26 jun, 2017 - 14:12 • Henrique Cunha Imagem: PSD
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O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou esta segunda-feira ter conhecimento de casos de pessoas que “puseram termo à vida” por falta de apoio psicológico na sequência dos incêndios de Pedrógão Grande. Porém, pouco depois, nas mesmas declarações aos jornalistas, disse que falou sem confirmar.
Em Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, Pedro Passos Coelho disse não ser necessário aguardar por estudos para garantir que o Estado falhou.
“Não precisamos de aguardar por nenhum estudo, para se perceber que o Estado falhou. E eu quero acrescentar que ainda está a falhar. Dez dias depois ainda está a falhar, porque como digo: eu tenho conhecimento já de vítimas indirectas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, pessoas que em desespero se suicidaram e que não receberam em tempo o apoio psicológico que deveria ter existido”, afirmou.
O líder do PSD afirmou ter conhecimento de pelo menos um suicídio, ocorrido na região, praticado por um familiar de pessoas que morreram no incêndio que deflagrou na semana passada em Pedrógão Grande.
Convidado por um jornalista a especificar sobre que caso ou casos estava a falar, Passos é informado de que não há confirmação. "Não há confirmação?”, questionou. E prosseguiu: “Há pouco deram-nos essa notícia como uma notícia particular, de pessoa até de família. Como deve calcular, não tive muitas dúvidas nessa indicação.”
Noutro momento destas declarações, Passos afirmou: "Há pessoas que estão internadas em consequência de tentativas de suicídio e que até hoje não tiveram o apoio que era devido.”
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, assumiu que foi ele que induziu Passos Coelho em erro.
“A culpa foi minha”, afirma à Renascença. “O que aconteceu foi
simples: correu a informação de que uma pessoa de Vila Facaia que teria perdido
a família se teria suicidado. Eu tomei a informação como fidedigna da parte da
manhã porque foi transmitida na terra onde a pessoa estava a passar o
fim-de-semana com pessoas da aldeia onde ele morava. Entretanto, estive com o doutor
Passos Coelho e transmiti-lhe essa informação como verdadeira. Portanto, induzi-o
em erro, sem querer obviamente, mas o que é certo é que o induzi em erro,
pensando que a informação que me tinham dado era absolutamente verdadeira.”
ARS e autarca negam
O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, independente eleito pelo PSD, diz desconhecer a existência de qualquer caso do género: “Aqui no gabinete de crise (…) não há conhecimento nenhum de suicídios. Há sim é boatos, os mais diversos boatos. E peço às pessoas que não aceitem e corram com os boateiros porque efectivamente graças a Deus não há confirmação nenhuma de suicido”, afirmou à RTP.
O presidente da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) diz que não há, até hoje, "nenhum caso de suicídio com ligação" directa à zona afectada pelo incêndio que começou em Pedrógão Grande.
"Não há, até hoje, nenhum caso de suicídio com ligação a essa zona", disse à agência Lusa o presidente da ARSC, José Tereso, reagindo às declarações do presidente do PSD.
“[Neste momento] não confirmo nenhum caso de suicídio" com ligação directa à zona afectada, reforçou José Tereso.
Costa pede "prudência"
Esta segunda-feira, António Costa afirmou: "Todos se recordam como na semana passada até chegou a ser identificada a nacionalidade de um piloto que teria falecido na queda de um avião, tendo-se depois verificado que, não só nenhum avião caiu, como nenhum piloto faleceu, felizmente. Devemos ser todos muito prudentes nas afirmações que produzimos".
O primeiro-ministro afirmou que vai falar apenas "em função dos dados oficiais que obtiver e não com base em rumores, em notícias avulsas ou com base no diz que disse".
"Temos de falar com muita seriedade, porque estamos a falar da maior tragédia humana que o país alguma vez viveu. Isso exige a todos muita prudência e muita responsabilidade", insistiu o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro defende que as prioridades absolutas são a reconstrução do território atingido e a normalização da vida social, a par do esclarecimento cabal das causas da tragédia.
Indemnizar as famílias
Pedro Passos Coelho exigiu ainda do Governo a aprovação de medidas que visem indemnizar as famílias das vítimas do incêndio de Pedrógão Grande que morreram ou ficaram feridas em espaços públicos.
“O Estado não tomou ainda essa iniciativa”, disse Passos Coelho.
O líder social-democrata realçou a necessidade de o Governo avançar com “um mecanismo relativamente às vítimas à guarda do Estado”, que morreram em “vias públicas”, sobretudo na estrada nacional 236-1, no dia 17 de Junho, onde 47 pessoas perderam vida.
Na sua opinião, poderá o executivo de António Costa aprovar um conjunto de medidas urgentes, tal como aconteceu em 2001, da parte do Governo de António Guterres, na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, sobre o rio Douro, em que morreram mais de 50 pessoas.
Passos Coelho admitiu que, desta vez, seja “um mecanismo mais robusto”, através de um decreto-lei, e sublinhou que “o Estado falhou” na sua obrigação de “garantir a segurança e a vida” dos cidadãos.
“O Estado falhou e ainda está a falhar”, frisou, ao anunciar que, caso o Governo não aprove as referidas medidas, o PSD “não deixará de as recomendar” na Assembleia da República ou de tomar uma “iniciativa legislativa” com esse objectivo.
Cabe ao executivo “evitar que as famílias das vítimas tenham de demandar o Estado em tribunal” a fim de serem indemnizadas.
[Notícia actualizada às 19h05]