14 nov, 2018 - 00:03 • Eunice Lourenço e Ana Sá Lopes (Público)
O líder do PCP considera que “não são claros” os objetivos do CDS com a comissão parlamentar de inquérito a Tancos, que toma posse esta quarta-feira no Parlamento.
“Os objetivos do CDS, para mim, não são claros. O CDS não só pediu a demissão do ministro da Defesa como de um chefe militar, o chefe de Estado Maior do Exército. Isto não é coisa pequena”, disse Jerónimo de Sousa em entrevista à Renascença e ao "Público".
Para Jerónimo de Sousa, o que importa é saber quem roubou as armas e para quê. “Isso é o elemento crucial tanto da investigação criminal como do inquérito parlamentar”, diz o secretário-geral comunista, lamentando que se fale mais de “encobrimentos e cumplicidades” na recuperação das armas do que no furto inicial.
A comissão, proposta pelo CDS, visa, de acordo com o projeto aprovado, “identificar e avaliar os factos, os atos e as omissões do XXI Governo Constitucional relacionados direta ou indiretamente com o furto de armas em Tancos, no período compreendido entre junho de 2017 e o presente, bem como apurar as responsabilidades políticas daí decorrentes”.
As perguntas a que a comissão deve tentar responder ainda terão de ser aprovadas nas suas primeiras reuniões, mas a exposição de motivos do CDS fala em “apurar tudo sobre o caso de Tancos, mas também que permitir uma reflexão e avaliação sobre o funcionamento do Ministério da Defesa Nacional, assim como das formas de articulação entre as Forças Armadas e as diversas Forças e Serviços de Segurança e órgãos de polícia criminal, com tutelas dispersas em vários Ministérios”.
“Nem que fosse descoberto que se tinha feito um piquenique nas instalações, isso seria grave"
“Quais são de facto os objetivos políticos do CDS? Nós não sabemos”, pergunta Jerónimo de Sousa, explicando qual será a atitude do PCP nesta comissão: “É num quadro de procura da verdade, de procura de responsabilidades no plano político e acompanhando a investigação criminal que está em curso que vamos participar na comissão, e decidir que, onde existir responsabilidades, naturalmente isto tem de ter consequências.”
O líder do PCP considera que o furto “foi um acontecimento grave” e que o Presidente da República “partiu da gravidade do episódio” para ter tanta intervenção pública sobre o caso.
“Nem que fosse descoberto que se tinha feito lá um piquenique nas instalações, isso seria grave. Mas estamos a falar de armas, não é coisa pequena. Para quê? Porquê? Quem é que as roubou? O próprio Presidente da República, que é chefe supremo das Forças Armadas, naturalmente, tem de uma opinião e uma palavra, mas também com certeza aguardará esse apuramento da verdade”, afirma Jerónimo de Sousa que, recentemente, disse que o Presidente era “muito prolixo”.
“Não cometo a indelicadeza de achar que é um estilo excessivo. Que é muito mexido é, mas isso pode não ser um mal”, diz agora em entrevista ao programa Hora da Verdade que será publicada na quinta-feira.