13 ago, 2017 - 23:47 • Eunice Lourenço
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, acusou a maioria de esquerda de estar a fazer um ataque à democracia e às revisões constitucionais que libertaram a economia da estatização e de ter uma “cultura de facilitismo” que está a pôr em causa o futuro do país. Nessa "cultura", o líder social-democrata incluiu as alterações à lei da nacionalidade, recentemente aprovadas, e que alteram as regras para as autorizações de residência.
Passos disse que de acordo com essas alterações, “qualquer pessoa” passa a ter autorização de residência em Portugal “desde que arranje uma promessa de poder ter um contrato de trabalho” e “o Estado deixará de ter condições para simplesmente expulsar alguém que, sendo imigrante, possa ter cometido crimes graves contra a sociedade portuguesa”. E deixou no ar a pergunta: “O que vai ser do país seguro que temos sido se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?”
Por isso, continuou Passos, “o PSD mantém-se como um partido que não cede ao facilitismo, que não cede ao radicalismo”, apesar de “haver muita gente que acha que o PSD não devia preocupar-se tanto com o futuro, devia era juntar-se à festa”.
Foi, pois, um Passos Coelho preocupado com o futuro que falou aos cerca de dois mil apoiantes que foram jantar ao Calçadão de Quarteira e que o ouviram traçar o retrato de “um país adiado do ponto de vista estrutural e cativado do ponto de vista orçamental”.
“Geringonça” esgotada
Depois de um início de discurso em que atacou directamente o primeiro-ministro pelas falhas sistema de comunicações de emergência (SIRESP), Passos Coelho atacou a maioria de esquerda, a “geringonça”, como preferiu chamar-lhe ao longo de todo o discurso. “A geringonça vive na cultura dos direitos adquiridos”, no “facilitismo” na educação e na tentativa de regressar a uma economia estatizada como antes das revisões constitucionais de 1982 e de 1989.
E deu como exemplo a lei recentemente vetada pelo Presidente da República, lei essa que pretendia impor a proibição de qualquer concessão da Carris a privados. O PCP já disse que vai insistir na formulação, mas Passos Coelho considera que, em relação a este assunto, pode não chegar uma maioria absoluta para obrigar à promulgação pelo Presidente, porque para o líder do PSD está aqui em causa um princípio constitucional.
“A geringonça está no imobilismo no que respeita ao futuro, está esgotada, porque realmente não deseja alterar nada para o futuro" e denota uma preferência "pela estatização e pela colectivização", querendo ao mesmo tempo "fazer passar a desconfiança sobre aquilo que não domine ou que não venha ao beija-mão".
É uma cultura, continuou, que “destrói a cada passo os progressos democráticos”, pelo que para Passos Coelho “a cultura da geringonça não serve para governar”. O líder do PSD pensa que, a manterem-se as políticas de esquerda, Portugal vai perder uma legislatura.
Esta solução está presa ao presente e agarrada ao passado e o futuro “chega sempre muito depressa”, avisou Passos, que também lembrou que “futuros negros já tiveram no passado origem nos governos socialistas”.
Num discurso que durou quase uma hora e feito a um mês e meio das eleições autárquicas, Passos Coelho quase que não falou dessa batalha eleitoral, limitando-se a, quase a terminar, desejar boa sorte aos candidatos. As eleições de 1 de Outubro são consideradas mais um teste à liderança de Passos Coelho, que terá um congresso do partido no início de 2018. Mas que deixou já este sábado em Quarteira a promessa de, daqui a um ano, voltar à Festa do Pontal.