28 jan, 2020 - 18:18 • Redação com Lusa
André Ventura, do Chega, propõe que Joacine Katar Moreira seja “devolvida ao seu país de origem”, declarações polémicas depois de a deputada do Livre ter defendido que o património das ex-colónias em museus seja restituído aos países de origem.
“Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos... inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal!”, escreveu o deputado André Ventura na sua conta na rede social Facebook.
O partido Livre quer que todo o património das ex-colónias, presente em território português, possa ser restituído pelos países de origem de forma a "descolonizar" museus e monumentos estatais, segundo uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2020.
A elaboração da lista do património a ser restituído estaria a cargo de um "grupo de trabalho composto por museólogos, curadores e investigadores científicos".
O Livre repudia as declarações do líder do Chega, André Ventura, mas também do novo presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, sobre a deputada Joacine Katar Moreira.
Esta terça-feira, à saída de uma audiência com o Presidente da República, Francisco Rodrigues dos Santos, que foi eleito no congresso do último fim de semana, disse que "no CDS não existem Joacines”, declarando a sua "confiança inabalável em todos os deputados no CDS".
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"No CDS não existem Joacines, existe um grupo de pessoas que partilham dos mesmos valores, estão sintonizados na mensagem que querem passar para o país", assinalou, referindo-se à crise interna entre a deputada Joacine Katar Moreira e os órgãos do partido.
Perante estas declarações dos líderes do Chega e do CDS, o Grupo de Contacto do Livre refere que "não pode deixar de repudiar veementemente esses ataques e o uso de uma linguagem depreciativa e difamatória, que perpetua estigmas racistas e sexistas na sociedade portuguesa".
Em comunicado enviado às redações, o partido fala em "contínuos ataques de caráter e referências de índole racista por parte de deputados e dirigentes partidários da direita".
"As divergências políticas não podem dar lugar nunca a manifestações discriminatórias, ainda mais por representantes eleitos para a Assembleia da República e por responsáveis políticos e partidários, num Estado de direito democrático assente no pluralismo de expressão, no respeito e garantia de liberdades fundamentais", assinala a direção do partido.
O Livre destaca igualmente que "está e estará sempre na linha da frente no combate a todas as discriminações, e repudia as declarações sexistas e deselegantes de Francisco Rodrigues dos Santos e as palavras deploráveis e racistas de André Ventura, deputado da extrema-direita portuguesa".
Também o presidente do grupo parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, reagiu esta terça-feira às declarações de André Ventura, exigindo de todos os agentes políticos “uma frontal condenação”.
Numa publicação na rede social Twitter, Pedro Filipe Soares considera que a atitude do líder do Chega é uma “expressão de racismo e falta de noção democrática”. E acrescentou: “Este ato exige de todos uma frontal condenação. É isso que proporemos ao Presidente da Assembleia da República e a todos os parlamentares".
A presidente do Departamento das Mulheres Socialistas acusa o deputado do Chega, André Ventura, de "racismo" e de "sexismo", violando os princípios fundamentais da Constituição, ao sugerir a deportação da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira.
Numa mensagem na rede social Facebook, Elza Pais afirma que "há limites para a tolerância".
"Já chega. O comentário de André Ventura à Joacine [Katar-Moreira] propondo que seja devolvida ao seu país de origem é inadmissível num Estado de Direito democrático por violar os princípios fundamentais da Constituição e da democracia", considerou.
Segundo Elza Pais, André Ventura fez "um comentário racista e sexista que não se pode tolerar".
"É um atentado à dignidade de todas e de todos nós, à dignidade da pessoa humana. Absolutamente intolerável", escreveu.
[notícia atualizada às 20h30]