que o guiará "do princípio ao fim do seu mandato".
Do jovem desempregado "que quer exercitar as suas qualificações", à mulher que "espera ver mais reconhecido o seu papel", ao "pensionista que sonhou com um 25 de Abril que não corresponde ao seu actual horizonte de vida", passando pelo cientista, o agricultor, o comerciante e o industrial que dia-a-dia "sobrevivem ao mundo de obstáculos que os rodeiam"; ao trabalhador que "paga os impostos que vão sustentando o Estado Social" e até ao "novo e ousado talento que vai mudando a nossa sociedade", Marcelo quis traçar o retrato de "todos e muitos mais" de quem pretende ser "a favor".
No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a "reforma de instituições que se tornem notoriamente desajustadas ou insuficientes", prometendo ser "um guardião permanente e escrupuloso da Constituição" para a qual contribuiu como "jovem constituinte" e, mais tarde, acompanhando as suas principais revisões.
O mar como prioridade nacional e os desafios "incómodos" mas "prementes" da Europa
O Presidente notou também a importância do mar, que deve ser assumido como uma "prioridade nacional" "nascida de uma geoestratégia e, sobretudo, de uma vocação universal", aproveitando para citar António Lobo Antunes: "Se a minha terra é pequena, eu quero morrer no mar".
Marcelo Rebelo de Sousa apontou ainda três questões externas "prementes" e "relevantes", "mesmo se incómodas": "Os desafios dos refugiados na Europa, da não discriminação económica e financeira na CPLP e das fronteiras da Aliança Atlântica."
O Presidente concluiu com uma longa citação de Miguel Torga, sublinhando "a indomável inquietação criadora" que distingue os portugueses "dos demais": "Ela nos fez como somos, grandes no passado, grandes no futuro. Por isso, aqui estou. Pelo Portugal de sempre", rematou.
Marcelo Rebelo de Sousa jurou esta quarta-feira cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, num juramento feito num exemplar original de 1976.