04 jul, 2019 - 00:00 • Eunice Lourenço (Renascença) e Ana Fernandes (Público)
Quase a terminar a legislatura, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, confessa uma mágoa: não ter conseguido fazer aprovar o banco de terras. Já tinha tentando no segundo Governo de Guterres e espera que o próximo executivo volte a esta medida para permitir o acesso de jovens agricultores a terras.
Já foi ministro, secretário de Estado e eurodeputado. O que pretende fazer a seguir?
Enquanto cidadão, pretendo continuar a ser um cidadão tão bem comportado quanto possível. Como político, sigo um principio que aprendi quando tive uma má experiência na política. Na política, o horizonte é o dia seguinte. Nenhum político deve fazer planos a mais de 24h porque tudo pode sair furado. Há muitos anos quando houve um governo de coligação entre PS e PSD fui convidado para secretário de Estado, ia ser ministro da Agricultura o eng. Alvaro Barreto. Fui convidado às quatro da tarde e fui desconvidado às 11h da noite. Foi o maior desgosto da minha vida. Pensei abandonar a política, disse mal da humanidade mas aprendi uma lição. Não vale a pena fazer planos. Se amanhã me disserem "A sua função terminou", não aumentarei uma pulsação por minuto no meu coração.
Acha que há condições para o PS melhorar o seu resultado? Gostava que o PS tivesse uma maioria absoluta?
Qualquer partido em eleições luta pelo melhor resultado possível. No limite, e sem que isto queira traduzir-se em alguma vocação totalitária, todos gostariam de ter 100%. É legítimo ao PS assim como a outros partidos lutarem pelo melhor resultado possível. Na contagem de votos, ver-se-á. Gostaria que o PS tivesse um resultado folgado tão amplo quanto possível.
E que lhe permita governar de uma forma mais liberta de constrangimentos como foi nesta legislatura?
É menos constrangedor um Governo que tem uma maioria absoluta do que um Governo que para tomar qualquer decisão tem que permanentemente estar a negociar essas soluções e muitas vezes contornando e torcendo as suas próprias ideias. Nesta experiência governativa na Agricultura as coisas correram muito bem mas houve muitas coisas que foi necessário negociar.
E que gostaria de ter feito diferente se tivesse condições para isso.
Pelo caminho, ficou apenas uma medida importante que até hoje não consigo compreender como houve uma coligação negativa que foi a criação do banco de terras. No programa de governo, tinhamos colocado nesse banco de terras todo o património rústico do Estado disperso por vários ministérios muitos deles com mau uso ou uso pouco apropriado para o distribuirmos por jovens agricultores. O objectivo era criar esse banco, arrendar os terrenos a jovens e ao fim de um comprovado período de boa gestão o Estado podia vendê-lo. Com esse dinheiro era criado um fundo para se comprar novas terras para continuar a alimentar esse banco. Infelizmente, a esquerda e o PSD chumbaram esta proposta. Espero que um futuro Governo possa repô-la porque é da máxima importância para o país. O rejuvenescimento do nosso empresariado é um dos problemas estruturais mais graves que nós temos. É a mágoa que levo deste mandato. É a segunda vez que isto me acontece. Propus o banco de terras no Governo do eng. Guterres, chegou a ser aprovado em Conselho de Ministros mas entretanto o Governo caiu. Vamos ver se da próxima vez é possível. Ficarei expectante que o futuro Governo o consiga pôr finalmente em marcha.