07 fev, 2020 - 22:21 • Eunice Lourenço , Paula Caeiro Varela
O presidente do PSD, Rui Rio, quer recuperar nas eleições autárquicas de 2021, os lugares perdidos pelo partido em 2013 e 2017. Essa foi a meta definida por Rui Rio na abertura do 38º Congresso do PSD, que decorre este fim-de-semana em Viana do Castelo, com o líder do PSD a eleger, claramente, as eleições autárquicas como o momento para aferir o peso do PSD e também a sua liderança.
Em 2009, o PSD tinha a presidência de 138 câmaras, atualmente tem 98, em resultado das eleições autárquicas de 2017, que acabaram por levar à saída de Passos Coelho.
“Temos, em 2021, de recuperar o terreno perdido em 2013 e em 2017. Recuperar presidentes de câmara, mas também vereadores e eleitores de freguesia”, disse Rui Rio no seu discurso de abertura do Congresso, já depois de ter eleito as eleições autárquicas como o principal momento para medir a força do partido.
“A implantação de uma força partidária mede-se, em primeiro lugar, pela dimensão da sua presença nas autarquias locais. Mais do que o número de deputados que consegue eleger para a assembleia da República, é o número de autarcas eleitos que, do ponto de vista estrutural, mede a verdadeira força de um partido na sociedade”, defendeu Rui Rio, num discurso em que elogiou o poder local como o melhor gestor das finanças públicas.
“Foi a administração central que, na sua irresponsabilidade e na sua incompetência endividou Portugal muito para lá dos limites do aceitável”, afirmou Rui Rio, defendendo “a descentralização e a desconcentração” da vida política e administrativa. “As verbas geridas pelas autarquias locais têm hoje uma regulação financeira que obriga ao rigor e ao equilíbrio, enquanto que o Estado central gasta com fraco controlo de gestão e com exagerado recurso à arbitrariedade”, criticou o líder reeleito do PSD.
Em termos eleitorais, Rui Rio também apontou como meta a recuperação da liderança do Governo Regional dos Açores. “É urgente libertar os Açores da lógica socialista que tem vindo a imperar e conseguir eleger um novo governo regional que volta a conduzir os açorianos à senda do progresso e do desenvolvimento”, disse Rui Rio, num discurso que assumiu logo no início que seria mais dirigido ao interior do partido.
Reforço do Conselho Estratégico Nacional
Depois de apontar as metas eleitorais das autárquicas, em 2021, e das regionais dos Açores, já em 2020, Rui Rio dedicou a segunda parte do seu discurso a uma reflexão sobre a organização partidária e a democracia. “Em muitos países da União Europeia democracia representativa vive momentos críticos, com uma evidente fragmentação dos seus sistemas partidários”, disse o líder do PSD, assumindo quer encontra em Portugal “os mesmos sinais de degradação e o mesmo tipo de problemas”.
Entre as causas, encontra a “incapacidade dos partidos tradicionais em lidar com a nova realidade decorrente de fenómenos como a globalização, a revolução tecnologia ou as questões ambientais”, e o “enquistamento” da atividade partidária “decorrente de uma estrutura dirigente que, em lugar de servir o interesse coletivo, se move em demasiadas situações, por meros objetivos de natureza pessoal e, nalguns casos, mesmo por fenómenos de corrupção”.
“Se não formos capazes de ultrapassar o enquistamento e os pequenos e médios interesses pessoais que, hoje, tantas vezes dominam a vida partidária interna, jamais conseguiremos conquistar a credibilidade indispensável para ganhar verdadeiramente o país”, afirmou Rui Rio, num discurso que a sala ouviu com pouca atenção, com um burburinho constante de conversas paralelas.
“Um partido não pode ser uma agência de empregos políticos, em que as suas estruturas se movimentam em função dos lugares que os seus dirigentes pretendem alcançar. Os diferentes posicionamentos dentro e um partido têm de ser ditados por genuínas diferenças de opinião e não por divergências fabricadas que apenas pretendem combater quem não nos deu o lugar que a ambição pessoal reclamava”, prosseguiu o presidente social-democrata que escolheu a dinamização do Conselho Estratégico Nacional (CEN) como o “vetor essencial para a abertura do partido aos portugueses”.
O CEN foi a estrutura criada por Rui Rio no seu primeiro mandato como órgão de aconselhamento e reflexão sobre as várias áreas de governação e tem sido dirigido por David Justino, antigo ministro da Educação. Agora, Rio quer que esse órgão tenha mais funcionamento a nível nacional e uma dupla função: “modernizar e refrescar o partido” e “construir as respostas do PSD as respostas do PSD aos desafios que o país enfrenta”.
“É assim com a elevação intelectual da nossa atividade partidária, que conseguiremos conquistar os portugueses, não é com a discussão de lugares, nem com permanentes atitudes de guerrilha na comunicação social”, continuou Rui Rio, no único momento de ataque indireto aos seus opositores internos.
Crítica ao CDS e conquistas ao centro
Rui Rio também quis fazer, neste primeiro discurso ao Congresso, uma reflexão ideológica e sobre estratégia política. Condenou o que chamou de “politica do ‘bota-abaixo’ e da crítica sem critério nem coerência” e defendeu uma atitude de oposição construtiva e responsável.
“Onde estaria o PSD se tivéssemos fraquejado e tivéssemos seguido o caminho para que nos queriam empurrar? Estaríamos, seguramente, onde outros estão agora e o PS estaria provavelmente sentado em cima de uma maioria absoluta”, atirou Rio, numa crítica implícita ao CDS de Assunção Cristas. Mas que também tem um remoque a Luís Montenegro, seu opositor nas diretas, que defendia uma atitude de oposição mais acutilante.
Quanto ao posicionamento ideológico, Rio defende o PSD como um partido do “centro politico”, que é onde estará a maioria dos eleitores. “O PSD é um partido de ideologia social-democrata. Não somos a direita, nem somos a esquerda. Não somos liberais nem conservadores, assim como não somos socialistas nem estatizantes”, definiu.
“É certo que a ideologia não tem hoje a força nem a importância que tinha há 40 anos, mas despir completamente um partido de qualquer ideologia, é assumir, indiretamente, o populismo e a demagogia como bandeiras estruturantes da sua ação”, reconheceu Rui Rio, para quem o crescimento do PSD depende da sua capacidade de conquistar votos ao centro e mesmo de atrair votantes do PS “que não se revêem na denominada geringonça”. Mas, acima de tudo, “atrair potenciais votantes que se têm abstido".