14 nov, 2016 - 20:02
A CGTP considera “miserável” a proposta dos patrões para um aumento de 10 euros no salário mínimo para o próximo ano. A confederação empresarial (CIP) aponta para os 540 euros na actualização, defendendo que as empresas não podem comportar mais, sob risco de fecharem.
Para o líder da CGTP, a proposta é miserável e deveria “envergonhar” quem a propõe. “Querem fazer um acordo a partir desta proposta? Isto é uma proposta miserável, devia envergonhar quem a faz”, declarou Arménio Carlos.
“E não nos venham dizer que as empresas não podem pagar, não eram os mesmos que diziam que se o salário mínimo fosse para os 530 euros que íamos ter aí um tsunami de encerramentos de empresas e de desemprego? Onde e que eles estão, vocês conhecem? Nós não”, afirmou o líder da intersindical.
“É que a mentira repetida muitas vezes, quanto maior for, as vezes acaba por se tornar uma grande verdade. E não é uma grande verdade, é uma grande mentira”, criticou Arménio Carlos. O secretário-geral da central sindical sublinha ainda que os patrões insistem num argumento velho, quando dizem não conseguir ir além de 10 euros de aumento.
"Estas confederações patronais representam sectores em franca expansão económica, como o turismo ou a restauração", vincou o sindicalista, declarando que os patrões têm uma "estratégia" de dizer não ter dinheiro para aumentar o salário mínimo nacional e acenarem com o "papão dos encerramentos e despedimentos".
O sindicalista falava no Palácio de Belém, em Lisboa, após uma delegação da CGTP ter sido recebida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com um eventual entendimento social a médio prazo em cima da agenda.
"Não percebemos por que há-de ser impossível [um acordo]. O que vai determinar são as opções", prosseguiu o líder da central sindical.
Os 600 euros de salário mínimo para 2019, estipulados por exemplo no acordo político entre PS e Bloco de Esquerda (BE) de viabilização ao actual Governo são "muito curtinhos", referiu Arménio Carlos.
“Para nós, a nossa proposta é susceptível de ser concretizada, mas estamos disponíveis para conversas", continuou ainda Arménio Carlos.
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu esta segunda-feira os parceiros sociais, em audiências que começaram de manhã, com o presidente do Conselho Económico e Social, Correia de Campos, e se prolongam até ao final do dia.
Numa iniciativa paralela, ao começo da tarde, o Presidente da República afirmou querer avaliar com os parceiros sociais quais as medidas económicas e sociais que estes consideram importantes a médio prazo e se é possível ou não haver acordos.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o objectivo das reuniões de hoje é ouvir os parceiros sobre "o que é que é importante fazer económica e socialmente em Portugal" e perceber se "há acordo, não há acordo, onde é que há acordo, onde é que não há", a pensar nos próximos três ou quatro anos.
UGT: Se não houver acordo, mais vale "fechar a porta"
O secretário-geral da UGT defendeu que deve haver um acordo sobre salário mínimo e legislação laboral, caso contrário, mais vale "fechar a porta" à concertação social.
"Se não houver acordo de concertação social, devo dizer-vos, vale mais fechar a porta e acabarmos com a concertação social em Portugal. Esse é o caminho para os parceiros que não quiserem estar disponíveis para um acordo de concertação: fechar a porta e acabar com a CPCS no nosso país", declarou.
Carlos Silva assumiu esta posição em declarações aos jornalistas no final de uma reunião com o Presidente da República, manifestando-se incomodado por o Governo ter feito um acordo sobre o aumento do salário mínimo com o Bloco de Esquerda, à margem da concertação social.
"Por que diabo é que nós não havemos de estar incomodados por na concertação social pela primeira vez em tantos anos - existe há 30 anos a concertação - o salário mínimo ser discutido entre partidos e não entre nós? Se quem investe e cria emprego são os patrões e quem precisa de trabalho e quem é empregado são os trabalhadores?", questionou.
"Se nós somos os principais interessados, devemos ser nós os primeiros e os últimos a serem ouvidos e a dar o nosso contributo", defendeu.
CIP diz que "tudo" fará para viabilizar acordo de médio prazo
A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) disse por seu lado que "tudo" fará para viabilizar um acordo de médio prazo em concertação social, mas sublinhou que, em matérias como o salário mínimo, não pode haver "mal entendidos" entre os parceiros.
António Saraiva, presidente da CIP, falou aos jornalistas no final de uma audiência de quase uma hora no Palácio de Belém, e não fugiu a questões em torno do aumento salário mínimo nacional.
Lembrando que há um acordo em vigor até final do ano, o responsável disse que a CIP não se importa de "definir um valor" para o médio prazo, "até 2019, 2020", mas considerou que não pode haver "subterfúgios e mal entendidos" sobre os critérios para estipular esse valor: "produtividade, crescimento económico e inflação".
"Se os parceiros sociais e o governo tiverem o mérito de encontrar a forma para um acordo de médio prazo em sede de concertação social, reforçaremos o papel da concertação.”
A CIP diz-se disponível para trabalhar sobre um eventual acordo, e elogiou Marcelo Rebelo de Sousa por funcionar como um "elo agregador" de vontades nesta matéria.