21 out, 2019 - 22:48 • Lusa
Meia centena de pessoas concentrou-se esta segunda-feira em frente à Assembleia da República, em Lisboa, numa manifestação antirracista de solidariedade para com a deputada do Livre, Joacine Moreira, alvo de uma petição para não assumir o seu cargo no parlamento.
Numa "organização espontânea" do Coletivo Resistimos, na iniciativa ouviram-se "slogans" como "somos todos filhos de imigrantes. Primeira, segunda, terceira geração" ou "racismo, fascismo, não passarão", numa concentração "antifascista, antirracista contra a homofobia e contra o sexismo".
"Percebemos que havia algumas injúrias e ataques específicos à Joacine que não eram ataques específicos à Joacine, que eram ataques um bocado mais amplos dirigidos individualmente à Joacine", disse à Lusa Bárbara Góis, do Coletivo Resistimos, que tem, essencialmente, pessoas LBGT e imigrantes em Portugal.
Questionada sobre a petição que circula nas redes sociais, já com milhares de assinaturas, para a deputada Joacine Qatar Moreira não assumir o cargo no Parlamento para o qual foi eleita nas últimas legislativas, por ter erguido uma bandeira do seu país natal, Guiné-Bissau, quando soube da eleição, e por ser gaga, Bárbara Góis afirmou que essa atitude "é fruto da desinformação".
"É fruto de desinformação por essa petição ser lançada sobre um repto único de que ela [Joacine] teria atentado contra a Constituição portuguesa ao hastear uma bandeira da Guiné-Bissau, que é a sua terra, durante as comemorações quando soube que tinha sido eleita para o Parlamento", declarou a ativista.
Segundo Bárbara Góis, "viram na Joacine e nas comunidades negras o bode expiatório para a situação das pessoas que trabalham em Portugal, que não é culpa direta dos negros, nem dos ciganos nem do pessoal LGBT".
Bárbara Góis lamentou que a deputada, que esteve ausente da concentração, tenha "sofrido na pele diretamente injúrias, especificamente por ser uma mulher negra", considerando que isso "é fruto do racismo e de uma perspetiva muito colonialista que ainda existe em Portugal".
A título pessoal, mas também como líder do Livre, Rui Tavares deslocou-se junto ao Parlamento para "exprimir a sua solidariedade para com esta causa e também para exprimir gratidão para com os coletivos espontâneos da sociedade civil" chocados "com o tipo de propósitos racistas, insultos e ofensas que, de forma infelizmente bastante numerosa e muito agressiva, choveram contra Joacine Moreira nos dias que se seguiram à sua eleição democrática para a Assembleia da República".
Para Rui Tavares, tratou-se de "exprimir solidariedade contra o racismo larvar que ainda existe na sociedade portuguesa, mas que é possível erradicar".
Quanto à petição, o líder do Livre lamentou e criticou a sua realização, considerando que é subscrita por pessoas que "precisam de aprofundar a sua cultura democrática para entenderem alguém que foi eleito pelo povo".
"A Joacine, tal como o Livre, é alguém que tem defendido os direitos fundamentais, a democracia, o Estado de direito em Portugal, na Europa e no resto do mundo, e, portanto, merece respeito por parte dos cidadãos portugueses", vincou.
Associação Portuguesa de Gagos
“Maior fonte de sofrimento para os gagos são os pr(...)
Renata Chabi, também presente na concentração, disse à Lusa acreditar que "o racismo é estrutural" em Portugal, como o machismo.
Para Renata Chabi, "estas desigualdades sociais" de alguma forma "estão inter-relacionadas".
"Além do mais, para uma mulher negra e ainda gaga, todo este movimento que se criou de apoio, mas também pelo contrário, de oposição não pelo aquilo que são as ideologias da candidata, mas, sim, por aquilo que é e tem como características físicas é uma redução da pessoa àquilo que ela é como embalagem", considerou, acrescentando que "a política portuguesa precisa mais do que isso e precisa mais do que reduzir uma candidata à sua cor da pele, ao seu sexo e à sua gaguez".