29 nov, 2018 - 00:00 • Eunice Lourenço (Renascença) e Helena Pereira (Público)
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Manuel Castro Almeida, vice-presidente do PSD, reconhece que o "ruído" e o clima de "hostilidade" provocado pela guerra de poder dentro do partido está a impedir o líder Rui Rio de fazer passar para a opinião pública as propostas de oposição ao Governo.
Em entrevista à Renascença e ao “Público”, que pode ouvir esta quinta-feira a partir das 12h00, o dirigente social-democrata lamenta que Santana Lopes tenha saído do PSD por meras questões de "poder".
Em abril, depois de assinar dois acordos com o Governo, dizia-nos que a partir daí o PSD tinha de intensificar a oposição ao Governo. Foi isso que o PSD fez?
Manifestamente sim. Há um acentuar de críticas e de formulações alternativas. Basta ver o que se passou com este Orçamento do Estado para 2019. O PSD apresentou mais de 100 propostas alternativas. Apresentámos também soluções concretas sobre o problema demográfico, na área da economia e finanças. É bem certo que não há uma perceção pública das propostas do PSD. Em boa medida porque há um problema que ainda não resolvemos que é de ruído interno que dificulta que as nossas propostas passem. Quando se fala de questões internas, não se fala de oposição.
O que se intensificou, entretanto, foi a polémica interna. Como é que resolverá esse ruído interno?
Vou querer contribuir para que as vozes do partido falem mais sobre o Governo e a alternativa ao Governo do que sobre as questões internas. Mas não vou fugir à questão porque ela é importante. É verdade que hoje há um clima de divisão, de confrontação, de divisão, de hostilidade no interior do partido que é excessivo, não é normal.
Quase como se houvesse um partido na direção e outro no Parlamento.
Há, de facto, um clima de divisão que prejudica a afirmação do partido, faz ruído e não deixa o partido afirmar as suas mensagens. Este problema tem de ser enfrentado e resolvido. Há dois lados de um conflito e isto só se resolve se os dois lados resolverem aproximar-se. Tem de haver um esforço de aproximação de ambas as partes. O primeiro responsável por garantir a unidade do partido é o presidente e a direção. Mas também é necessário que do outro lado haja a aceitação plena dos resultados eleitorais. Ele [Rui Rio] é líder, tem legitimidade, ganhou as eleições. Quando se ganham eleições, há uma legitimidade acrescida.
Identifica esse outro lado com o grupo parlamentar?
Não vou, de maneira nenhuma, invocar nomes de companheiros meus que na maior parte dos casos estimo.
Não está a falar de Miguel Relvas, como dizia David Justino há dias?
Não falo de nenhum nome em particular. Falo de companheiros que não se reveem na actual direção. Têm todo o direito de não se rever, mas têm também o dever de contribuir para que o partido não caia num suicídio coletivo. Isso é o dever de todos. É necessário que haja do outro lado um período de tréguas. Porque se não quem perde é o conjunto do partido.
Mas Rui Rio parece querer afirmar-se pelo confronto e não pela aproximação.
A solução não está na confrontação, mas no diálogo, cooperação entre militantes. Não há no PSD uma fratura ideológica, divisões programáticas. Não há os socialistas e os liberais, não há aqui os inadiáveis. Há pessoas que estiveram na solução ganhadora do congresso e pessoas que não estiveram. Há lutas de poder e afirmações de diferentes estilos e diferentes métodos. Isso torna este processo mais fácil de resolver. Tem é de haver disponibilidade de ambas as partes para o compromisso evitando a confrontação de forma a colocarmos o partido no trilho que nos possa permitir afirmar as nossas propostas.
Não diria então, como o dr. Rui Rio, que quem discorda deve sair do partido?
Rui Rio não disse isso, disse que quem tem divergências estruturais deve sair do partido. Então quem tem divergências estruturais deve entrar no partido? Quem tiver diferenças estruturais deve estar fora evidentemente.
Acha que Santana Lopes teve divergências estruturais e que foi por isso que saiu?
Vejo com pena a sua saída, mas aqui não houve nenhuma diferença estrutural ou ideológica. Foi um problema de disputa de poder. Não teve o poder dentro do PSD, foi procurar uma alternativa que lhe permitisse estar no poder. Não conheço divergências ideológicas.
Como viu o caso das faltas do deputado José Silvano e de outros do PSD? Acha possível que só os deputados do PSD tenham presenças indevidamente marcadas no Parlamento? Ou tudo isto é só luta a intriga interna social-democrata?
Não sei. Só posso dizer que não conheço os factos. Há um inquérito da Procuradoria-Geral da República. Espero que o apuramento dos factos seja breve. Quanto ao princípio, é tudo muito claro: qualquer deputado que falsifique uma presença merece censura. Não há desculpa para uma coisa dessas. Se algum companheiro do meu partido praticou factos que são imputados e que aparentemente não são verdadeiros - estou, aliás, convencido de que não são verdadeiros, no caso, por exemplo, do deputado José Silvano -, era grave.
Há pouco disse que o PSD não pode entrar num caminho de suicídio coletivo. Há já quem fale em riscos de desagregação e implosão. Isso preocupa-o?
Acredito na linha ideológica do PSD. Este partido não pode nunca acabar. É o que tem melhores condições de conduzir o país a um caminho de sucesso, progresso e justiça social e de voltar a tirar Portugal da cauda da Europa. Não estou receoso da extinção do partido. Mas o país merece e precisa ter um PSD forte. Temos de nos organizar internamente. Se não fosse assim, podíamos correr o risco de deixar que o dr. António Costa tivesse uma maioria absoluta nas próximas eleições. Isso seria gravíssimo. Nestes três anos, fomos ultrapassados por três países da União Europeia: a Estónia, Lituânia e Eslováquia. E o dr. António Costa anda todo bem-disposto a achar que tem resultados fantásticos porque o PIB cresceu 2%.