29 dez, 2016 - 00:00 • Raquel Abecasis (Renascença) e Vítor Costa (Público)
Entrevista a Diogo Lacerda Machado:
O melhor amigo de António Costa e negociador dos executivos em vários dossiês considera que a actual solução governativa do Partido Socialista (PS), com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), Partido Comunista Português (PCP) e Os Verdes (PEV) “tem condições para chegar ao fim da legislatura”.
Em entrevista à Renascença e ao ”Público”, Diogo Lacerda Machado admite que não é imparcial na análise até porque tem “uma admiração incontida” por António Costa, que considera “um extraordinário exemplo de dedicação cívica e um não menos extraordinário exemplo de uma pessoa capaz de fazer”.
Diogo Lacerda Machado aponta, por exemplo, a passagem de António Costa pela Câmara de Lisboa (CML) para justificar a sua confiança na solução de Governo. “Foi eleito em 2007 com uma minoria pequena” e “foi construindo uma boa solução para o município. Com isso foi levando a um reconhecimento crescente, acabando com uma expressiva maioria quando foi reeleito pela segunda vez”.
“Acredito que as pessoas, ao fim de um ano [de Governo] começam claramente a perceber” que António Costa, “não sozinho evidentemente, mas com os outros parceiros deste apoio parlamentar” começou “por mudar o sistema”.
E esta é uma condição a que Lacerda Machado dá muita importância: “Este reingresso de partidos e de conjuntos políticos da maior importância para dentro do sistema foi uma alteração telúrica, uma movimentação das placas tectónicas e é, como se pode ver, uma solução que funciona”.
A alteração no quadro político é ainda mais importante porque, “em primeiro lugar, houve uma alteração significativa no sistema e ela é útil porque, desde há um ano, há uma parte importante dos portugueses que conseguem rever-se também numa solução que lhes parecia interdita. E isso em si mesmo deve-se a António Costa e às suas ideias desde sempre. Ele sempre entendeu que não fazia sentido esta espécie de segregação estranha que havia”.
A solução de Governo “tem condições para chegar ao fim da legislatura”, prossegue Diogo Lacerda Machado, porque tem outra virtude: o trabalho efectuado por 12 economistas antes das eleições onde estava o actual ministro das Finanças.
“Foi um trabalho para demonstrar o que parecia insusceptível de se conseguir”, ou seja, que, mesmo cumprindo o Tratado Orçamental, “havia escolhas de política económica que podiam ser feitas e elas aí estão. E não só estão, como estão a resultar”, assegura o assessor do primeiro-ministro. “Esta é a diferença essencial que permite pensar que faz sentido a continuidade com relativa solidez desta solução”, que inverteu “um ciclo e um programa de regressão social”.
Lacerda Machado sublinha que a ideia de que era preciso diminuir os custos de trabalho para que a economia portuguesa voltasse a ter competitividade não levava a qualquer lado. “Servia o quê?”, interroga. “Felizmente esta solução existe, funciona, e acredito que os fundamentos em que assenta são os que permitem dizer faz sentido imaginar que a legislatura possa chegar até ao fim”, conclui.