24 out, 2017 - 18:44
O Parlamento rejeitou esta terça-feira a moção de censura ao Governo, apresentada pelo CDS. A moção foi rejeitada com os votos contra do PS, PCP, Os Verdes, BE e PAN. A favor votaram PSD e CDS.
A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, responsabilizou o primeiro-ministro, António Costa, pelas falhas do Governo nos incêndios, que mostraram apenas "um político habilidoso" quando o país quando precisava de "um estadista".
"O primeiro-ministro falhou e não o reconheceu, arrepiou caminho vencido, mas não convencido. Os assessores de comunicação e de imagem podem dar uma ajuda, mas não mudam a natureza das pessoas e não lhes dão o estatuto que não têm”, disse.
Na última intervenção no debate, Telmo Correia, do CDS, afirmou: "Lá em fora está um país que não esquece. Este Governo merece censura, este Governo perdeu a confiança do país."
"Incompetência, soberba e insensibilidade"
Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, também criticou a resposta do Governo aos fogos de Pedrógão Grande e de Outubro. Houve "incompetência, soberba e insensibilidade", disse. "O país sabe hoje que tem um primeiro-ministro excelente a dar boas notícias, mas nas horas difíceis, nas horas em que precisa de um chefe de Governo, o senhor está ausente, o senhor falha.”
O PS acusou o CDS-PP de "oportunismo político" pela moção de censura, desafiando Assunção Cristas a assumir as suas responsabilidades pelos anos em que tutelou as áreas da agricultura e do ambiente.
O BE foi mais longe nos adjectivos e considerou a moção "obscena". Apesar de dizer que o Governo estava “impreparado”, Catarina Martins, coordenadora bloquista, lembrou que a moção de censura "é para derrubar o Governo", "não é sobre a dor a indignação de um país que tem tido tanta dor" por causa dos incêndios do Verão e de Outubro, que fizeram mais de 100 mortos.
PCP e Bloco unidos
PCP e Bloco de Esquerda uniram-se nas críticas à líder do CDS e antiga ministra da Agricultura e culparam os anos de "política de direita" nas florestas pela tragédia dos incêndios deste ano.
Nem comunistas nem bloquistas fizeram, no período de intervenções de fundo no debate da moção de censura do CDS, qualquer elogio directo e explícito às medidas de sábado e repetidas esta terça-feira pelo primeiro-ministro, António Costa.
"A tragédia dos incêndios florestais é o resultado de problemas acumulados na floresta portuguesa por décadas de política de direita", acusou o líder parlamentar comunista, João Oliveira, que pôs o PS ao lado do PSD e do CDS nessas políticas.
"Esta moção de censura só comprova o que já sabíamos de quatro anos de experiência: na floresta e nos serviços públicos, as políticas da direita são apenas parte dos problemas", disse o deputado Jorge Costa, do BE.
Utilizar uma moção de censura "como instrumento para os partidos avaliarem se a morte de 100 pessoas é grave, é mais do que desadequado, é obsceno", afirmou.
A deputada do PEV Heloísa Apolónia acusou o CDS-PP de querer "absolver-se a si próprio" das responsabilidades pelas políticas que assumiu na floresta durante o anterior Governo e exigiu ao primeiro-ministro "soluções estruturais".
O deputado único do PAN, André Silva, assumindo divergências com o actual executivo liderado por António Costa, elogiou a postura de "ouvir, dialogar e acolher medidas", mas desafiou o chefe do Governo a adoptar um programa específico de reestruturação da floresta com espécies autóctones à qual o líder socialista se mostrou receptivo, recorrendo a apoios das instituições europeias.