18 fev, 2018 - 22:14 • Eunice Lourenço
Rui Rio terá duas opções para avaliar o congresso deste fim-de-semana que marcou o início formal da sua liderança do PSD: ignora a realidade e acha que correu muito bem ou enfrenta a realidade e pensa "isto agora só pode melhorar".
E da forma como escolher olhar o congresso pode depender a forma como vai correr o futuro num partido sedento de regresso ao poder e que passou o fim-de-semana em guerrinhas por um bocadinho de poder, sem que ninguém ficasse satisfeito com o resultado final.
O 37.º congresso do PSD teve um permanente ruído de fundo de congressistas a conversar em pé no pavilhão enquanto alguém tentava discursar. O congresso só se sentou para ouvir Pedro Santana Lopes, já perto da meia-noite de sábado. Antes, a meio da tarde, Luís Montenegro também conseguiu captar a atenção do congresso, mas longe do silêncio que se fez para o ex-primeiro-ministro. Todos os outros, mais ou menos conhecidos, figuras como Paulo Rangel, Carlos Moedas, Morais Sarmento e até Jardim tiveram de discursar no meio do barulho de feira que dominou o pavilhão do Centro de Congressos de Lisboa, numa tarde em que as atenções mediáticas também se dividiam com a assembleia-geral do Sporting e o jogo do Benfica. Já para não falar das moções temáticas apresentadas de enfiada na noite de sexta e na manhã de sábado e aprovadas na noite de sábado sem que alguém se preocupasse muito com o que dizem.
A grande questão temática do congresso era se Rui Rio é ou não pró-bloco central. E o novo líder arrumou o assunto logo no discurso inaugural: Governo de Bloco Central não, mas abertura para dialogar e tentar consensos sobre assuntos estruturantes, sim.
Resolvida a questão estratégica, restava a expectativa sobre os nomes que rui rio levaria para a sua direção e a mercearia das listas para o conselho nacional. Santana Lopes ainda ofereceu alguma emoção hesitando nas negociações, mas lá chegaram a acordo. Só que o acordo entre os dois concorrentes das diretas acabou por deixar muitos apoiantes de rio dececionados, pois, tal como ambos acabaram por reconhecer, para haver lugar para alguns não era possível haver lugar para todos.
Quanto à direção escolhida por Rui Rio, tudo previsível e requentado, à exceção da surpresa guardado pelo líder: Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados. Pior que dececionar com a previsibilidade de escolhas como Justino, Morais Sarmento ou Salvador Malheiro foi ter uma surpresa e ela ser negativa. Tão negativa que o congresso assobiou Elina Fraga quando a nova vice-presidente subiu ao palco.
Se para a ex-bastonária houve assobios para os restantes dirigentes houve uma frieza pouco típica dos congressos laranjas. E nem o discurso final do novo líder aqueceu este congresso.
Rui Rio falou dos temas certos - saúde, educação, segurança social, cuidados com os idosos - para a classe média que quer ter como prioridade. E terminou, como era suposto, a dizer que quer ganhar eleições e salvar o país dos erros da esquerda, não conseguiu empolgar um partido que aplaudiu com entusiasmo o único que lá foi avisar que pode querer ser o próximo líder, Luís Montenegro. Posto isto, Rio só pode ver a situação pelo lado positivo: o fim-de-semana foi tão mau que o futuro só pode melhorar.