14 jun, 2019 - 18:26 • Lusa
Armando Vara afirmou esta sexta-feira, no Parlamento, que projeto turístico de Vale de Lobo, no Algarve, "era um excelente negócio para a Caixa" Geral de Depósitos (CGD), recebeu a luz da administração do banco estatal e lamenta que tenha "corrido mal".
Quanto à participação da Caixa em Vale do Lobo, através da sociedade Wolfpart, o antigo administrador da CGD considerou que seria "uma boa oportunidade" para o banco público, e que "é difícil olhar para o projeto com os olhos de hoje".
"É muito fácil 12 ou 13 anos depois acharmos que aquilo era um disparate. Mas na altura não era assim", afirmou Armando Vara.
"O presidente convocou uma reunião do conselho de administração, onde participaram, se não estou em erro, todos - não me lembro de nenhum que não tenha estado presente -, os promotores apresentaram o projeto, foram feitas as perguntas que toda a gente entendeu. Quanto eles saíram, o conselho só teceu elogios ao projeto e deu luz verde para essa participação, porque foi assim que nós vimos o negócio. Era um excelente negócio para a Caixa. Ainda por cima, havia decisões de administrações anteriores em que davam nota de abrir essa frente de negócio no imobiliário turístico", declarou.
Quem propôs o financiamento?
Armando Vara disse aos deputados que não encaminhou nenhuma proposta de financiamento para o projeto de Vale do Lobo, quando era administrador da Caixa, mas mostrou-se confuso em relação ao responsável. “Há uma certa confusão da minha memória em relação ao que aconteceu primeiro”, disse no Parlamento.
O ex-administrador da CGD garantiu esta sexta-feira que não encaminhou "nenhuma proposta de crédito para o diretor de empresas sul" do banco estatal, mas sim que "reencaminhou um cliente", um procedimento habitual.
"Eu não encaminhei nenhuma proposta de crédito para o diretor de empresas sul. Eu reencaminhei um cliente", disse Armando Vara na sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão à CGD, acrescentando que "um documento daquela natureza era indispensável".
Em 16 de abril, o antigo diretor de empresas sul da CGD Alexandre Santos disse na sua audição que não tinha memória de um caso como Vale do Lobo, em que os administradores apresentaram "dossiers já preparados".
O ex-diretor esclareceu que havia reuniões entre administradores e clientes, em que posteriormente lhe diziam para contactar os clientes, mas que "com dossiers já preparados" não tinha "memória de outro caso".
Hoje, Armando Vara disse que apenas encaminhou "um 'business plan" [plano de negócios]", e que "sempre que recebia coisas de alguém, reencaminhava".
Questionado pela deputada do BE Mariana Mortágua se conseguia quantificar quantos planos reenviava, Vara disse que não tinha "a certeza" de quantos, mas que recebia e enviava "muitas vezes para onde tinha de ser enviado".
Armando Vara admitiu também estar confuso sobre como lhe tinha chegado o dossiê do projeto, se através da direção de empresas sul ou de Rui Horta e Costa, administrador de Vale do Lobo.
"Há uma certa confusão na minha memória sobre o que aconteceu primeiro", confessou Vara.
Mais tarde, questionado pela deputada do CDS-PP Cecília Meireles sobre a questão do sindicato bancário para o financiamento do empreendimento, Armando Vara disse que "a Caixa queria ficar sozinha no projeto", devido também a um torneio de ténis em Vale do Lobo, um "evento de grande importância para o 'marketing' da Caixa".
O antigo administrador da CGD disse no início da sua audição que não iria responder a questões sobre Vale do Lobo, repetindo a mesma afirmação ao longo da sessão parlamentar, mas perante a insistência dos deputados tem respondido a algumas questões sobre o dossiê, que está a ser investigado no âmbito da Operação Marquês.
Armando Vara - que se encontra detido desde janeiro deste ano após condenação no processo Face Oculta - foi nomeado administrador da CGD em 2006, para a equipa presidida por Carlos Santos Ferreira, tendo ambos depois transitado para o BCP em 2008.
O também antigo ministro Adjunto e da Juventude e Desporto do segundo governo de António Guterres é um dos 28 arguidos da Operação Marquês.
Dos arguidos deste processo, foram já ouvidos na comissão parlamentar de inquérito à CGD Joaquim Barroca (ex-administrador do grupo Lena) e Diogo Gaspar Ferreira (ex-administrador de Vale do Lobo).
Em 29 de maio foi dado a conhecer que o ex-primeiro-ministro José Sócrates, também arguido na Operação Marquês, responderá por escrito às questões dos deputados da comissão.
Na Operação Marquês estão também envolvidos Ricardo Salgado, Carlos Santos Silva, Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Bárbara Vara (filha de Armando Vara), Helder Bataglia, Rui Mão de Ferro e Gonçalo Ferreira, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.