18 fev, 2018 - 00:59 • Eunice Lourenço , Paula Caeiro Varela
Foi com um discurso de apelo à união e à convergência no essencial que Pedro Santana Lopes, derrotado por Rui Rio nas eleições diretas, subiu ao palco do Centro de Congressos de Lisboa, faltavam poucos minutos para a meia-noite. “Se estivermos unidos no essencial, vamos ser capazes”, afirmou Santana que, no entanto, acabou por ir colocando fasquias, condições e avisos ao adversário de janeiro.
Pedro Santana Lopes fez mesmo um apelo à união e a uma aprovação expressiva da única lista para os órgãos nacional do PSD que não é conjunta: a da Comissão Política Nacional, a direção do partido, que é apresentada apenas por Rio. Para todos os outros órgãos, os dois candidatos às diretas chegaram a acordo para listas conjuntas que refletem a votação que tiveram (46% para Santana, 54% para Rui Rio).
Para dentro uma aprovação expressiva da direção “não é essencial”, mas “para fora tem a sua importância”, pelo que Santana apelou à votação na lista de Rio, mesmo a quem “não goste” de alguns dos nomes. “Este é um momento bom e tem de ser um momento alto”, disse, elevando a fasquia.
No discurso de cerca de meia hora, Santana Lopes foi oscilando entre a unidade e a liberdade, até porque, como disse “divergir não é pecado”. O que ele diz não gostar é do “chico-espertismo” de quem tenta condicionar o líder eleito através de entrevistas ou cartas. Ele, Santana, prefere colocar as suas condições e manifestar as suas divergências cara a cara, no palco do Congresso.
E há várias divergências. “Ele tem as suas prioridades”, disse o antigo primeiro-ministro, enunciando as prioridades de Rio: reformas da justiça, do sistema político, da segurança social. Ele, Santana, teria outras como se percebe pela importância que pretenderia dar à inovação e às políticas sociais.
“Entrego o meu programa para juntares ao teu. (…) Tu ganhaste, tens todo o direito a executar a tua estratégia”, continuou Santana, manifestando também uma divergência quanto à estratégia. O candidato derrotado prefere uma estratégia de diabolização do Governo do PS, mas admite que Rio esteja certo na escolha de uma atitude mais dialogante que talvez evite a concentração do voto útil no PS.
O que interessa, continuou, é que ambos estão unidos no objetivo de ganhar as eleições e na recusa do Bloco Central. Mas também deixou o aviso quanto ao diálogo: não acredita que António Costa aceite propostas do PSD e o PSD não pode dar ao primeiro-ministro o “papel de quem vai bater à porta de quem quer”.
“Temos muita janela para onde ir”, acredita Santana Lopes, questionando como é que os partidos de esquerda apoiam um governo que tem o nível mais baixo de investimento público e que está a colocar em causa o serviço nacional de saúde.
Santana também deixou outro aviso a Rio: “Agora que Pedro Passos Coelho saiu vai ser só qualidades” e Rui Rio é que vai ter defeitos. E ainda um remoque, ainda que tenha dito que não se estava a referir ao novo presidente do PSD: “Alguns de nós vamos dar-te as condições que alguns não deram ao líder anterior a ti.”