08 mai, 2017 - 17:14
O primeiro-ministro afirmou, esta segunda-feira, que há um grande interesse do Qatar em investir em Portugal, apontando em concreto a aquisição de activos a partir dos processos de "reestruturações" de empresas e de instituições financeiras nacionais.
António Costa falava aos jornalistas após completar a parte institucional e política da sua visita oficial de 24 horas ao Qatar, depois de ter sido recebido pelo emir, Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, que fará uma visita de Estado a Portugal a 4 e 5 de Julho, e de se ter reunido com o seu homólogo, Abdullah bin Nasser bin Khalifa Al Thani.
"As reuniões desta manhã, que foram sobretudo políticas, visaram preparar essa visita do emir a Portugal e sinalizar quais são as áreas de cooperação económica e de oportunidades de investimento que existem. Foi muito interessante ver o grande interesse que o Qatar tem neste momento em investir em Portugal", declarou o primeiro-ministro.
O interesse dos investidores deste país do Médio Oriente dirige-se sobretudo aos sectores da agricultura, das infraestruturas, e do imobiliário, mas também incide em "reestruturações empresariais e do sistema financeiro".
"Há um conjunto de bens que estão disponíveis, que são investimentos interessantes e em que é útil estarmos a atrair investidores para não estarmos a destruir riqueza, valorizando-os e, por essa forma, colocá-los a contribuírem para o crescimento da nossa economia", especificou António Costa, numa alusão à conhecida estratégia do Qatar de aquisição de activos em países terceiros.
Em relação ao calendário para a concretização de acordos entre os governos de Portugal e do Qatar, Costa respondeu: "Estamos a trabalhar para a que a visita do emir em Julho possa já ser coroada com a concretização de várias destas perspectivas".
O primeiro-ministro defendeu ainda, perante os jornalistas, que a actual conjuntura económica nacional explica em parte o interesse de novos investidores externos.
"Neste momento de viragem da economia portuguesa é muito importante diversificarmos os mercados onde queremos estreitar relações - isto após a China, a Índia e agora o Qatar. É preciso aproveitarmos este momento para atrairmos novos investimentos", acrescentou.
Após o programa institucional, o primeiro-ministro tem esta tarde encontros com a Câmara do Comércio do Qatar e com a Associação Empresarial do Qatar - duas instituições consideradas importantes num país que tem uma economia baseada no petróleo e, sobretudo, no gás, e que procura diversificar as suas áreas de investimento no mercado externo.
Vender dívida a árabes
Noutro plano, o primeiro-ministro referiu que a diversificação dos credores da dívida portuguesa é essencial para reduzir os encargos com juros e colocou os investidores árabes na primeira linha dos objectivos de "gestão activa" da dívida soberana nacional.
Questionado sobre a presença da presidente do IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública), Cristina Casalinho, em Doha (que não tinha sido antes divulgada), o líder do executivo português referiu que o Governo português "está a fazer uma forte aposta na redução dos encargos com a dívida", sendo uma das vias a procura de novos investidores.
"Estamos aqui [no Qatar] a trabalhar com investidores do mundo árabe nessa perspectiva", completou.
No que respeita à gestão da dívida, o primeiro-ministro referiu que, em particular, Portugal está a fazer "um esforço da redução da dívida contraída junto do FMI [Fundo Monetário Internacional], que tem taxas juro muito elevadas".
"Portanto, temos procurado diversificar os nossos credores, de forma a obtermos melhores condições de mercado", justificou.
De acordo com António Costa, a melhor forma de Portugal "reduzir os custos da dívida para o dia-a-dia dos portugueses e de se libertarem recursos para onde é necessário investir passa pela existência de uma gestão activa da dívida".
Também neste objectivo do Governo de diversificar os credores, Costa apontou que o ministro das Finanças, Mário Centeno, esteve recentemente na China, "apresentando aos investidores chineses o quadro de oportunidades" a este nível.