14 out, 2017 - 13:01 • Susana Madureira Martins
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse, este sábado, em Pedrógão Grande, que Portugal aguarda “as consequências que o Governo irá retirar” do incêndio ocorrido em Junho naquele concelho, que causou a morte 64 pessoas.
“Portugal aguarda com legítima expectativa as consequências que o Governo irá retirar de uma tragédia sem precedentes na nossa história democrática”, disse o chefe de Estado, que intervinha na abertura do primeiro Encontro para a Autoproteção e Resiliência das Populações, organizado pela Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG).
“Portugal tem o dever de proceder a tal avaliação – e de forma rápida – atendendo à dimensão excepcional dos danos pessoais, a começar no maior e mais pungente deles, que é a perda de tantas vidas.”
Para Marcelo, importa aproveitar "por uma vez uma tragédia colectiva para mudarmos de vida e rompermos com aquilo que estrutural ou conjunturalmente esteve mal” no socorro a pessoas e bens, "não minimizando ou banalizando a realidade, não tentando fazer de contas que ela não foi o que foi, antes mobilizando tudo e todos, mas mesmo todos, para tornarmos irrepetível a dor sofrida ou prestarmos tributo aos que choramos, como sobretudo mostrarmos que é nestas horas decisivas que se revela a força da nossa democracia e da sua visão do futuro”.
Marcelo Rebelo de Sousa só não fala em consequências políticas, mas isso está implícito. E faz ainda um convite, puxando os galões de professor catedrático, pedindo uma “rigorosa avaliação dos contornos jurídicos do sucedido – também à luz do conteúdo do relatório – quanto ao enquadramento de acusações e omissões no conceito de culpa funcional, ou funcionamento anómalo ainda que não personalizado, como sabemos, pressuposto de efectivação de responsabilidade civil da administração pública.”
“Não há tempo a perder, ou melhor, já perdemos todos tempo demais”, reforçou Marcelo.
“Falhou tudo”
A presidente da Associação dos Familiares das Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande conclui, com base no relatório, que tudo falhou no dia 17 de Junho. Nadia Piazza fala em incompetência e de falhanço de responsabilidade de várias entidades.
“Falhou toda uma estrutura e resposta naquele dia e naquele pedaço de Portugal. Falhou um estado de coisas e o estado da coisa. Falharam homens e mulheres à frente e atrás das suas responsabilidades. Veio a nu de forma crua e dura, insuportável, a inoperância e incompetência das entidades, daqueles que desesperaram por protecção e socorro”.
Num discurso perante o Presidente da República, Nadia Piazza exige que se peça perdão aos que ficaram e que se assuma o falhanço. “Aqueles 64 ou 65 portugueses desesperaram por socorro, em vão. É a hora, agora, de assumir o que falhou, é a hora, agora, de pedir perdão ao nosso povo que ainda vive. É a hora, agora, de sermos fortes e honrados em nome dos que também foram o nosso povo e agora não estão entre nós. É preciso saber honrar quem se foi, é preciso responder a esse estado de coisas que tomou conta do nosso estado e que vitimou dezenas de portugueses sem protecção e socorro. É hora, agora, de bater no peito, de abraçar a dor e dizer ‘sim, falhei’”.
Viveram-se momentos de emoção no Centro Cultural de Pedrógão Grande, onde à saída o Presidente da República garantiu à população que voltará ao concelho pelo Natal.