13 jun, 2016 - 07:00 • Eunice Lourenço, enviada Paris
O apelo foi feito pelo reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Paris. “Nas visitas que o nosso Presidente fizer às comunidades portuguesas por esse mundo fora, arranje maneira de o Presidente se encontrar com os portugueses mal sucedidos”, disse o padre Nuno Aurélio na missa a que Marcelo Rebelo de Sousa foi, no domingo. E, em declarações à Renascença, o Presidente promete: “Vou fazer isso. Obviamente!”
A missa não fazia parte do programa oficial da visita do chefe de Estado a Paris, só da sua agenda pessoal. Mas Marcelo não fez qualquer segredo e até anunciou que ia, em declarações aos jornalistas, à saída da delegação parisiense da Gulbekian. “Há diversidades: eu vou à missa, o senhor primeiro-ministro não vai à missa porque temos visões diversas sobre aspectos” da vida, respondia o Presidente da República, questionado sobre a “lua-de-mel” que protagonizou em Paris, com António Costa, ao longo do fim-de-semana.
E lá foi Marcelo Rebelo de Sousa para a missa. Para a “salvação da alma”, como gosta de dizer e repetiu domingo de manhã antes de sair da Gulbenkian. “A salvação da alma começou já aqui, agora é só aprimorá-la num contexto diferente”, disse, depois e ouvir várias exposições sobre a actividade da fundação.
À sua espera tinha cerca de 700 pessoas no santuário de Nossa Senhor de Fátima, uma igreja construída após a II Guerra Mundial em agradecimento por Paris não ter sido destruída e entregue em 1988 à comunidade portuguesa pelo cardeal Lustiger.
Mensagens para o rebanho e para os políticos
O Presidente chegou já com meia hora de atraso e ainda ficou no adro a ouvir os jovens a cantar e a trocar alguns cumprimentos. Afinal, ali ninguém tinha pressa, não é todos os dias que se tem o Presidente da República a participar na missa. E foi uma missa de festa, bem celebrada, com um coro a ajudar ao louvor a Deus e uma assembleia aprimorada nos seus fatos domingueiros.
Mas o reitor do santuário, o padre Nuno Aurélio, tinha alguns recados a dar. Ao seu rebanho e aos políticos. Aos portugueses e aos franceses. Logo no texto que leu no início da celebração, pediu para que “quem governa em Portugal e França tenha o verdadeiro humanismo de não recear” quem tem fé e a põe em prática. Mas também avisou: “Não se lembrem de nós só nos actos eleitorais.” E França já está em pré-pré-campanha para as presidenciais do próximo ano.
Quanto à comunidade portuguesa, o reitor alertou para os perigos de se preocupar só com nomes de ruas e de se sentir comunidade só comunidade nos campeonatos de futebol, desafiando as suas ovelhas a serem mais participativas nos actos eleitorais e culturais. E também nas preocupações sociais.
Depois, na homilia, o reitor pediu aos serviços da Presidência: “Nas visitas que o nosso presidente fizer às comunidades portuguesas por esse mundo fora, arranje maneira de o Presidente se encontrar com os portugueses mal sucedidos.” E citou, nomeadamente, os portugueses que estão nas prisões, que em França são centenas.
Uma introdução e uma homilia com destinatários. Política, mas, como justificava o padre Nuno Aurélio no fim da missa, enquanto ia cumprimentando os fieis de todos os dias e os convidados para a festa, “a Igreja é apartidária, não é apolítica”.
O Presidente – que passou estes três dias de visita a Paris a elogiar os portugueses e a dizer que Portugal é o maior - ouviu os recados e compromete-se a segui-los. “Vou fazer isso. Obviamente! Claro. Como tenho feito em Portugal, isto é ir a locais onde há problemas sociais complexos. Ou directamente aos problemas ou às instituições sociais que tratam desses problemas porque é para se ter os vários lados da realidade. Não é apenas o lado de ‘sucesso’, isto é de avanço económico, social, cultural, educativo, mas também aquelas manchas de pobreza de desigualdade, de injustiça”, afirmou à Renascença.
Ainda assim, Marcelo considera que, já neste Dia de Portugal, deu um passo nesse sentido ao condecorar porteiras que ajudaram as vítimas do ataque terrorista ao Bataclan. “Quando houve homenagem essencialmente a portugueses de um meio muito modesto, mas que foram heróicos, o seu sucesso não foi o sucesso clássico, não foi o sucesso da riqueza, nem o sucesso do poder político, nem do poder social. Veja que os condecorados não são empresários, não são os condecorados tradicionais, são condecorados diferentes”, justifica o Presidente, que também ouvir o reitor do santuário que serve a comunidade portuguesa exortá-lo: “Que a caridade e a misericórdia sejam a força da sua presidência.”