04 jun, 2016 - 00:10 • Eunice Lourenço e Susana Madureira Martins
Primeiro o aviso a Bruxelas: O PS não cortou nem corta 600 milhões na Segurança Social “doa a Bruxelas o que doer”. Depois o aviso ao Presidente da República e aos seus pedidos de consenso: “Num país onde toda a gente tanto apela aos consensos” o primeiro-ministro o líder socialista diz que não é só com a direita que os consensos são bons.
Foram estes os dois avisos deixados por António Costa no primeiro discurso que fez no 21º congresso do PS, que começou esta sexta-feira, na Feira Internacional de Lisboa e em que também anunciou que o Conselho de Ministros da próxima semana vai aprovar o Fundo para a Reabilitação Urbana, um das apostas socialistas para dinamizar a economia e criar emprego.
Esse fundo, que terá mil milhões de euros, uma parte dos quais saído do fundo de estabilização financeira da Segurança Social, é uma das bandeiras deste Governo, tal como a descida do IVA da restauração, que vai entrar em vigor no início de Julho. Ambos são a esperança do Governo para a criação de emprego. “Emprego, emprego, emprego” é a prioridade deste Executivo, lembrou António Costa perante uma sala meio vazia.
O líder socialista começou por lembrar o que já foi conseguido pelo seu Governo: A recuperação de uma posição de 50% na TAP, a reposição dos feriados, a aposta no Simplex, o aumento do salário mínimo, o regresso das 35 horas para os funcionários públicos.
“Prometemos e cumprimos”, repetiu várias vezes o primeiro-ministro, lembrando outra promessa. “O compromisso de não fazermos o corte de 600 milhões nas pensões com que a direita se tinha comprometido com Bruxelas e que nós nos comprometemos com os portugueses a não fazer e não fizemos doa a Bruxelas o que doer”, afirmou o primeiro-ministro, nunca respondendo ao desafio que lhe tinha sido lançado à tarde pelo líder do PSD para uma reforma do financiamento da Segurança Social.
António Costa disse que podia dar “inumerosos exemplo” do bem que o seu Governo fez e prometeu um “novo olhar para o chamado interior”. A Unidade de missão entretanto criada deve apresentar em Setembro o plano para o interior.
Elogio do consenso à esquerda
Depois do deve e haver governativo, o discurso ideológico, com o elogio do acordo à esquerda que faz parte da sua moção e que os congressistas vão votar este sábado “aprovando ou não de forma inequívoca esta solução”. O agora primeiro-ministro lembrou o seu discurso no congresso de Novembro de 2014 em que recusou qualquer solução de Bloco Central.
“Um PS capturado e refém da direita é um partido que não cumpre a sua missão histórica de ser alternativa à direita. A única forma de nos libertarmos da direita era dizer que não excluíamos qualquer partido”, afirmou o líder socialista, que saudou os seus parceiros de maioria pela “coragem” em ultrapassar as diferenças e entenderem-se no “fundamental”.
“É curioso que num país onde toda a gente tanto apela aos consensos, irrite tanto este consenso que se forma à esquerda como se só houvesse consensos bom quando é consenso com a direita”, afirmou Costa, que ainda lançou umas farpas ao Governo de Passos e Portas, mas sem nomear ninguém, nem fazer ataques a propostas actuais de Passos Coelho ou Assunção Cristas.
“Devolvemos às famílias e à sociedade portuguesa algo muito simples mas essencial: podermos viver com tranquilidade, com normalidade o nosso dia-a-dia”, sem “violar a Constituição” em cada Orçamento do Estado.
Quanto ao futuro, o grande desafio estratégico é a execução do Plano Nacional de Reformas. “Temos enormes desafios para relançar a economia e responder aquele que dissemos ser o grande objectivo da nossa política económica que é emprego, emprego, emprego. É esse o caminho a que temos de dar continuidade”, afirmou o primeiro-ministro, que garantiu ser possível ter um clima de cooperação com todos os órgãos de soberania.
António Costa lembrou que já trabalhou com dois Presidentes da República “diferentes entre si”, mas garante que a ambos deu o tratamento devido ao mais alto magistrado da nação.
E no que diz respeito aos próximos desafios eleitorais – as autárquicas – e à relação com os parceiros de maioria, o líder socialista citou o secretário-geral comunista: “Não há pacto, nem há agressão.”