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Jorge Sampaio desmente Durão Barroso sobre Cimeira das Lajes

08 mai, 2016 - 09:14

Sem nunca citar textualmente o nome de Durão Barroso, Jorge Sampaio, no artigo publicado na edição digital do Público, diz que foi “inspirado pela leitura dos semanários de fim de semana”, o que o levou a “fazer uma breve revisitação dos anos 2002-2003".

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O antigo Presidente da República Jorge Sampaio afirma que “não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar actos de política externa”, respondendo ao ex-primeiro-ministro Durão Barroso, que disse que Sampaio concordou com a Cimeira das Lajes.

Num artigo de opinião que assina este domingo no jornal Público - intitulado “Iraque, evocações presidenciais” -, Sampaio começa por referir que “costuma dizer-se que a memória é selectiva e que os relatos históricos são reconstruções narrativas”, para depois sublinhar que “as chamadas fontes em história permitem colmatar lacunas e reconstituir factos passados”.

Este artigo de opinião de Jorge Sampaio, que foi Presidente da República (PR) de 1996 a 2006, surge no dia em que a SIC e o Expresso divulgaram uma entrevista ao ex-primeiro-ministro Durão Barroso, em que este adianta que consultou o então Chefe de Estado e que este concordou com a realização da Cimeira das Lajes, que esteve na origem da invasão do Iraque.

“Sim. Foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final. Depois de me ter sido proposto isso pelos outros países”, afirmou Durão Barroso, sublinhando que contou, “na altura, com o apoio do parlamento português e com o apoio do Presidente da República de Portugal, o dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava”.

Sem nunca citar textualmente o nome de Durão Barroso, Jorge Sampaio, no artigo publicado na edição digital do Público, diz que foi “inspirado pela leitura dos semanários de fim de semana”, o que o levou a “fazer uma breve revisitação dos anos 2002-2003 deste século, determinantes que foram para o caos que hoje se vive no plano internacional”, designadamente no Iraque.

Jorge Sampaio afirma que a literatura internacional “dá pouca ou nenhuma importância” à Cimeira das Lajes e ao “processo que levou à sua realização nas Lajes - e não em Washington, Londres, Barbados e Bermudas, como terá sido ventilado”.

O antigo chefe de Estado recorda, no entanto, um telefonema que recebeu do então primeiro-ministro Durão Barroso, “pelas sete da manhã do dia 14 de março” de 2003, em que lhe pediu “uma reunião de urgência”.

“Para minha estupefacção, tratava-se de me informar que havia sido consultado sobre a realização de uma cimeira nos Açores, essa mesma que, nesse mesmo dia, a Casa Branca viria a anunciar para 16 de Março, daí a pouco mais de 48 horas”, escreve Jorge Sampaio.

O antigo Presidente da República afirma que “não é preciso ser-se perito em relações internacionais para se perceber que eventos deste tipo não se organizam num abrir e fechar de olhos”, e acrescenta que “também não é necessário ser-se constitucionalista, para se perceber que não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar atos de política externa”.

Sampaio diz, porém, que “nada teria a opor”, verificando-se os pressupostos de que Durão Barroso lhe tinha dado conta: “Transmiti claramente que, tratando-se, como o meu interlocutor afiançava, de uma derradeira e essencial tentativa para a paz e evitar a guerra no Iraque, nada teria a opor”.

O antigo Presidente da República recorda que “a questão do Iraque” surgiu nos contactos institucionais que mantinha com o então primeiro-ministro, “no início de setembro de 2002” e cita uma “extensa conversa telefónica” a 09 de setembro.

“Recordo bem esta conversa, não só por ter marcado a introdução da questão do Iraque na agenda interna, de que passou a ser um ponto recorrente, como por ter revelado ‘ab ovo’ [de início] as diferenças de posição entre mim e o chefe do executivo”, escreve hoje Jorge Sampaio.

O ex-chefe de Estado diz que, na altura, ficou com a convicção de que “o Iraque se viria a tornar num fator de polarização PR versus PM”, uma convicção que se foi “adensando” e que se tornou “evidente” no encontro semanal entre ambos do dia 19 de setembro desse ano.

No entanto, Sampaio diz que procurou “gerir esta divergência de forma adequada, sem a tornar num fator de vulnerabilização do funcionamento regular” das duas instituições.

Jorge Sampaio escreve que, já em 2003, “a divisão europeia tornou-se óbvia”: por um lado, estavam Chirac e Schröder, que manifestaram uma “oposição a qualquer ação militar sobre o regime iraquiano” e, por outro, “a chamada ‘carta dos Oito’, publicada a 30 de janeiro”, que Durão Barroso subscreveu, tendo informado o Presidente “na véspera” de o fazer.

Sampaio diz que Durão não lhe mostrou o texto da carta, mas que lhe deu argumentos que depois apresentou no parlamento, ou seja, que, “para Portugal, a neutralidade não era opção”.

O ex-Presidente da República recorda também uma declaração que fez ao país a 19 de março de 2003, já depois da Cimeira das Lajes, em que diz ter deixado “sempre clara a importância de preservar o papel do multilateralismo na construção da paz e na resolução dos conflitos, bem como o da desejável unidade e autonomia europeias em matéria de política externa”.

Jorge Sampaio termina este artigo de opinião a destacar que “o Presidente tem o direito constitucional a mostrar a sua discordância perante a condução da política externa e não está obrigado a acatar, sem intervenção e passivamente, decisões assumidas pelo Governo”.

Referindo-se concretamente à Cimeira das Lajes, Sampaio acredita ter conseguido “uma posição equilibrada”, por ter evitado “abrir um conflito institucional que em nada serviria o país”, ao mesmo tempo que, opondo-se ao envio de tropas para o Iraque, afirmou “decisivamente o papel efetivo do presidente como comandante supremo das Forças Armadas”.

As últimas linhas do texto de Jorge Sampaio são dedicadas àquilo a que descreve como “um princípio de natureza geral”: “Na política como na vida, importam tanto os resultados como os processos, pelo que a estratégia dos factos consumados contribuem pouco para reforçar a confiança mútua que é o cimento dos laços sociais e do funcionamento das instituições em democracia”, disse.

A 16 de março de 2003, reuniram-se na ilha Terceira, na base das Lajes, nos Açores, o Presidente norte-americano George W. Bush, o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, tendo sido recebidos pelo então primeiro-ministro português Durão Barroso.

Quatro dias depois, na madrugada de 20 de Março, tinha início a invasão militar do Iraque.

Comentários
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  • amorabe
    09 mai, 2016 Gondomar 18:26
    Dois exemplos típicos da politica, ninguém quer a batata quente neste caso de má memória, por ventura mesmo desastroso para toda aquela região onde o entendimento e a paz tardam a chegar... Esqueçam o passado e usem-no, dentro das vossas grandes experiências de vida no sentido de encontrar soluções humanamente inteligentes.
  • Muito nobre
    08 mai, 2016 cidade invicta 19:49
    Se a hipocrisia fosse musica grande orquestra tocaria neste país. Barroso aceitou a Cimeira dos Açores, melhor o conteúdo da cimeira, por lhe terem prometido Um lugar na Europa, Sampaio, um lugar na ONU, Criado de propósito para ele, Guterres como líder da oposição um lugar na ONU, Santana Lopes, lembram-se! " está escrito nas estrelas" o lugar de primeiro ministro. Já não falo de Asnar porque me lembra Atocha, e a promessa de um atentado que o levaria a......
  • Indignado
    08 mai, 2016 Tomar 18:56
    A censura não gosta que se relembrem as verdades? Porque apagaram o meu comentário?
  • Indignado
    08 mai, 2016 Tomar 17:35
    De um simpatizante de Nicolai Ceausescu e seu regime de trevas, de um apoiante de Otelo a presidente nas eleições de 1976, de quem tem um tacho numa fundação ruinosa, como a Guimarães, o que se poderia esperar? Diz o que lhe convém..., como fazem os democratas vermelhos!
  • Continuam
    08 mai, 2016 lx 15:09
    a dar credibilidade a um Cherne e um Farsola! Estes 2 estão bem um para o outro! Cada um à sua maneira como bons mentirosos compulsivos! Ainda ontem o Farsola afirmou publicamente que nunca esteve em inaugurações e a seguir foi desnascarado com pelo menos 5 imagens onde esteve presente em varias inaugurações! Continuem a acreditar nestes PSDs pseudo social-democratas não passando de verdadeiros figurões! Farto desta gentalha sem ética nem principios!
  • Jorge Barroso
    08 mai, 2016 Kuelha 12:57
    Pois é, zangam-se as comadres...! Confesso que nunca fui à bola com o Jorge "Compaio", mas muito menos "como cherne gordo! Faz-me confusão como é que é possível as tvs, rádios, jornais, etc, continuarem a dar tanto tempo de antena e tanto destaque a estes pandeiros ricos, porque na verdade eles sã alguns dos principais causadores da ruína e da bancarrota de Portugal!
  • Jorge Pereira
    08 mai, 2016 Lisboa 12:51
    Na verdade, a intervenção americana no Iraque de Sadam causou o pior desastre da história recente. A coberto da miserável falta de inteligência e de cultura do pior presidente americano de todos os tempos, os tempos de horror que vivemos na Europa, o desastre dos refugiados, o terrorismo crescente de senhores da guerra que aproveitam o vazio de poder deve-se a um único homem e à sua nomenclatura de poder que o rodeava então: George W. Bush. Importa fazer essa história com serenidade e sobretudo importa olhar para a Europa que continua à deriva, sem uma linha humanista que a oriente, um conjunto de valores que a façam distinguir. Julgo que mais do que nunca, estamos reféns dessa falta de liderança da Europa, vazia que está de valores e de humanismo. Não nos basta declarar constantemente que estamos em guerra, quando não estamos a perceber que nos perdemos algures nesses anos em que seguimos linhas que procuraram apenas salvaguardar interesses de cariz económico e geopolítico, esquecendo que como países de valor e de um passado com história nada ficou. A guerra é a pior das decisões e pior é quando é feita por pessoas que nada sabem do que as rodeia.
  • Alberto Sampaio
    08 mai, 2016 Portugal 12:28
    aqui não há preto e branco. O regime de Saddam foi responsável por milhões de mortos. Dizer que não à intervenção também seria concordar com esses crimes. Para quem não se importa com eles, a resposta é simples. Para os outros será sempre complicada. Hoje, sabemos que não havia armas de destruição massiva...
  • Luis
    08 mai, 2016 Lisboa 10:14
    Coitado do cherne pôdre, agora tarde e a más é que se apercebeu que o ter sido mordomo nas Lages é algo que está cravado como um autêntico ferrete no seu passado politico que lhe condiciona o presente e que lha vai condicionar o futuro para todo o sempre. Como é um individuo sem qualquer ética e moral tenta minimizar a sua responsabilidade dividindo-a por outros. O PSD durante dezenas de anos pariu muito escroque. Este talvez tenha sido um dos maiores pois para satisfazer as suas ambições pessoais e politicas é capaz de vender a alma ao diabo. Só lhe falta dizer que também mostrou ao Sampaio as provas da existência das armas massivas.É um pulha mediocre e parasita que também já deveria estar preso há muito. Bendita Patria que tanto filho da dita pariu.

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