17 set, 2018 - 19:06 • Eunice Lourenço, em Luanda
O caso Manuel Vicente, que irritou as relações entre Portugal e Angola durante mais de um ano, está completamente ultrapassado e a contento dos dois países. O primeiro-ministro português, António Costa, e o ministro angolano dos Negócios Estrangeiros, Manuel Augusto, encerraram o assunto na baia de Luanda.
Costa passou o dia a dizer que o passado devia ficar no museu, mas sem nunca referir explicitamente este caso. Quando passeava com o “número dois” angolano, ao pôr do sol, na Baia de Luanda, foi questionado explicitamente pela SIC.
“Esse, como eu e o sr. ministro dos Negócios Estrangeiros costumávamos dizer, era um ‘irritante’ que perturbava … está completamente ultrapassado. Tive este ano três encontros com o Presidente João Lourenço e com o sr. ministro Manuel Augusto e deixaram muito claro que as relações políticas eram excelentes, que as relações económicas eram muito boas e depois havia um pequeno ‘irritante’ que estava a complicar a vida e o nível de relacionamento e uma vez ultrapassado”, disse o primeiro-ministro, assumindo que o ‘irritante’ era “irritante para ambos os países na mesma proporção”.
A seu lado Manuel Augusto ia concordando e acabando as frases. E tal como a irritação foi dos dois países também “na mesma proporção foi idêntica a satisfação para todos”.
Quanto a outros possíveis ‘irritantes’ nesta relação que António Costa quer renovar nesta visita, como por exemplo as dividas de entidades e do Estado angolano a empresas portuguesas, o primeiro-ministro prefere desviar para canto e salientar o que está a ser feito para que se chegue a um procedimento para a contabilização e reconhecimento dessas dívidas.
“Tem vindo a ser feito um trabalho de certificação as dividas e, seguramente, havemos encontrar bons caminhos. Os amigos resolvem com amizade os problemas que se colocam e as empresas portuguesas hão de ver as suas dívidas resolvidas”, respondeu António Costa, que passou o dia a querer enterrar o passado e olhar para o futuro.
E de futuro também se tratou na obra do novo centro-materno infantil de Luanda, uma obra de 194 milhões de dólares que está a cargo da empresa portuguesa Casais e à qual o primeiro-ministro espera voltar para a inauguração, já marcada para maio de 2020, ou seja depois das próximas eleições legislativas em Portugal.
O isco foi lançado por Manuel Augusto, o “número dois” angolano que acompanhou Costa durante quase todo o dia. Quando se estavam a colocar para uma foto de grupo, com a ministra da Saúde, os vários governantes portugueses que acompanham a visitas e responsáveis e trabalhadores da obra, Manuel Augusto disse que deveriam repetir a foto na inauguração. Costa disse logo que aceitaria o convite.
“Se me convidarem, virei”, disse o primeiro-ministro. Questionado pela Renascença sobre em que condição conta vir, respondeu sorrindo: “Na condição em que me convidarem. Uma sei de certeza que não virei: a de parturiente.”
O centro materno-infantil pretende vir a ser um hospital de referência na província de Angola, que tem nove milhões de habitantes e apenas uma maternidade. O financiamento da obra ainda está a ser negociado com vários bancos, como assumiu a ministra angolana da Saúde.
A visita àquela obra, na zona Cumama, seguiu-se a um almoço que poderia ser quase um conselho de ministro luso-angolano. O convite para o almoço informal foi feito pelo MNE angolano e participaram os ministros da das finanças, da construção, da Agricultura, do Ensino Superior, da Saúde, da Comunicação Social e da Justiça. E também o secretário de Estado da Cooperação e Comunidades e o governador do Banco de Angola.
Do lado português, além de Costa, estiveram o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, assim como os vários secretários de Estado que acompanham a visita.
O almoço decorreu num restaurante – “O embarcadouro do Mossulo” - e até teve música. Já ao fim da tarde, depois de percorrer boa parte da renovada marginal de Luanda, António Costa diria que foi um almoço tão “substancial” que tinha sido necessária aquela caminhada para o digerir.