14 nov, 2019 - 00:00 • Paula Caeiro Varela (Renascença) e Sofia Rodrigues (Público)
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Luís Montenegro, candidato à liderança do PSD, atribui a derrota do partido nas legislativas por não ter apresentado uma alternativa ao PS. Em entrevista ao “Público” e Renascença (a Hora da Verdade passa esta quinta-feira às 13h00), o ex-líder parlamentar assume que ambiciona uma “maioria absoluta” do PSD "sozinho" no Parlamento.
Propõe-se devolver o “D” ao PSD. O que é que falta ao PSD e o que é que propõe devolver ao partido para poder voltar a ganhar eleições?
Devolver o ‘D’ ao PSD quer dizer dar nova dinâmica, mais determinação e diferença face ao PS. O PSD não pode ser uma espécie de Partido Socialista número dois, uma espécie de bengala sempre à disposição do PS quando este não consegue o apoio do PCP e do BE, que são os parceiros preferenciais de aliança política como está reflectido nos últimos quatro anos e já no início desta governação. Não temos de esperar pelo PS porque o PS não quer governar com as nossas ideias. O país e a democracia precisam de uma alternativa política.
Em que é que se consubstancia essa alternativa?
Em políticas concretas. Na política de transportes, o PSD quer que o cidadão seja bem serviço com qualidade e uma quantidade de serviços disponíveis que assegurem a sua expectativa e necessidade. E o que é que o PS defende? Fruto de um acordo com o PCP a estatização de todo o serviço público de transportes. E qual foi a consequência disso? Desinvestimento, menos composições no metro na travessia do Tejo, pior serviço ao cidadão. De que vale falar dos passes sociais - que são naturalmente uma boa medida - se o serviço não existe? Também posso falar da saúde. Há um estigma que paira no Governo, precisamente pela sua aliança com o BE e PCP, sobre a valorização da complementaridade do sector privado e do sector social. E na economia temos um governo que é rígido na legislação laboral, mas que não tem o arrojo de dar competitividade fiscal às nossas empresas.
Qual é a sua opinião sobre a proposta do Governo para o aumento do salário mínimo?
Espero que se obtenha um acordo dentro da concertação social. Se me pergunta se é viável parece-me que sim, mas as empresas terão de aferir com as centrais sindicais, se o efeito do aumento não provoca uma oscilação nomeadamente ao nível do desemprego. Mas parece que a economia portuguesa tem condições para fazer crescer o salário mínimo. Quanto maior for o crescimento da economia, mais condições terá para que esse aumento seja consistente e duradouro. Mas isso é outro problema que temos em Portugal: o crescimento económico é muito baixo, é muitíssimo baixo para as nossas necessidades.
Se for líder do PSD não faz acordos com o Governo mas não reconhece que existem reformas necessárias para o país - e que o senhor até defendeu em tempos - entre os dois maiores partidos?
Sempre entendi que o país precisava que os dois maiores partidos se entendessem sobre o essencial em quatro ou cinco sectores de actividades. Só que há uma evidência: o PS não quer, não vale a pena insistir num apelo que sai em saco roto. Nós não temos parceiro para as reformas estruturais.
Há abertura para reforma do sistema político...
Há? Eu não conheço. Que eu saiba o PS está longe dessa discussão, mais uma vez está acorrentado ao BE e ao PCP. O PS escolheu os seus parceiros à sua esquerda. Ganhou as eleições, tem o direito de governar, governa com os partidos à esquerda, agora acrescentou também o PAN e o Livre não vá serem precisos mais alguns votinhos. Com essa perspetiva, o PSD tem de se constituir como alternativa ao PS. Este PS não é reformista, este primeiro-ministro é situacionista, só está preocupado com o dia a dia.
Rui Rio tem apostado nisso de forma errada?
Disse sempre que essa estratégia era errada. Não tenho dúvidas nenhumas de que o PSD refém desse discurso de disponibilidade sempre à espera, subalterno ao PS é um PSD que não dá a esperança suficiente para ganhar a confiança da maioria da população. E eu quero ganhar eleições e eu quero uma maioria absoluta de deputados na Assembleia da República para o PSD.
Sozinho? Acha que isso ainda é possível com o PSD sozinho?
Foi com com essa maioria que Portugal viveu o período de maior desenvolvimento social e económica da nossa democracia.
A política mudou muito e a sociedade também... Acha que ainda é possível o PSD ter maiorias absolutas sozinho?
Quem muda a política e a sociedade são os políticos. São aqueles que se propõem no debate político e que conseguem seduzir, conquistar a confiança dos eleitores.
Acha que tem essa capacidade?
Eu estou aqui porque me sinto com essa capacidade e porque sinto que o PSD é uma força grande. Nós temos que saber mobilizar o país.
Estes resultados das legislativas e das europeias mostram que tinha razão em relação à estratégia de Rui Rio ou este resultado é ainda uma penalização pelo governo PSD/CDS?
Com o devido respeito era o que faltava que fosse uma penalização do Governo PSD/CDS. Primeiro porque o julgamento desse governo foi feito em 2015 e com uma vitória eleitoral. Era o que faltava que quatro anos de governação do PS não tivessem um julgamento do que foi o desempenho do PS e da alternativa política que se apresentava. O que disse no congresso e em Janeiro deste ano foi que uma estratégia de subalternização do PSD, uma disponibilidade permanente para o PS, o PS reformista é uma ficção.
O PS tem um processo de descentralização em marcha.
Os autarcas do PS e do PSD, que são a maioria, estão todos contra o processo de descentralização. Os partidos fizeram o acordo, ninguém sabe o que é que o acordo verdadeiramente contempla, e muito menos sabe qual o contributo do PSD...
O acordo é publico...
O PSD caucionou uma reforma que não está a produzir efeitos e que não é do agrado dos seus executantes que são os autarcas. Aí está um bom exemplo do que é a falta de estratégia, o desnorte estratégico do PSD, que teve como resultado duas derrotas históricas.
Acha que se tivesse ganho o desafio das eleições em Janeiro e tivesse liderado o PSD a partir dessa altura tinha conseguido derrotar António Costa?
Acho que era capaz de o conseguir fazer. Sem dúvida.
Apesar de a esquerda e a António Costa em particular ter usado de ter capturado o discurso das contas certas, que prevalecia à direita? Ainda assim era possível ganhar a este PS?
Acho que sim. Nós temos contas certas, e isso é bom mas temos uma factura muito grande para pagar e muito maior do que aquela que estávamos a recuperar o país da troika e da bancarrota. Nós hoje temos contas certas à conta de quê? Da maior carga fiscal de sempre e do maior desinvestimento dos serviços públicos de sempre. É com um Governo de esquerda que os serviços de saúde atingiram o seu pior desempenho de sempre, uma política social desestruturante. Ao mesmo tempo que, ironicamente, o sector privado, atingiu ganhos que nunca tinha atingido noutra legislatura.
Mas as pessoas votaram.
Sempre que o PSD teve um resultado abaixo dos 30%, o PS teve um resultado perto ou acima dos 40%. Tendo o PS obtido, depois de toda a conjuntura externa favorável de que gozou nos últimos quatro anos, 36% dos votos revela o quê? Que as pessoas não acreditam no PS de forma a darem uma maioria confortável. O que falhou foi haver uma alternativa forte, muito clara.
Como é que entende a perspectiva de Rui Rio de que o PSD pode ficar refém de interesses obscuros se outros candidatos ganharem a liderança?
Ele para mim não está a falar de certeza. Porque eu não estou refém de nenhum interesse nem obscuro nem menos obscuro. O meu único interesse é o interesse público e o meu espaço de liberdade é total. Mas é bom que os senhores jornalistas aproveitem as entrevistas para perguntar ao dr. Rui Rio o que é que ele quer dizer com isso e que tenha a coragem de dizer. Não faça insinuações, que diga o que quer dizer com isso. Estou muito à vontade, ele pode dizer o que quiser. Espero que a campanha não seja de insinuações, que seja uma campanha de afirmação de ideias, de condutas, de posturas.