07 mai, 2019 - 09:54 • Paula Caeiro Varela , Eunice Lourenço
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, telefonou aos líderes partidários este fim-de-semana devido à crise política aberta com a ameaça de demissão do Governo por causa da lei sobre a contagem de tempo dos professores.
Marcelo não teve agenda e manteve o silêncio público, mas a Renascença sabe que, ao longo do fim-de-semana, o Presidente telefonou aos principais líderes para deixar clara a sua posição.
Esta posição, que fez muita questão de repetir, é a de que não iria interferir no que considera ser um conflito entre órgãos de soberania - Governo e Parlamento - que ainda não tinha chegado às suas mãos. Mas, ao mesmo tempo, segundo foi dito à Renascença, Marcelo foi também deixando transparecer que estava ao lado do primeiro-ministro na necessidade de garantir a sustentabilidade das contas públicas.
A alguns dos interlocutores, o Presidente da República também foi dizendo que achava que a os partidos à direita - PSD e CDS - tinham caído numa armadilha política da qual tinham de sair rapidamente.
Marcelo não tem agenda nem intervenção pública há cinco dias, desde que chegou da visita oficial à China. Nem quando teve problemas de saúde - como a intervenção cirúrgica a uma hérnia ou o desmaio em Braga - o Presidente esteve tanto tempo em silêncio.
Na sexta-feira, recebeu o primeiro-ministro para a reunião semanal, que costuma ser às quintas. Como na véspera tinha chegado do Oriente, há muito que estava combinado que o encontro seria na sexta.
Contudo, apesar de previamente marcada e combinada, a reunião revestiu-se de outra importância devido aos acontecimentos prévios: a votação de quinta-feira à noite na comissão parlamentar de Educação, com a aprovação por todos os partidos, à exceção do PS, de um decreto que previa a contagem de todo o tempo de serviço congelado aos professores e a reunião de sexta de manhã do grupo de estratégia política que Costa até fez questão de publicitar na sua conta na rede social Instagram.
Depois do encontro em Belém, o primeiro-ministro fez uma comunicação ao país, seguida de conferência de imprensa, em que ameaçou demitir-se caso o decreto fosse aprovado em votação global prevista para dia 15 deste mês.
António Costa fez questão de não colocar pressão sobre o Presidente - que poderia vetar o decreto ou enviá-lo para o Tribunal Constitucional -, fazendo depender a sua decisão apenas do Parlamento.
Marcelo, que muitas vezes acaba por arranjar agenda pública quando quer dizer alguma coisa sobre acontecimentos políticos, não fez o que costuma fazer. Até foi à praia, mas sem produzir declarações públicas. E foi entre idas à praia que foi falando com os líderes dos partidos envolvidos na votação de quinta-feira, dizendo que não era parte neste conflito, que por enquanto era apenas entre Governo e Parlamento, mas também deixando claro de que lado estaria.
Foi já depois dessas conversas que, no domingo, CDS e PSD fizeram as suas declarações de recuo, anunciando que mantinham as suas posições iniciais e que as levariam a votação no plenário do Parlamento como condição para aprovação final do decreto aprovado em comissão.
Na segunda-feira, foi a vez de Bloco de Esquerda e PCP, por comunicados, tornarem claro que não aprovam as condições de PSD e CDS e, consequentemente, não haverá condições para aprovar em votação final o decreto negociado em comissão.
Esta terça-feira, com todos os partidos a voltarem à sua posição de partida e a crise terminada, Marcelo tem, finalmente, agenda pública, ainda que não seja em Portugal. O Presidente está em Nápoles para participar no XII Encontro Cotec Europa, onde também vão estar presentes o rei de Espanha, Felipe VI, e o Presidente italiano, Sergio Mattarella.