16 fev, 2017 - 18:41 • Eunice Lourenço , Graça Franco
José Sócrates “era de facto uma pessoa em que não se podia confiar e não olhava a meios”, escreve Cavaco Silva sobre o antigo-ministro no livro “Quinta-feira e outros dias” que é apresentado esta quinta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Esta citação, em concreto, é feita no capítulo sobre o Orçamento do Estado para 2011, mas sintetiza aquilo que o ex-Presidente vai repetindo ao longo do livro: José Sócrates mentia ao chefe de Estado.
O livro, escrito pelo ex-Presidente que deixou o cargo há menos de um ano, centra-se nas reuniões quinzenais com o primeiro-ministro, que ocorrem geralmente às quintas-feiras.
Na primeira parte, em 14 capítulos, Cavaco Silva faz reflexões sobre si próprio, a sua carreira política, a sua família e os seus colaboradores.
Na parte central, a segunda, em 30 capítulos, conta o que considera serem os principais episódios da sua relação José Sócrates, o primeiro-ministro com que coabitou mais tempo. De Março de 2006 a Junho de 2011, tiveram 188 reuniões semanais das quais Cavaco Silva foi tomando notas nos seus cadernos formato A5 de capa azul.
O balanço dessas quase duas centenas de reuniões é feito por Cavaco Silva no capítulo em que conta os dois últimos encontros com José Sócrates e em que acaba por tecer alguns elogios ao antigo primeiro-ministro.
“Foram, em geral, reuniões de trabalho absolutamente normais e, com poucas excepções, encontros tranquilos e cordiais, em que imperava o respeito mutuo”, escreve Cavaco, acrescentando que Sócrates ia, geralmente, bem preparado para esses encontros e que, “apesar da fama que lhe era atribuída, foram relativamente poucas as vezes em que o primeiro-ministro se exaltou no decorrer das reuniões”.
Cavaco tece ainda outro elogio a Sócrates. “Devo reconhecer que, na definição e execução das políticas económicas e sociais, o primeiro-ministro não se deixou capturar pelo PCP ou pelo BE”, escreve o antigo Presidente, numa crítica implícita à actual situação política.