16 fev, 2018 - 01:23 • Eunice Lourenço
Trabalhador, disciplinado e muito mais bem disposto do que passa para a opinião pública. É este o retrato que Álvaro Castelo Branco, deputado e dirigente do CDS, traça de Rui Rio, com quem colaborou 12 anos na Câmara Municipal do Porto.
“É uma pessoa de muito trabalho. Fazia horários de 12-14 horas por dia, mas é uma pessoa, contrariamente ao que muitas vezes possa transparecer para a opinião pública, muito bem disposta e com grande sentido de humor e também com uma enorme estabilidade. E, portanto, facilita o trabalho a todos aqueles que trabalham com ele”, garante Álvaro Castelo Branco, que foi vice-presidente da câmara e, depois, presidente da Assembleia Municipal do Porto.
Os cargos foram desempenhados no âmbito de uma coligação entre o PSD e o CDS que “funcionou impecavelmente bem”, mas Castelo Branco já conhecia Rio há muito tempo. São amigos há cerca de 40 anos, desde os 15 de idade de Álvaro Castelo Branco, que é quatro anos mais novo que Rui Rio.
Enquanto autarca, Rui Rio chegava todos os dias à câmara “às nove menos 15” em ponto e saia, geralmente, 12 horas depois. Almoçava no próprio gabinete e dizia que tinha de dedicar metade do tempo a gerir uma empresa, que era a Câmara do Porto, e outra metade a fazer a gestão política da autarquia.
Álvaro Castelo Branco reconhece que os primeiros tempos não foram fáceis. “Principalmente nos primeiros anos de mandato, teve algumas... Chamemos-lhes picardias com a comunicação social do Porto, situação que era muito fruto das ruturas que ele tentava fazer no Porto, relativamente ao passado ,que tinham sido 12 anos com outro presidente e câmara”, lembra o dirigente do CDS.
“Mas isso, ao fim de algum tempo, acabou por ser sanado e a situação normalizou, sendo que, por tudo aquilo que assisti, sobretudo nos primeiros tempos, ele agia quase que em legitima defesa”, acrescenta, garantindo que trabalhar com Rio “é extremamente fácil”.
Quanto a obra feita nos 12 anos de autarca, o seu antigo vice-presidente diz que foi “muita”. Tanta que, por vezes, Castelo Branco até vai ver um livro que foi feito sobre o mandato de Rui Rio porque foi “tanta coisa” que tem dificuldade em lembrar-se de tudo.
“A recuperação da Baixa do Porto foi importantíssima para a cidade, foi essa reabilitação que permitiu que o Porto seja a cidade que hoje é, com enorme afluência de pessoas, de turismo externo e interno”, diz Álvaro Castelo Branco, lembrando que, há 15 anos, “não se podia andar na Baixa do Porto à noite, porque, além de estar deserta, era perigoso”.
"Hoje, se for à Baixa do Porto à noite, encontra uma multidão”, remata.
Outra obra que o deputado do CDS destaca é a da recuperação do Mercado do Bom Sucesso, “uma infraestrutura que é essencial ao Porto e emblemática da cidade”. Álvaro Castelo Branco salienta, ainda, na obra do autarca Rui Rio, o viaduto da Prelada, que facilitou o trânsito na cidade, a requalificação da marginal e a reabilitação das praias do Porto, que passaram a ter bandeira azul.
Quanto ao futuro, Álvaro Castelo Branco não parece ter grande esperança de voltarem a trabalhar juntos. Tem, contudo, a certeza de manter “enorme apreço e amizade” pelo novo presidente social-democrata.
“Ele é líder do PSD, eu sou militante do CDS. Desejo-lhe as maiores felicidades nas funções que vai desempenhar, pode ser que nos venhamos a encontrar, pode ser que não, mas isso não impede que continuemos a ser amigos e a jantar de vez em quando juntos. Vamos ver como as coisas correm”, conclui Álvaro Castelo Branco, que será um dos dirigentes do CDS que vão ao encerramento do congresso do PSD, no domingo.
O 37º Congresso social-democrata, que marca a transição da liderança de Pedro Passos Coelho para Rui Rio, começa esta sexta-feira à noite e vai decorrer no Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL). Além da moção de estratégia global de Rui Rio, que ganhou as eleições diretas há mais de um mês a Pedro Santana Lopes, será discutida mais duas dezenas de moções sectoriais, assim como alterações de estatutos.
No domingo de manhã vão ser eleitos os vários órgãos do partido (comissão política, conselho de jurisdição, conselho nacional) pondo, assim, ponto final na transição social-democrata iniciada na noite de 1 de Outubro quando, depois de um mau resultado nas eleições autárquicas, Pedro Passos Coelho anunciou que iria repensar a sua vida.