03 out, 2019 - 15:59 • Redação com Lusa
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio lamenta a morte de Diogo Freitas do Amaral, que recorda como "uma figura determinante do regime democrático português", considerando-o "uma personalidade marcante da história portuguesa contemporânea".
Numa nota enviada à comunicação social, Jorge Sampaio recorda "o colega de faculdade de há mais de meio século, colega de profissão, colega das lides políticas, independentemente das opções e convicções de cada um, o jurista eminente, o professor de referência, o internacionalista convicto, um patriota certo e o amigo de sempre".
Sampaio revela-se "especialmente emocionado" com a morte do amigo de longa data, com quem "há cerca de duas semanas" se deveria ter encontrado num almoço de confraternização, em testemunho de uma amizade de muitas décadas feita de admiração, respeito e muita estima mútuas".
O fundador do CDS e ex-ministro Diogo Freitas do Amaral morreu esta quinta-feira, aos 78 anos.
Cavaco elogia "espírito livre" e contributo para democracia pluripartidária
O antigo Presidente da República Cavaco Silva manifestou hoje "enorme tristeza" pela morte do fundador do CDS e antigo ministro Freitas do Amaral, elogiando-o pelo seu "espírito livre" e pelo contributo para uma democracia pluripartidária em Portugal.
"Foi com enorme tristeza que tomei conhecimento da morte do Prof. Diogo Freitas do Amaral, um dos construtores de uma democracia pluripartidária em Portugal. Foi, a par de Mário Soares e de Francisco Sá Carneiro, um defensor convicto de uma democracia de tipo ocidental no pós-25 de Abril", afirma Aníbal Cavaco Silva.
O anterior chefe de Estado lembra Freitas do Amaral como "ilustre académico" e "homem dedicado à causa pública, que desempenhou com grande dignidade e dedicação funções do maior relevo", dirigindo à sua família "uma palavra de profundo pesar", em seu nome e da sua mulher, Maria Cavaco Silva.
Cavaco Silva recorda os tempos em que os dois foram colegas no Governo da Aliança Democrática (AD) presidido por Francisco Sá Carneiro: "Como vice primeiro-ministro, Freitas do Amaral contribuiu ativamente para a execução de uma política coerente de desenvolvimento económico e social do país".
"Foi também notável a sabedoria com que assumiu transitoriamente a chefia do Governo da AD após a morte do líder social-democrata em 1980. Estas circunstâncias levaram-me a defender ativamente a sua candidatura independente às eleições presidenciais de 1986", acrescenta o antigo primeiro-ministro.
Ainda sobre o seu apoio a essa candidatura presidencial, quando liderava o PSD, Cavaco Silva diz que essa decisão se fundou "no reconhecimento de que Freitas do Amaral tinha uma vontade firme de apoiar a concretização de um projeto de mudança para Portugal assente nos princípios da democracia, da libertação da sociedade civil e nos valores fundamentais da justiça social e da solidariedade".
"Manteve-se como um espírito livre e fez questão de sublinhar o seu europeísmo quando, em 1992, então deputado independente, votou a favor da ratificação do Tratado de Maastricht", assinala o ex-Presidente da República.
Cavaco Silva destaca também o facto de Freitas do Amaral ter exercido as funções de presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1995 e 1996, "prestigiando Portugal e demonstrando uma vez mais as suas extraordinárias qualidades políticas e pessoais".
"Personagem singular da democracia", diz Sócrates do seu antigo MNE
O antigo primeiro-ministro José Sócrates, na RTP3, fala do legado de Freitas do Amaral, alguém que, diz Sócrates, “deixou uma marca na história da política portuguesa”, uma marca que “enobrece a democracia”.
“Foi uma personagem singular da democracia portuguesa, não apenas por ser o fundador de um dos partidos [CDS-PP] estruturantes da nossa democracia, mas também porque exerceu funções políticas ao mais alto nível, tanto nacional como internacionalmente”.
Sócrates referia-se, concretamente, ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros que Freitas do Amaral desempenhou no seu executivo. “Testemunhei a sua vasta cultura política. E recordo a sua fidelidade ao projeto europeu. Tinha a cultura humanística dos democratas cristãos, que tanto influenciou o projeto europeu, e essa foi sempre a orientação que seguiu em toda a sua longa carreira política”, lembra.
“Ele era também portador de uma admirável cultura jurídica. E nos momentos especialmente difíceis, fez sempre uma corajosa defesa dos direitos individuais”, concluiu o antigo primeiro-ministro.
Guterres recorda “valiosíssimo contributo” para a democracia
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, expressou hoje pesar pela morte de Diogo Freitas do Amaral, considerando que deixou “uma fortíssima marca” e deu um “valiosíssimo contributo” para a democracia e influência portuguesa.
“Recebi, com profunda tristeza, a notícia da morte do Professor Diogo Feitas do Amaral”, começou por escrever o secretário-geral da ONU numa nota enviada às redações.
António Guterres recordou o percurso político de Freitas do Amaral e o contacto próximo que alimentaram desde o início da democracia em Portugal: “O intenso contacto que mantivemos no Portugal pós-revolução de Abril permitiu-me apreciar, plenamente, o valiosíssimo contributo do Professor Freitas do Amaral para a vida democrática portuguesa e para a nossa integração europeia”.
António Guterres, que em 1995 começava o seu mandato como primeiro-ministro de Portugal quando Diogo Freitas do Amaral presidia à 50.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, escreveu que o fundador do partido CDS e ex-ministro “foi um jurista e académico de renome e um político brilhante, totalmente dedicado à causa pública”.
Freitas do Amaral, “viria a deixar uma fortíssima marca como Presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas, valorizando de forma muito significativa a imagem e influência de Portugal como pude, na altura, constatar como Primeiro-Ministro”, escreveu o atual secretário-geral da ONU.
Em conclusão, Guterres deixou “as mais sinceras condolências” à família de Freitas do Amaral, em especial à sua mulher, Maria Salgado, “neste momento doloroso”.
Durão Barroso recorda "um dos fundadores do sistema político-partidário português”
O antigo primeiro-ministro Durão Barroso destacou hoje Freitas do Amaral como um “distinto académico” e “um dos fundadores do sistema político-partidário português”, recordando o convite que lhe fez para a presidência da Assembleia Geral das Nações Unidas.
“Os meus mais sentidos pêsames à família do professor Diogo Freitas do Amaral , distinto académico e um dos fundadores do sistema político-partidário português”, escreveu o ex-presidente da Comissão Europeia na rede social Twitter.
Entretanto, numa nota enviada à Lusa, Durão Barroso frisa que, após o 25 de Abril, Freitas do Amaral “desempenhou papel de grande relevo na fundação e consolidação do sistema político-partidário português”.
“Europeísta convicto, foi personalidade de grande relevo na vida política nacional”, sublinha.
José Manuel Durão Barroso recordou “especialmente a presidência da Assembleia Geral da ONU”, cuja candidatura foi feita depois de o ter convidado em nome do então primeiro-ministro, Cavaco Silva.
“Recordo também especialmente o seu papel como presidente da 50.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, cargo para o qual aceitou candidatar-se na sequência de convite que lhe dirigi em nome do então Primeiro Ministro Cavaco Silva”, refere ainda o antigo primeiro-ministro Durão Barroso.
Juncker recorda “papel decisivo na democracia em Portugal”
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, enviou as “sinceras condolências” à família do fundador do CDS e antigo ministro Freitas do Amaral, que hoje morreu aos 78 anos, recordando o seu “papel decisivo na democracia em Portugal”.
“Condolências muito sinceras à família do professor Freitas do Amaral. Era um verdadeiro democrata-cristão e teve um papel decisivo na consolidação da democracia em Portugal”, afirma Jean-Claude Juncker numa publicação feita através da sua conta oficial da rede social Twitter.
A publicação, feita em francês, é acompanhada de uma fotografia de Juncker junto a Freitas do Amaral.
Ribeiro e Castro pede "gratidão" por político que "prestou grandes serviços ao pais"
O ex-líder do CDS, José Ribeiro e Castro, diz que os portugueses devem recordar Freitas do Amaral com gratidão. Ribeiro e Castro afirma que Freitas do Amaral “teve um papel determinante na adesão de Portugal à Comunidade Europeia”.
Ouvido pela Renascença o ex-líder centrista defende que devemos recordar Freitas do Amaral "sobretudo com gratidão pelos serviços políticos que prestou”. Ribeiro e Castro diz que Freitas “teve um papel determinante na adesão de Portugal à CEE”, pois “foi no Governo de Sá Carneiro que se reativou o processo que conduziria à integração; um processo que tinha sido desencadeado anos antes pelo Dr. Mário Soares como primeiro-ministro mas depois encalhara com a instabilidade politica que se viveu em Portugal”. Ribeiro e Castro recorda que “foi em 1980 num governo de Sá Carneiro em que Freitas do Amaral era ministro dos negócios estrangeiros que foi reativado de uma forma para nunca mais parar".
Para o ex-líder centrista “é justo estar grato a uma pessoa que prestou grandes serviços ao pais, que teve com certeza atuações controversas; mas é um homem honrado, um homem sério”. Ribeiro e Castro diz que Freitas do Amaral “é um homem de quem nunca se disse nada que tenha o que quer que seja a ver com corrupção, ou perto disso”. Nas palavras do antigo Presidente do CDS, Freitas “foi sempre bastante exemplar na forma de se conduzir e nos valores de civismo que afirmava e que interpretava também ele próprio pessoalmente”.
Ribeiro e Castro recorda o processo de saída de Freitas do Amaral do CDS. Diz que “se afastou do partido e em parte, o partido também o afastou”, mas recorda que Freitas do Amaral foi o fundador do CDS e foi “o presidente do partido que viu a sua sede nacional assaltada e destruída duas vezes. Que viu o primeiro congresso boicotado e os congressistas cercados e impedidos de reunir”.
É altura de fazer uma homenagem, diz Manuel Monteiro
O antigo líder do CDS e fundador da Nova Democracia Manuel Monteiro diz que Freitas do Amaral “ficará sempre recordado como um dos pais da fundação da democracia ocidental” e “uma pessoa que teve um papel muito relevante na adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.
Além disso, prossegue nas declarações à Renascença, o fundador do CDS deverá ser recordado pela coragem demonstrada para votar, em 1976, contra a Constituição da República Portuguesa”.
“Hoje, isto parece banal, mas na verdade o que, na época, foi considerado como um crime contra a revolução e contra a democracia, foi revelador de uma coragem inquestionável, quer sob o ponto de vista político, quer sob o ponto de vista pessoal, que Freitas do Amaral e o partido por si presidido tiveram, defendendo aquilo que mais tarde veio a suceder, com as alterações da própria Constituição”, defende.
Por tudo isto, Manuel Monteiro admite que é altura de fazer uma homenagem a Freitas do Amaral.
“Penso que mesmo que o presente do CDS possa ser distinto em muitos aspetos, não pode nunca esquecer o passado e nós nunca podemos ignorar a história das nossas vidas, das nossas famílias, das instituições e dos países, e nesse sentido honrar o passado significa obviamente homenagear o passado e obviamente homenagear o professor Freitas do Amaral”, sustenta.
Nogueira de Brito diz que Freitas do Amaral "presava a liberdade"
José Nogueira de Brito foi vice-presidente de Freitas do Amaral no CDS. Em declarações à Renascença, o antigo líder parlamentar centrista recorda Freitas do Amaral como um grande português.
"Um grande português. É isso que cabe em primeiro lugar dizer do professor Freitas do Amaral”. Nogueira de Brito recorda que conviveu com Freitas do Amaral, foi seu vice-presidente no CDS e que “ficou desde a primeira hora com uma impressão muito positiva”.
Nogueira de Brito reconhece que "não foi simpática para o partido" a saída de Freitas do Amaral do CDS, mas diz que ela decorre do facto de "colocar em primeiro lugar a liberdade".
"Não foi simpático para o partido, mas eu encaro isso na perspetiva da liberdade. O Freitas do Amaral presava muito esse direito que nasce com o 25 de Abril. E é nessa perspetiva que eu encaro essa saída do partido. Ele faz uma análise fria e desapaixonada e pretende que respeitem esse entendimento. Portanto, ele de facto colocou em primeiro lugar a liberdade e a liberdade fazia-o aceitar essas mudanças de atitude".