08 mar, 2018 - 00:01 • Eunice Lourenço (Renascença) e David Dinis (Público)
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10 a 40% dos empregos que hoje existem vão deixar de existir, diz Adolfo Mesquita Nunes, que quer fazer um programa eleitoral que responda às questões do futuro. Mas o vice-presidente do CDS reconhece, em entrevista à Renascença e ao Público, que há partes da sociedade que não conseguem adaptar-se à globalização sem apoio e não podem ficar de fora.
O Adolfo sairá mandatado do congresso para preparar o programa eleitoral do CDS. Já começou?
Já começámos a preparar as respostas que queremos dar, respostas a que a maior parte dos partidos políticos em Portugal não está a dar. E têm que ver com as profundas transformações que a economia global está a operar na economia portuguesa - e que precisam de uma resposta.
E que questões são essas?
Repare: 10 a 40% dos empregos que hoje existem vão deixar de existir. E estas profundas transformações, que não estão apenas ligadas à robótica nem à inteligência artificial, mas também com transformações ambientais, com as alterações climáticas, com a globalização e os fenómenos geopolíticos, causam muita ansiedade. As pessoas têm medo, têm receio e é preciso dar respostas a essas perguntas. Há duas formas de responder-lhes: uma é dizer aos portugueses que vamos fazer os possíveis para travar a mudança e proteger as pessoas desse mundo global (uma resposta muito típica da esquerda portuguesa); e a de criar condições para que cada um dos portugueses possa ter um papel nesta mudança - e que possa subir na vida nesta economia.
Escreveu esta semana ter fé na globalização. E que a história prova que ninguém tem que perder com ela. É o que distingue a esquerda da direita?
É uma divisão que podemos fazer. O que penso é que o CDS tem de ser o partido melhor apetrechado para governar Portugal nos tempos em que estas mudanças estão a ocorrer. Aos sectores mais dinâmicos e preparados para enfrentar mudança, é apostar na iniciativa privada, em regulação inteligente, em criar condições de competitividade. Mas não nos podemos esquecer dos sectores que não estão preparados para a mudança, ou que, num tempo curto, não vão conseguir fazê-lo. E então é preciso encontrar mecanismos de transição e mobilidade, para que as pessoas possam mudar de emprego, ter formação e que precisam da proteção social nesse período.
Ou seja, é preciso arranjar uma forma de esse otimismo com a globalização não esquecer as desigualdades?
Exato. É, primeiro, reconhecer que num mundo em mudança há partes da sociedade que não conseguirão adaptar-se se não tiverem apoio. Que vão perder o caminho. Devemos atualizar aquele que é o nosso modelo social a estes novos tempos. Atualizar não é no sentido de cortar, mas de reforçar e alargá-lo a outras áreas onde ele não está.
Reforçar o Estado Social, é isso?
Não, nós temos um modelo de Estado Social que tem um conjunto de prestações sociais pensadas para desafios antigos. E, portanto, temos que adaptá-las.
Reforçar umas, tirar outras? Ou pensar num modelo completamente diferente?
Não, também não acho isso. Estamos num momento em que as pessoas vão trabalhar, provavelmente, menos horas, em sua casa, em que vão mudar de emprego muitas vezes e - muitas delas - vão trabalhar por conta própria, e em que muitos dos modelos que temos estão pensados para uma realidade em que as pessoas trabalhavam todas no mesmo sítio. Seria até paradoxal que as pessoas que arriscam mais, que vão ter que mudar de carreiras, fossem as que estão menos protegidas, porque as prestações sociais estão pensadas para modelos diferentes. Portanto, o que eu estou a dizer não é anunciar nenhuma revolução. Não é mudar tudo. É preciso mudar com consenso, com ponderação.