12 jan, 2018 - 00:00 • Eunice Lourenço (Renascença) Sofia Rodrigues (Público)
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Pedro Santana Lopes diz que não quer pôr ninguém na ordem no PSD, ao contrário de Rui Rio, mas quer um partido mobilizado e com ideias claras, princípios e valores claros. Em entrevista à Renascença e ao jornal “Público”, admite um referendo à eutanásia e pondera não dar liberdade de voto como regra, mas só a quem invocar objeção de consciência.
Miguel Relvas, na entrevista à Renascença e ao “Público”, disse que o líder que vencer estas directas tem de vencer as legislativas do próximo ano se não deverá continuar. E até lançou nomes de sucessores como Marques Mendes ou Luís Montenegro. Se Paulo Rangel ou Montenegro tivessem avançado era candidato neste momento?
Não sei responder. Não quero entrar em especulações. A candidatura, segundo a avaliação que fiz na altura, obviamente já não tem nada a ver com o que se passa hoje. Temos dois candidatos e não quero estar a fazer essa volta atrás. Candidatei-me pelo dever que senti. Acho que era candidato de qualquer maneira. Não quero falar desses nomes, entendi que me devia candidatar por aquilo que posso fazer pelo meu país e acho que tenho condições neste momento para o fazer, depois das várias coisas que se passaram pelo país. Senti, costuma dizer-se, um impulso. Foi isso que senti, um impulso por dever. Não foi por ambição, já exerci as funções a que me candidato, independentemente de ter sido por mais ou menos tempo, foi bem ou menos bem. Já as exerci, é mesmo por querer realizar no meu país aquilo que sinto por Portugal.
Acha mesmo que o próximo líder, como acredita que vai ser, está obrigado a ganhar as eleições legislativas ou então fica a prazo?
Não, não. Eu raciocino pela positiva. Venho para ganhar as eleições, estou convencido de que o posso fazer. Os ciclos políticos são muito mais curtos, a erosão do poder é muito grande para quem o exerce. O estado de graça deste Governo já acabou e não volta. No seio da coligação que apoia o Governo as coisas são também diferentes hoje em dia. Esse é o factor do lado de quem está no poder. Do lado da oposição, encerra-se aqui um ciclo com a saída do dr. Pedro Passos Coelho. Quero aproveitar, hoje que foi confirmado que renunciará ao mandato em Fevereiro, para lhe prestar mais um tributo de admiração e consideração pelo trabalho que fez quer no partido quer como primeiro-ministro, expressar gratidão e reconhecimento e dizer que, enquanto presidente do partido, contarei sempre com ele para o projecto que temos para levar por diante consoante for a sua disponibilidade e vontade.
Na reacção à entrevista de Miguel Relvas, Rui Rio disse que irá pôr o partido em ordem, que pessoas como Relvas ficarão “encurraladas num canto” e que mesmo que Santana Lopes ganhe as directas que o ajuda a pôr o partido em ordem. Como é que se põe um partido em ordem?
Quero é pôr o partido a trabalhar muito a lutar muito por aquilo em que acredita. Não quero pôr pessoa nenhuma na ordem. Cada um escolhe dizer o que entende. O dr. Miguel Relvas disse logo no início desta campanha que votaria em mim, mas que não me apoiava. Não quero pôr ninguém na ordem. Quero que o partido tenha regras, princípios, valores. Não quero que o PPD/PSD dê, nas matérias ética, da moral, liberdade de voto constantemente. Tem de ser as suas posições sobre todas essas matérias em que tem havido quase uma ditadura moral da esquerda e em que as pessoas que não pertencem a esse campo político, muitas vezes, se calam. Ou vão por essa desorganização colectiva.
Por exemplo sobre a eutanásia, admite não dar liberdade de voto?
Sim. Verei na altura. A minha posição já disse qual é. É a posição da religião, da Igreja a que procuro pertencer. Se haverá liberdade de voto ou não, o partido tem de participar num grande debate na sociedade portuguesa. Acho que temos de ser claros nessas matérias. Há uma direcção política que procurará que o partido tenha uma posição e quem quiser invocar objecção de consciência, pois, poderá fazê-lo.
Disse que é contra. Rio é um dos subscritores do manifesto que deu origem a este processo. Considera que este é um assunto que deve ser matéria de referendo até porque defende um alargamento do recurso ao referendo?
Não sou revolucionário, sou reformista, gosto da sociedade democrática e de matriz cristã ou católica no país em que vivo. Temos um combate a travar muito sério nessa matéria pela reposição de uma determinada hierarquia de valores que tem estado muito conturbada ou sido agitada de propósito. Eu, de facto, tenho uma posição de princípio favorável ao referendo. Mas veremos na altura. A minha posição é clara. Sou contra [a eutanásia], apesar de reconhecer que é uma matéria muito complexa. Mas nos países em que já foi vertida para a legislação essa possibilidade, a experiência demonstra que temos assistido a muitos abusos, chegamos a casos já inaceitáveis, de depressão psicológica e outros por terem de fundamentar esse caminho da eutanásia. É preciso muita prudência. Todos temos obrigação de, acima de tudo, defender a vida