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Análise

O difícil caminho de Rui Rio

17 fev, 2018 - 01:36 • Eunice Lourenço

Unir o PSD, marcar a diferença com Passos e com Costa e, ao mesmo tempo, fazer pontes com o PS – tudo isto será tarefa do novo líder social-democrata.

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Diz-se muitas vezes que ser líder da oposição é o cargo político mais difícil. Ser líder da oposição nas atuais circunstâncias em que Rui Rio assume a presidência do PSD será ainda mais difícil. E Pedro Passos Coelho, que esta sexta-feira, se despediu do cargo deixou o aviso para essa dificuldade.

“Este é um período que não trará facilidades para o PSD”, disse Passos no seu discurso de despedida, em que reconheceu que “não é fácil bater a geringonça”. E Passos combateu-a até ao fim, nunca se conformando com a ultrapassagem que António Costa lhe fez para chegar à cadeira de primeiro-ministro.

Na sua despedida da liderança, Pedro Passos Coelho optou por não fazer um balanço do passado, dos seus oito anos de presidência do partido e dos quatro anos e meio de Governo. Escolheu manter o combate a um Governo que considera indigno e perigoso e prometeu manter-se como “soldado” desse combate.

Mas, como ele próprio, gracejando, acabou por dizer, o “problema” agora era ele e ele, nesta sexta-feira, deixou de ser o problema. Agora é Rui Rio que tem um “problema” ou uma equação para resolver: como fazer mais e melhor oposição e unir e mobilizar o PSD.

O discurso de Rui Rio também mostrou como o seu caminho é difícil. Primeiro, na circunstância. Discursou logo a seguir a um discurso marcante e galvanizante de Passos Coelho. E, nos primeiros longos minutos de agradecimentos, o congresso começou a perder o entusiasmo, que depois foi recuperando, acabando por aplaudir o novo líder com estrondo e de pé, como convém.

Assim foi no congresso, assim é no partido. Rui Rio – durante anos o candidato adiado – chega à presidência do PSD depois de uma liderança longa e marcante de Passos Coelho. As expectativas estão baixas, agora só pode melhorar. E essa será uma das suas tarefas difíceis: mostrar a diferença com Passos, sem rejeitar o passado recente do PSD.

No longo discurso fez o que lhe era pedido: dizer “não” a um Bloco Central, a um governo de aliança entre PS e PSD. O homem que governou 12 anos a câmara do Porto em coligação com o CDS, mas que se dava bem com António Costa, que era presidente da Câmara de Lisboa, tem colado o rotulo de “Bloco Central”, que recusa, mas deixa as portas abertas ao diálogo.

“Portugal tem um conjunto de estrangulamentos estruturais que nenhum partido está capaz de resolver isoladamente e que condicionam fortemente o seu desenvolvimento. Um partido que põe o país em primeiro lugar é um partido disponível para, em nome do superior interesse nacional, procurar dialogar e resolver com os outros o que sozinho jamais conseguirá com a indispensável eficácia”. Parece óbvio e até de elementar bom senso, mas, nos últimos dois anos, o trauma no PSD com a “geringonça” e a animosidade pessoal entre Passos Coelho e António Costa inquinou toda a possibilidade de diálogo aberto e franco.

Rui Rio terá de refazer essas pontes entre os dois partidos necessários e indispensáveis a consensos importantes e duradouros. Mas, ao mesmo tempo que as refaz, tem de mostrar o que faria diferente do que o Governo está a fazer. Essa será outra grande dificuldade: marcar a diferença para com o PS enquanto se aproxima e tenta fazer caminho para consensos.

A outra grande e difícil tarefa é convencer e unir o PSD, um partido em que só o cheiro a poder funciona como cola. E este PSD, reunido no Centro de Congressos de Lisboa, ainda não está convencido de que o poder esteja ali à esquina de 2019. Rio tentou desvalorizar a meta de 2019, dizendo que é preciso começar a preparar as autárquicas de 2021. Quem é que quer saber agora das câmaras de 2021 quando o objetivo é reconquistar o país em 2019?

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