28 nov, 2016 - 08:57
O PSD e a oposição em geral “andam profundamente distraídos”, diz Luís Marques Mendes. “Se eu descobri [que os gestores da Caixa estavam isentos de entregar as declarações de rendimento e património], maior obrigação tinham os partidos, a começar pelo PSD e pelo CDS” de o ter feito, sustenta.
Convidado do programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, o antigo líder social-democrata deixa críticas ao Governo, que fez tudo para "esconder" o caso das declarações, mas também à liderança do seu partido e acusa a oposição de não fazer, “minimamente, o papel que deveria fazer”.
O PSD “não anda com a imaginação e o talento que deveria ter” e “a culpa é, em primeiro lugar, da liderança e depois um bocadinho responsabilidade de todo o partido”, afirma. “Gostaria que as coisas corressem melhor”, admite, reconhecendo que “não é fácil fazer oposição”.
A solução, diz, é mudar de atitude. “Sou um optimista de bem com a vida e recomendo aos dirigentes do meu partido que não andem zangados”.
“Eu sou amigo de Passos Coelho e acho que é uma pessoa bem formada. Compreendo-o bem: ganhou as eleições e tinha a expectativa de ir para o poder. Tudo isso é legítimo e é humano e se estivéssemos no lugar dele provavelmente também estaríamos magoados. Mas há um tempo para fazer o luto e depois temos de dar a volta”, afirma.
Por isso, “a linguagem, o tom e a atitude” do PSD vai ter de mudar enquanto oposição, defende Marques Mendes.
Caixa. Secretário de Estado fica numa “situação insustentável”
O presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos demitiu-se no domingo, depois de muitas semanas de polémica em torno da entrega das declarações de rendimento e património ao Tribunal Constitucional.
António Domingues não terá gostado da lei aprovada pelo Parlamento, com o voto do Bloco de Esquerda, que obriga os gestores da Caixa a entregar as declarações mesmo que os juízes do Constitucional viessem a decidir o contrário. PCP e PS votaram contra por entenderem que a actual lei, de 1983, já obriga à apresentação do documento.
“Tudo isto é profundamente lamentável. A Caixa está praticamente há um ano parada, sem gestão, e estas cinco semanas foram deploráveis”, afirma Marques Mendes na Renascença.
Na semana passada, o social-democrata avançava, no seu espaço de comentário na SIC, que os administradores da Caixa Geral tinham decido entregar as suas declarações ao Tribunal Constitucional “e que, nessa ocasião, vão pedir que haja confidencialidade – ou seja, que o tribunal autorize que não sejam divulgadas à opinião pública”.A aprovação daquela diploma na Assembleia da República terá sido a gota de água num mal-estar já difícil de disfarçar entre o Governo e António Domingues.
"Ninguém tem razão"
“É daquelas coisas em que ninguém tem razão. O Governo não tem porque criou a expectativa a António Domingues de que ele e os seus pares não iam ter de apresentar declarações de rendimento e património. Mas depois António Domingues passa a ter culpa a partir do momento em que a polémica veio a público”, analisa.
Marques Mendes considera que ou Domingues se demitia ou decidia manter-se e apresentar a declaração, apesar de lhe terem prometido o contrário. "[Mas] O que invocou foi que se sentia ofendido e maltratado com a lei aprovada na quinta e depois reafirmada na sexta no Parlamento. Eu acho que é mais pretexto do que argumento. Foi uma espécie de gota de água”.
Da parte do Governo, “o secretário de Estado Mourinho Félix fica numa situação insustentável, porque foi ele que conduziu as negociações, porque foi ele que criou as expectativas, que fez as promessas. Evidentemente que teve cobertura superior, mas o secretário de Estado fica numa situação muito fraca”.
Ainda assim, considera Marques Mendes, Mourinho Félix “vai ficar no Governo, porque num primeiro momento nunca se mudam as pessoas, mas numa próxima remodelação sai pela porta pequena”.
“Fizeram tudo para esconder isto”
“Se há cinco semanas eu não tenho descoberto e denunciado [que os administradores da Caixa estavam isentos de apresentar as declarações], provavelmente isto passava. Este acordo foi feito na perspectiva de que ninguém iria descobrir”, denuncia Luís Marques Mendes.
“Tudo isto se descobria se [os partidos] tivessem lido com atenção o decreto-lei que o Governo fez publicar no dia 28 de Julho – de resto, ali em véspera de férias, que é quando não se liga ao Diário da República”, acrescenta.
Um noctívago na Manhã
Foi com algum esforço que Marques Mendes compareceu de manhã, pelas 8h30, no programa Carla Rocha – Manhã da Renascença. “Sou um noctívago. Estudei muito à noite, gosto de trabalhar à noite e custa-me tanto deitar cedo como levantar cedo”, disse.
Mas não é isso que lhe retira a boa disposição. “De modo geral, ando de bem com a vida. Todos temos problemas, mas eu prefiro olhar para o lado positivo”. E com humor: “Gosto de brincar comigo mesmo, com a minha estatura. Toda a gente acha que sou baixinho, eu acho que sou ajeitadinho."
Quanto ao futuro político, garante: “Estou bem assim” e “está fora do horizonte qualquer cargo de natureza política”.
“A minha vida política durou bastante tempo. Fiz 22 anos de vida política, porque comecei muito cedo, aos 28, e terminei aos 50, mas fiz praticamente tudo o que quis fazer. Gosto de dar opiniões, de exercer este meu direito de cidadania, de dar os meus palpites, uns melhores outros piores, e estou bem assim”, conclui.