03 out, 2017 - 13:55 • André Rodrigues
Ângelo Correia diz que a possibilidade de Rui Rio ser candidato e assumir a liderança do PSD lhe "agrada", mas adverte que "pode haver outras pessoas" a avançar, "possivelmente", nomes mais próximos a Passos Coelho.
O antigo ministro e histórico dirigente do PSD diz compreender Passos não se demita de imediato, mas mostra que prefere o afastamento do líder ao defender que, caso se decida pela recandidatura nas próximas directas, "a situação é mais difícil para ele [passos Coelho] e para o partido".
Ângelo Correia defende, ainda, que antes de escolher nomes, "é essencial perceber o que é que o PSD vai ser" e pede, assim, "rigor" e "clareza" para que o partido saiba "o que representa, quem representa e como representa".
Estava à espera do resultado do PSD nas autárquicas, o pior resultado de sempre em eleições autárquicas?
Eu julgava que o resultado ia ser mau. Mas foi pior do que eu pensava.
Passos Coelho tomou a decisão correcta ao não sair de imediato, mas admitindo que pode não se recandidatar à liderança?
Eu estou convencido que ele já tirou ilações. Aliás, Passos Coelho disse-nos duas coisas: primeiro, que assumia responsabilidades, o que é positivo. Em segundo lugar, que não se vai demitir. Ou seja, talvez esteja em cima da mesa uma decisão do género 'eu termino o meu mandato até ao próximo congresso, mas não me candidato a nova liderança'. Se esta for a opinião e a posição de Passos Coelho, é compreensível e é correcta. Se for outra, isso é diferente. No caso de ele querer recandidatar-se à liderança, a situação é mais difícil para ele e para o partido.
Rui Rio tem sido cada vez mais apontado à liderança do PSD, um cenário que parece ganhar redobrada força após o mau resultado autárquico. Teria o seu apoio?
Agrada-me, mas pode não ser o único. Pode haver outras pessoas a candidatar-se.
Oriundas do círculo mais próximo de Passos Coelho?
Possivelmente.
Luís Montenegro, por exemplo?
Não vou fazer comentários sobre situações hipotéticas, mas reconheço que podem existir essas situações hipotéticas. O que esteve em causa nestas eleições não tem a ver unicamente com a liderança unipessoal de Passos Coelho. O que está em causa é o posicionamento, a maneira de fazer política, o pensamento do partido, o que o partido sente sobre o país, como o partido comunica com o país, como o partido representa os cidadãos. Essas são as questões que estão em aberto. Se, nos últimos tempos, elas foram mal desempenhadas, a culpa não é só de Passos Coelho, mas também de quem o secundou e apoiou as decisões do líder.
Do seu ponto de vista, a mudança no PSD não está nas mãos da linha mais próxima da actual liderança. Que outros nomes podem corporizar essa mudança?
Eu acho que, antes do mero nominalismo, é essencial perceber o que é que o PSD vai ser. O partido precisa de ter o rigor suficiente para se definir com clareza, sabendo o que representa, quem representa e como representa. Sem fazer esse exercício, corremos o risco de estarmos à procura de nomes sem resolver o que está verdadeiramente em causa, que é saber o que pensa o partido e o que quer para o país.