23 abr, 2018 - 00:11 • Eunice Lourenço (Renascença) e David Dinis (Público)
“Não podemos queixar-nos da má qualidade dos políticos e afastar os melhores”, diz o vice do PSD, em entrevista à Renascença e ao Público.
Como é que vê esta ideia do Governo de acabar com um corte salarial extraordinário de 5% nos gabinetes de políticos?
Aí vou ter que dar uma resposta politicamente incorreta. Essa regra foi criada em 2010. E na altura por proposta do então líder do PSD na oposição, Passos Coelho. Era primeiro-ministro José Sócrates, que disse publicamente que era contra a regra de cortar 5% ao salário dos políticos e das pessoas que trabalhavam nos gabinetes dos políticos. Eram ministros, presidentes de câmara, etc. Essa proposta de Passos Coelho foi votada no Conselho Nacional do PSD, uma votação de braço no ar, não foi voto secreto.
Foi uma espécie de moeda de troca para o PSD poder aprovar, depois, o restante corte de salários na função pública.
Era uma condição que Passos Coelho colocava. Bom, fez-se a votação e teve um voto contra, que foi justamente o meu.
Porquê?
Porque eu... eu compreendo o simbolismo da medida, mas não acompanho uma certa histeria anti-políticos e anti-política que agrada muito aos populistas, mas que enfraquece muito a democracia. Nós não podemos, depois, andar a dizer que a nossa vida democrática é pobre quando afastamos os melhores. Eu valorizo a vida política, quero que o serviço público tenha os melhores a defender o bem comum. E para defender os melhores não podemos ter os pior pagos.
Depreendo que apoia...
Nem pergunte: se eu fui contra a medida e votei sozinho contra ela, tenho uma fortíssima convicção de que a medida foi um erro. E fico feliz se for afastada.
E defende que seja alargada aos titulares de cargos públicos, ou seja, aos políticos?
Como compreende, eu por mim acabaria com a medida. Bom, eu estou a dizer-lhe isto com a mesma independência com que votei sozinho contra há oito anos. Até posso estar sozinho no meu partido a defender isto hoje.
Rui Rio disse que concordava com o Governo, Fernando Negrão que não. Pelo que vê, dentro do PSD não será consensual...
Olhe, há oito anos também não foi (risos). E hoje também não é. Mas isto é o que eu penso: nós não podemos queixar-nos da má qualidade dos políticos e afastar os melhores.