30 ago, 2016 - 11:36
A antiga ministra do Governo de Passos Coelho defende que o objectivo de ter 3% de défice é pouco ambicioso. Maria Luís Albuquerque traçou, esta segunda-feira, um cenário negro para o país com a actual política do Governo.
“Esquecemo-nos, aparentemente, que 3% é o máximo que se deve atingir, mas não é o objectivo. O objectivo tem de ser não ter défice”, começou por dizer em Castelo de Vide.
“Quando país tem o nível de dívida pública que Portugal tem, o objectivo só pode ser ter excedente orçamental, para conseguirmos reduzir a dívida pública em valor absoluto e não apenas em percentagem do PIB. Portanto, ficar abaixo de 3% é um objectivo de passagem, num caminho daquilo que deve ser o nosso verdadeiro objectivo de médio prazo”, explica Maria Luís Albuquerque.
Perante os alunos da Universidade de Verão do PSD, a ex-ministra das Finanças rejeitou qualquer obsessão com o défice e diz que obcecado com os números é o actual Governo.
“Mais uma vez, quem parece não se preocupar com os números acabará por prejudicar as pessoas. Eu diria até que não se pode dizer que este Governo não se preocupa com os números, porque dia sim-dia sim fala no objectivo do défice. Nós estávamos obcecados, não sei exactamente qual é o termo que aplicam à preocupação que têm – que é legítima e que eu, apesar de tudo, espero que seja defendida. Tenho as minhas dúvidas que consigam [cumprir as metas do défice], mas proclamam, pelo menos, ter esse objectivo”, afirmou.
"Uma sucessão de trapalhadas"
No que toca à Caixa Geral de Depósitos, Maria Luís Albuquerque diz que “o que tem sido feito é um manual do que não deve ser feito ou do como não se deve fazer. Tem sido uma sucessão de trapalhadas que desrespeita a instituição, o conselho de administração que ainda está em função e que deve ser elogiado”.
“Eu acho que a administração que está de saída merece uma palavra de elogio e a que vai entrar entra, desnecessariamente, fragilizada”, critica ainda, condenando também a ausência de explicações por parte do Governo sobre o acordo de princípio que está a ser negociado desde Abril e sobre o qual ainda pouco se conhece.
"Há muitas coisas que ainda não sabemos e que é fundamental que se venham a saber, nomeadamente quanto é que isto custa aos portugueses e quanto custa de várias formas", referiu a vice-presidente do PSD.
Maria Luis Albuquerque apontou algumas das perguntas para as quais ainda não existe resposta: "Quais são os custos de reestruturação? O que é que isso tem de implicação na actividade da Caixa, na implantação no território, aquilo que tem de impacto na sua componente de negócio internacional, o que é que vai acontecer também nessa frente? E, muito importante, para quê? Porque é que está a ser feito isto na CGD, o que é que a CGD vai ser capaz de fazer mais e melhor com as condições que este plano lhe dará?".
Na opinião da ex-ministra, o PS está hoje “muito mais próximo da extrema-esquerda, até desviando muito dos seus valores”, numa “alteração no seu posicionamento político” que o tempo dirá “se é uma transformação estrutural ou meramente uma posição de conveniência”.
“Assistimos a uma comunhão de valores com partidos mais à esquerda a que nunca tínhamos assistido no passado e que geram conflitos que é difícil neste momento perceber como terminarão, nomeadamente o compromisso de respeitar as regras europeias, embora os próprios já tenham demonstrado alguma abertura”, considera.
A Universidade de Verão do PSD decorre até domingo e conta com Jaime Gama e a maestrina Joana Carneiro entre os convidados.