10 jun, 2018 - 16:42 • Susana Madureira Martins
A horas de partir para a costa leste dos Estados Unidos, para a segunda parte das comemorações do 10 de Junho em Boston e Providence, Marcelo Rebelo de Sousa deu uma alfinetada implícita ao Presidente Donald Trump, na sequência da imposição das taxas aduaneiras dos Estados Unidos a produtos da União Europeia.
O Presidente da República, que discursava em ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, disse que Portugal abraça “quem chega, migrantes ou refugiados”, sendo um país que procura “pontes, diálogos, entendimentos” e que aqui se prefere “a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras”.
Sem nunca falar das recentes opções da Administração Trump sobre liberdade de circulação e livre comércio, ou mesmo da recusa do presidente norte-americano em assinar o acordo do G7, Marcelo Rebelo de Sousa foi claro ao dizer que essa preferência vai no sentido do “multilateralismo realista” contra “o unilateralismo revivalista”.
Costa põe água na fervura
O primeiro-ministro ouviu o curto discurso de Marcelo Rebelo de Sousa e, questionado pela Renascença se estas declarações ganham ainda mais significado com a deslocação de ambos a Boston e Providence para a segunda parte das comemorações do 10 de Junho, António Costa relativizou a questão.
O primeiro-ministro diz que “o mundo enfrenta desafios que não se imaginava que se voltassem a viver”, como é o caso do “fomento do unilateralismo” e “a forma como se vão criando barreiras à liberdade de comércio e os muros para travar a liberdade de circulação”.
Esses são desafios que, diz António Costa, que se julgavam “enterrados no passado e que afirmam como nunca a importância de reviver o espírito da cultura europeia e aquilo que é também o universalismo próprio dos portugueses”.
E aqui Costa garante que Portugal tem um “enorme contributo a dar” e apela a que não se confunda “o que são as conjunturas dos governos ou dos presidentes que estão em funções aqui ou ali, com aquilo que são os vínculos permanentes e históricos duradouros que existirão sempre entre nós”.
António Costa refere que Portugal foi “o primeiro país neutral que reconheceu os Estados Unidos da América” e que será “sempre o país onde o vinho da Madeira brindou a independência dos Estados Unidos”, ressalvando ainda que há “quase um milhão e meio de portugueses de luso-descendentes” naquele país e que hoje se está “a reinventar essa relação”, destacando os acordos assinados com universidades daquele país.
Qual é o papel da Europa nisto tudo? António Costa responde que “os desafios não são só em relação aos EUA, mas dentro da própria Europa”, dizendo mesmo que “talvez o que seja mais ameaçador é a permeabilidade” que se tem verificado “existir nalguns Estados-membros, alguns desses valores unilateralismo e da quebra de alguma impaciência”, que é preciso gerir.