14 fev, 2020 - 20:52 • Redação
Leia também
A antiga líder do CDS Assunção Cristas defende a realização de um referendo para travar o que apelida de “barbárie” da eutanásia.
A tomada de posição foi divulgada numa mensagem publicada esta sexta-feira na rede social Facebook, intitulada “Cuidem de mim, não me matem”.
Depois da rejeição da eutanásia no Parlamento, em 2018, Assunção Cristas encara com “enorme perplexidade” a “repentina reintrodução do tema” em Portugal.
Assunção Cristas critica a demora na “universalização do acesso aos cuidados paliativos ou a execução prática de um efetivo estatuto do cuidador informal” e estranha a “rapidez” do Parlamento em querer legalizar a eutanásia, “um tema que nem mereceu uma linha nos programas eleitorais dos partidos mais votados”: PS e PSD.
A antiga ministra não compreende a “urgência” em aprovar a eutanásia nem os que se opõem a ouvir os portugueses em referendo sobre “um tema tão estruturante da nossa vida coletiva”.
Em causa, defende, está a forma como a comunidade se quer definir para o futuro. “Queremos ser uma sociedade solidária e compassiva, uma sociedade que cuida sempre dos que mais precisam ou preferimos que cada um se feche na sua esfera de “liberdade” para fazer uma “escolha” definitiva quanto ao momento em quer ser morto por outro? Queremos promover a vida ou impulsionar a morte?”, questiona.
Assunção Cristas defende as pessoas não podem ser "ilhas isoladas numa sociedade", porque "a vida de cada um não interessa apenas a si próprio", não existe direito a morrer e a vida humana está consagrada na Constituição Portuguesa como "inviolável".
"Sob a capa do respeito pela liberdade do outro, o que se propõe é profundamente desumano, porque limita-se a proteção da vida pela sociedade em geral a um certo tipo de vida, deixando de lado a que, em virtude da doença, é mais frágil e menos capaz", alerta.
A antiga líder do CDS considera que aprovar a eutanásia em Portugal é, a prazo, "colocar uma pressão enorme sobre aqueles que estão na situação mais vulnerável para qualquer ser humano: a proximidade da morte. Uma pressão que facilmente levará à imposição moral de pedir a morte".
Assunção Cristas afirma que a sociedade não está perante "ficção científica", mas com uma realidade que já se verifica na Bélgica e na Holanda, "onde hoje se discute a possibilidade, por enquanto, a partir de certa idade, de ter sempre na algibeira um comprimido letal para quem o quiser".
"Quando acharmos que a vida de cada um só a ele diz respeito teremos passado uma fronteira decisiva. Nada de novo. Basta olhar para a história da humanidade. Se for esse o caso, acredito que um dia, talvez daqui a muitos séculos, alguém vai olhar com distanciamento histórico para a barbárie agora iniciada e será então possível retomar o caminho do cuidado inquestionável ao outro", sublinha.
A jurista termina a sua mensagem com um novo apelo ao referendo: "deixem ao menos que as pessoas percebam o que está em causa e se pronunciem, sem pressa e sem pressões".
"Da minha parte, gostava que a sociedade me desse meios para viver até ao fim, sem dor insuportável e acompanhada, não gostava que me oferecesse a morte antecipada como remédio eficiente. Quando esse momento chegar, cuidem de mim, não me matem", conclui Assunção Cristas.