07 jan, 2017 - 09:30 • Susana Madureira Martins, em Nova Deli
A aposta nas relações comerciais e políticas com Índia pode ajudar a dar o salto para o tão desejado salto económico português. Quem o diz é o próprio primeiro-ministro, António Costa, recebido este sábado de manhã em Nova Deli, com honras de Estado.
“Tudo ajuda a crescer. Se houver mais investimento ajuda a crescer, se houver mais emprego ajuda a crescer, se exportarmos mais ajuda a crescer, se houver mais procura interna ajuda a crescer e a Índia é um imenso mercado por explorar, tal o grau de incipiência das nossas relações comerciais”, defendeu em declarações aos jornalistas.
Na opinião de António Costa, é preciso revigorar relação comercial ainda incipiente com a Índia.
“Temos restabelecidas relações diplomáticas desde o 25 de Abril, mas a verdade é que ao longo destes 42 anos pouco se efectivou deste relacionamento. Acho que a Índia tem hoje uma nova ambição quanto à sua posição no mundo, é uma das grandes economias à escala global, é a economia que mais está a crescer e acho que estas relações especiais que esta visita quis traduzir da parte da Índia é uma enorme oportunidade para identificar oportunidades e as podermos concretizar”, sustentou.
“Este não é o fim de um caminho, mas um reabrir de um caminho que temos de prosseguir ao longo dos próximos meses e anos”, acrescentou.
“Já nos conhecemos há 500 anos, senhores”
Num seminário sobre a lusofonia, e perante uma plateia de indianos, António Costa falou, este sábado, em português para dizer, com todas as letras, que quer mais investimento da Índia em Portugal.
“E tenho esperança que esta minha visita ajude a relembrar aos empresários indianos que já nos conhecemos há 500 anos e que é talvez a altura de terem uma presença económica mais forte em Portugal”, afirmou.
“Felizmente, a comunidade indiana da diáspora residente em Portugal está excepcionalmente bem inserida e, com excepção do meu caso, que me dediquei à política, a generalidade das outras pessoas de origem indiana que vivem em Portugal são empresários importantes”, prosseguiu.
O primeiro-ministro centrou este primeiro discurso em Nova Deli na importância da língua portuguesa na CPLP e na diversidade e universalismo que a comunidade representa.
“Esta vocação natural [dos portugueses] para derrubar muros e abrir fronteiras é muito importante, especialmente num momento em que no mundo em que vivemos voltou a haver a tentação de erguer muros e fechar as fronteiras que abrimos”, defendeu.
Costa diz-se mesmo responsável pela herança goesa deixada pelo seu pai e por dar continuidade a pontes e relações entre dois países tão distantes como a Índia e Portugal.
Sobre a questão das indemnizações a proprietários luso-descendentes expropriados de casas de família na sequência de uma nova lei indiana António é menos claro e diz que esse é um tema que “está a ser tratado ao nível dos serviços diplomáticos”.
O primeiro-ministro iniciou este sábado uma visita de seis dias à Índia, onde foi recebido no palácio presidencial com honras de chefe de Estado e fez a revista às tropas. Esta manhã, António Costa já visitou o memorial de Ghandi, considerado o pai da nação indiana, onde depositou uma coroa de flores.
Nesta deslocação, a primeira no plano oficial ou de Estado feita por um chefe do Governo português à Índia, António Costa faz-se acompanhar por cinco ministros e outros membros do executivo, que na agenda levam propostas de parceiras económicas em áreas como turismo, ambiente, defesa e cinema.
Costa pisca o olho aos indianos na Grã-Bretanha
No mesmo seminário sobre lusofonia, o primeiro-ministro português deixou uma mensagem aos indianos que vivem no Reino Unido, a propósito do Brexit.
“Queria dizer à comunidade indiana residente no Reino Unido que não tem motivos de preocupação, mas também que há outras portas de ligação e de presença à União Europeia. E para não irmos muito mais longe, e não terem sequer de mudar de fuso horário, Portugal é uma excelente porta para quem quiser permanecer na União Europeia. Temos o privilégio de ter o mesmo fuso horário de Londres e por isso continuarão a sentir-se tão em casa como quando estavam no Reino Unido”, afirmou.
António Costa manifestou-se ainda confiante que o Reino Unido se separará da União de maneira amigável possível e deixou claro que “a União Europeia foi criada antes da adesão do Reino Unido e continuará depois da saída do Reino Unido”.
Fora do programa oficial, o primeiro-ministro vai fazer uma visita privada a familiares que residem em Margão.