13 out, 2017 - 20:22 • Susana Madureira Martins
Este ano, o PCP abandonou a habitual discrição e, à medida que negociava
e conquistava, ia fazendo anúncio dos seus próprios conseguimentos, à semelhança
do que viu acontecer no ano passado com o Bloco de Esquerda (começou logo em
Agosto com o então chamado “imposto Mortágua”).
E o cenário este ano foi este: num dia, os jornalistas ouviam o líder parlamentar comunista, João Oliveira, dizer que já tinha conseguido o aumento de dez euros nas pensões, o aumento da derrama estadual ou ainda a subida do mínimo de existência.
No outro dia, era o Bloco de Esquerda a convocar uma conferência de imprensa para anunciar ter forçado o Governo a vincular mais 3.500 professores em 2018 ou ainda a anunciar que o descongelamento das carreiras na função pública iria mesmo ser feito em dois anos e que as negociações sobre isso estavam mesmo encerradas.
No fim disto tudo, o que sai para a opinião pública é que o Governo cedeu às principais reivindicações da maioria de esquerda parlamentar, que Bloco e PCP saem muito contentes com o que conseguiram, mas altos dirigentes socialistas já vêem mais longe e dizem à Renascença que as decisões mais complicadas em termos de Orçamento já estão tomadas até ao fim de 2018 e que a partir de Dezembro desse ano o PS fica mais solto e mais independente dos parceiros à esquerda. A data é importante, tendo em conta que as eleições europeias e legislativas são ambas em 2019.
Mas não é só à esquerda que o PS vai somando pontos, mesmo que a prazo. Esta semana, a mesma do Orçamento do Estado, foi também a do acordo com o PSD para a escolha dos nomes dos dirigentes dos órgãos eleitos pelo Parlamento: para o provedor de justiça, conselho de fiscalização das secretas ou ainda para a Entidade Reguladora da Comunicação Social. Escolhas que estavam pendentes há meses, com sucessivos adiamentos.
Face a uma liderança nacional do PSD fragilizada e perante a ânsia manifestada pelo novo líder parlamentar social-democrata, Hugo Soares, de desbloquear aquilo que o anterior líder da bancada, Luís Montenegro, não conseguiu, os socialistas conseguiram o pleno, um arco perfeito: fechar a semana com acordos da esquerda à direita.